segunda-feira, 31 de agosto de 2020

 J. V. CUNNINGHAM


L'ESPRIT DE GÉOMETRIE ET L'ESPRIT DE FINESSE
  
                                 In anima hominis dominatur violentia rationis.
                                                                                      
                                                                                           St Bonaventure

                                 Qui ne sait que la vue de chats, de rats, l'écrasement d'un
                                 charbon, etc., emportent la raison hors dea gonds?
                                        
                                                                                           Pascal      


    Yes, we are all
    By sense or thought
         Distraught
The violence of season rules
    The subtle Schools;
A falling ember has unhinged Pascal.

    I know such men
    Of wild perceptions.
        Conceptions
Cold as the serpent and as wise
    Have held my eyes:
Their fierce impersonal forms have moved my pen.


      xxxxxxxxxxxxxxxxx 


L'ESPRIT DE GÉOMETRIE ET L'ESPRIT DE FINESSE

                               In anima hominis dominatur violenta rationis.

                                                                                          S. Boaventura

                               Que ne sait que la vue de chats, de rats, l'écrasement d'un
                               charbon, etc. , emportent la raison hors des gonds?

                                                                                          Pascal

   Sim, somos todos
   Pelos sentidos ou pensamento
      Perturbados.
A violência da razão rege
   As Escolas subtis;
Uma brasa a cair desengonçou Pascal.

   Conheço esses homens
   De percepções selvagens.
      Concepções
Frias como a serpente e tão sábias
   Possuíram os meus olhos:
As suas ferozes formas impessoais moveram-me a caneta.

domingo, 30 de agosto de 2020

 DICK DAVIS



  SYNCRETIC AND SECTARIAN

If, unbeguiled by that suspicious wraith
Called Putity, we look with favor on
   The nebulous, syncretic faith
Of Shah Jahan's first-born, unwordly son -

(Translating Hindu scriptures into Persian,
Conviced the saddhu and the sufi were
   Lost brothers squabbling for the version
Of one tremendous truth) we must refer,

As well, to that blunt, younger brother who
- Contemptuous of vapid heresy -
   Was more than eager to pursue
(By fratricide) the wraith of Purity.


       xxxxxxxxxxxxxxxxx


   SINCRÉTICO E SECTÁRIO
 
Se, desiludidos por esse espectro
Chamado Pureza, olhamos favoravelmente
   A fé nebulosa, sincrética,
Do ascético filho primogénito de Shah Jahan -

(A traduzir escrituras hindus para persa,
Convencido que o saddhu e o sufi eram
   Irmãos afastados disputando a versão
De uma verdade tremenda) temos de mencionar,

Também, esse rude irmão mais novo que
- Desdenhoso de heresia insipida -
   Foi mais que determinado em alcançar
(Por fratricídio) o espectro da Pureza.

sábado, 29 de agosto de 2020

 MIGUEL D'ORS


             INTRUSO

Esta sensación, tan repetida, de tener dentro un intruso: un niño
al que le dan azotes varias vezes por semana
(aquella zapatilla con el triángulo de goma -"Wamba Pirelli" - en la suela)
un niño que recebe pocos besos,
ni abrazos que estrujan con su calor, su olor, su palpitácion de pecho;
al que no llevan al cine, ni al fútbol, ni a la playa,
al que los suyos le mienten cuando pregunta que están haciendo unos
    perritos
y en el colegio queda fuera de las conversaciones de su classe;
un niño al que cada noche dejan a solas con todo el enjambre de sus
    preguntas,
y que es pecado fumar,
y que es pecado verse en el espejo al sair de la ducha,
y bailar agarrado, y decir coño, y un bikini.
le da vergüenza todo,
se resiste a ayudar a Misa por miedo a volcar el Cáliz,
le llegan con retraso las canciones de la moda,
oye los chistes verdes de las esquinas, no los entiende
y los ríe, sin embargo, para que nadie se lo note.
Las tardes de domingo regresa solo al patio del colegio
y en aquel cemento pálido lanza tiros libres y tiros libres
contra una canasta que se bambolea rechinando
o sobre su bicicleta da vueltas en círculo hasta que ya anochece.
Está en mí desde entonces, fastidiando mi atroz adolescencia,
estorbando mis estudios, mi universidad, mis salidas con chicas,
mis versos, mi matrimonio, mi trabajo: miguel d'ors.
Es también yo. Ahora mismo
no sé si es él o si soy yo quien habla.

                                                    Madrugada del 16-XII-2012


                 xxxxxxxxxxxxxxxxx


        INTRUSO

Esta sensação, tão repetida, de ter dentro um intruso: uma criança
a que dão palmadas várias vezes por semana
(aquela sapatilha com o triângulo de borracha -"Wamba Pirelli" . na sola),
uma criança que recebe poucos beijos,
ou abraços que esmaguem com o seu calor, o seu cheiro, as suas palpitações;
a quem não levam ao cine, ao futebol, ou à praia,
a quem os seus mentem quando pergunta o que estão fazendo esses cãezinhos
e no colégio fica fora das conversas da sua classe;
uma criança que todas as noites deixaram a só com todo o enxame das suas perguntas,
e que é pecado fumar,
e que é pecado ver-se no espelho, ao sair do duche,
e dançar agarrado, e dizer caraças, e um biquini.
Tudo o envergonha,
resiste a ajudar à Missa por medo a entornar o Cálice,
a quem chegam atrasadas as canções da moda,
ouve as piadas picantes das esquinas, não as entende
e, contudo, ri-se para que ninguém repare.
Nas tardes de domingo regressa sozinho ao pátio do colégio
e naquele cimento pálido faz lançamentos livres e lançamentos livres
contra um cesto que bamboleia guinchando
e em cima da bicicleta dá voltas em círculo até que anoitece.
Está em mim desde então, estragando a a minha atroz adolescência,
estorvando os meus estudos, a minha universidade, as minhas saída com raparigas,
os meus versos, o meu matrimónio, o meu trabalho: miguel d'ors.
É também eu. Agora mesmo
não sei se é ele ou se se sou eu quem fala.

                                                             Madrugada de 16-XII-2012

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

W. H. AUDEN


       THE QUEST


I

Out of its steps our future, through this door
Enigmas, executioners and rules,
Her Majesty ina bad temper or
A red-nosed Fool who makes a fool of fools.

Great persons eye in the twilight for
A pasr it might so carelessly let in,
A widow with a missionary grin,
The foaming inundation at a roar.

We pile our all against it when afraid,
And beat upon its panels  when we die:
By happening to be open once, it made

Enormous Alice see a wonderland
That waited for her in the sunshine and,
Simply by being tiny, made her cry.


IV


No window in his suburb lights that bedroom where
A little fever heard large afternoons at play:
His meadows multiply; that mill, though, is not there
Which went om grinding at the back of love all day.

Nor all this weeping ways through weary wasteshave found
The castle where his Greater Hallows are interned;
For broken bridges halt him, and dark thickets round
Some ruin where an evil heritage was burned.

Could he forget a child's ambition to be old
And institutions where it learned to wash and lie,
He'd tell the truth for which he thinks himself too young.

That everywhere in his horizon, all the sky,
Is now, as always, only waiting to be told
To be his father's house and speak his mother tongue.


XII


Incredulous, he stared at the amused
Official wtiting down his name among
Those whose request to suffer was refused.

The pen ceased scratching: though he came too late
To join the martyrs, there was still a place
Among the tempters for a caustic tongue

To test the resolution of the young
With tales of the small failings of the great,
And shame the eager with ironic praise.

Though mirrors might be hateful for a while,
Women and books would reach his middle age
The fencing wit of an informal style,
To keep the silences at bay and cage
His pacing manias in a wordly smile.



      xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx



   A DEMANDA
    (excertos)


I

Daqui irrompe o futuro, por esta porta,
Enigmas, carrascos e regras,
Sua Alteza de mau humor ou
O Bobo de nariz vermelho que escarnece dos bobos.

Eminências vislumbram-no pelo crepúsculo
Um passado que, por descuido, pode entrar,
Uma viúva com o missionário esgar,
A espuma da inundação a marulhar.

Contra ela nos amontoamos pelo medo
E nas portadas batemos ao morrer;
Estando, uma vez, aberta, permitiu

À enorme Alice ver as maravilhas,
Que no soalheiro por ela esperavam e
Só por ser pequena fizeram-na chorar.


IV

Nenhuma janela, no seu subúrbio, ilumina o quarto onde
Uma febrícula ouviu grandes tardes a jogar;
Abundam os seus prados; contudo, não está lá o moinho
Que todo o dia persistiu moendo no dorso do amor.

Nem todos os caminhos desolados por baldios encontraram
O castelo onde os seus Maiores Santos estão detidos;
Pontes quebradas detiveram-no e bosques escuros, ao redor
De uma ruína onde ardeu herança de malditos.

Se ele pudesse esquecer a ambição infantil de envelhecer
E instituições onde aprendeu a lavar-se e a mentir,
A verdade para que ainda se acha jovem haveria de dizer.

Que por todo o lado no seu horizonte, todo o céu,
Está agora, como sempre, apenas à espera que lhe digam
Para ser a casa do seu pai e falar a sua língua mãe.


XII

Incrédulo, fitou o funcionário
Divertido que regista o seu nome entre
Aqueles a quem o pedido de sofrer foi recusado.

A caneta parou de arranhar; embora atrasado
Para se juntar aos mártires, havia lugar
Entre os tentadores para uma língua cáustica

Que a determinação dos jovens fosse testar
Contando os pequenos insucessos dos maiores
E confundisse zelosos com admiração irónica.

Embora os espelhos possam ser odioso por um momento,
Mulheres e livros ensinariam à sua meia idade
A sábia esgrime de um estilo informal
Que defendesse os silêncios e aprisonasse
Os seus ritmos obsessivos num sorriso mundano.





quinta-feira, 27 de agosto de 2020

 LUCIANO ERBA



    IL BEL PAESE 

Honeste apparenze dei prozii 
insedati sul lago! possedere 
un panama immenso come il vostro 
spostare la torre 
sulla scacchiera gi legno d’ulivo 
e a sera 
additare alle donne il Buonaparte 
nel profile del monte!


      xxxxxxxxxxxxxx


    A BELA TERRA 

Aparições honestas de tios-avôs 
sediados no lago! possuir 
um panamá imenso como o vosso 
deslocar a torre no tabuleiro de oliveira 
e à tarde indicar às senhoras o Buonaparte 
no perfil do monte!

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

       LA COMTESSA DE DIA

(final do séc XII - início do séc XIII)


Estat ai en greu cossirier
per un cavallier qu'ai agut,
e voill sia totz temps saubut
com eu l'ai amat a sobrier;
  ara vei q'ieu sui trahida
car eu non li donei m'amor,
don ai estat en gran error
  en lieig e qand sui vestida.

Ben volria mon cavallier
tener un ser e mos bratz nut,
q'el s'en tengra per ereubut
sol q'a lui fezes cosseillier;
  car plus m'en sui abellida
no fetz Floris de Blanchaflor:
eu l'autrei mon cor e m'amor
  mon sen, mos huoills e ma vida.

Bels amics, aninens e bos,
cora-us tenrai e mon poder?
e que jagues ab vos un ser
e qe-us des un bais amoros!
  Sapchatz, gran talan n'auria
qe-us tengues en luoc del marit,
ab so que m'aguessetz plevit
  de far tot so qu'eu volria.


      xxxxxxxxxxxxx


Tenho estado em grande angústia
por um cavaleiro que tive
e quero, para sempre, que se saiba
como o amei com paixão;
  agora vejo que fui traída,
porque não lhe dei o meu amor,
por isso tenho estado aflita,
  no leito e estando vestida.

Ao meu cavaleiro bem queria
tê-lo nu, uma noite, nos meus braços,
e que ele se desse por feliz
que eu fosse a sua almofada;
  pois estou mais enamorada
que Floris por Brancaflor:
entrego-lhe o meu coração e o meu amor
  o meu senso, os meus olhos e a minha vida.

Belo amigo, amável e bom,
quando vos terei em meu poder?
que dormisse convosco uma noite
e que vos desse um beijo amoroso!
  Sabei que grande desejo tenho
de ter-vos em lugar de marido,
desde que tenha a promessa
  de fazerdes tudo o que eu quiser.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

 GIUSEPPE GIOACHINO BELLI



LA VITA DELL'OMO 


Nove mesi a la puzza; poi in fassciola 
tra sbasciucchi, lattime e llagrimoni: 
poi p'er laccio, in ner crino, e in vesticciola, 
cor torcolo e l'imbraghe pe carzzoni. 

Poi comincia er tormento de la scola, 
l'abbeccé, le frustate, li ggeloni, 
la rosalia, la cacca a la ssediola, 
e un po' de scarlatina e vvormiglioni. 

Poi viè ll'arte, er diggiuno, la fatica, 
la piggione, la carcere, er governo, 
lo spedale, li debbiti, la fica, 

er zol d'istate, la neve d'inverno... 
e pper urtimo, Iddio sce bbenedica, 
viè la Morte, e ffinisce co l'inferno. 

                                            18 Gennaio 1833


    xxxxxxxxxxxxxxxxxxx



A VIDA DO HOMEM 

Nove meses na pança: depois fraldas, 
entre palmadas, mimos e choros: 
depois o laço, o babeiro, o bibe, 
o gorrito e panos por calções. 

Logo começa o tormento da escola, 
o abecedário, as reguadas, as frieiras, 
o sarampo, a caca e o urinol 
e um pouco de escarlatina e varicela. 

Depois o trabalho, o jejum, a fadiga, 
o aluguer, o cárcere, o governo, 
o hospital, as dívidas, a família, 

o sol de verão, a neve de inverno…
 e, por último. Deus bendito, 
vem a Morte e acaba no inferno. 

                                                 18 de Janeiro 1833




LO SPAGGNOLO 

A un Spaggnolo, che ttutt'ar zu' paese 
era uguale c'a Roma, o assai ppiù bello, 
guje, colonne, culiseo, castello, 
palazzi, antichità, ffuntane e chiese, 

io vorze faje un giorno un trucchio bbello 
pe provà dde levajje ste pretese: 
aggnede a la Ritonna, e lli mme prese 
un ber paro de mannole d'aggnello. 

Le metto in d'uno stuccio, e ppoi lo chiamo. 
Dico: "Vedete voi sti du' cojoni? 
Sò li dua soli che ttieneva Adamo". 

A sta bbotta lui parze un po' imbrïaco: 
poi disse: "Questi cqui sò rreliquioni;
 ma ar mi' paese avemos es caraco". 

                                               21 Gennaio 1833


           xxxxxxxxxxxxxxxx



O ESPANHOL 

A um espanhol, que tudo no seu país 
era igual a Roma, ou até mais belo, 
obeliscos, colunas, coliseu, castelo, 
palácios, antiguidades, pontes e igrejas,

 um dia armei um belo embuste, 
para fazer baixar-lhe a crista: 
fui ao Mercado e comprei 
um bom par de tomates de borrego. 

Feito um embrulho, logo o alcancei. 
Digo: "Está a ver estes dois colhões? 
São os dois que Adão tinha". 

Primeiro pareceu atordoado, 
depois disse: "Belas relíquias, 
mas no meu país temos o caralho". 
                 
                                              21 de Janeiro 1833

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

 SERAJI SEGZI (SÉC XIII


Os meus olhos insones
sabem como passo as noites,
que, com relutância, se arrastam
até à primeira luz da aurora.
Na despedida, disseste:
" a morte é tudo o que peço!" -
a morte seria fácil,
a vida é que é difícil.


    xxxxxxxxxxxx


RUMI ( SÉC XIII)

Nas noites que passo contigo,
o amor não me deixa dormir;
nas noites em que estou só,
fico acordado e choro;
contigo ou sem ti
Deus sabe que estou vigil -
mas, atenta, que formas distintas
uma noite insone pode ter!


     xxxxxxxxxxxxx


S'AD GILANI  (SÉC XIII-XIV)

Quanta mais desdita
       pelo teu coração desditoso?
Que maior cárcere
       te dispões a suportar?
Conheces a história do teu coração -
       ergue-te, desperta
do sono desmazelado do amor,
       estás bem melhor acordado.


     xxxxxxxxxxxxxx


ALA'AL - DOWLEH SEMNANI (SÉC XIII-XIV)

Antes alegrar um único coração,
que construir cem casas
por "caridade": antes escravizar
um homem livre com a tua
gentileza, que libertar
mil homens da escravidão.

domingo, 23 de agosto de 2020

 AURORA LUQUE




       TÓPICO


Ya no atrapes el dia - no se deja,
no es tan fácil ser dueña del presente,
persistir en la dicha o detenerla
para el trámite mínimo 
de assignarle palabras.
                                   Y ni al acariciar
las sienes o los pómulos o el pecho
que con furia deseas, cuando la luz parece
palparse con las yemas de los dedos,
estás lejos al fin de los vampiros:
la Utopia, el Vacío, la Memoria.
Amas para escribirlo solamente,
la dicha pede a gritos que un recuerdo
del futuro la abrace y la duplique.
No corras tras el dia. Si no lo acosas puede
que se rienda sumiso
de noche en tu regazo.


          xxxxxxxxxxxxx


   TÓPICO


Já não agarres o dia - ele não deixa,
não é tão fácil ser dono do presente,
persistir na sorte ou detê-la
para o trâmite mínimo
de atribuir-lhe palavras.
                                     E nem ao acariciar
as têmporas, ou as maçãs do rosto, ou o peito,
que com fúria desejas, quando a luz parece
palpar-se com as polpas dos dedos,
estás longe por fim dos vampiros:
a Utopia, o Vazio, a Memória.
Amas somente para escrever,
a sorte pede aos gritos que uma recordação 
do futuro a abrace e duplique.
Não corras atrás do dia. Se não o acossas talvez
se estenda submisso
à noite no teu colo.



 PABLO GARCÍA CASADO


POST COITUM

no podemos seguir así a escondidas pensando
que salgan tus oposiciones que yo me pueda
quedar en el departamento estoy harta joaquín

harta de lo mismo harta harta! harta dices?
yo sí que estoy harto harto de esto de joaquín
ten cuidado de ay así no que me duele de joaquín

cierra las ventanillas que tengo frío de joaquín
date prisa que tengo que llegar temprano a casa
de joaquín ten cuidado que vas a ponerlo

todo perdido


                xxxxxxxxxxxx


POST COITUM

não podemos continuar assim às escondidas pensando
que chegue o teu concurso que eu possa
continuar no departamento estou farta joaquín

farta do mesmo farta farta! farta dizes?
eu é que estou farto farto disto de joaquín
tem cuidado de ai assim não que me dói de joaquín

fecha as janelas que tenho frio de joaquín
apressa-te que tenho de chegar cedo a casa
de joaquín tem cuidado que vais deitar

tudo a perder

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

 JULIO MARTÍNEZ MESANZA



ES PODER UNA TORRE SOBRE ROCAS


                                          a Luis Alberto de Cuenca



Es poder una torre sobre rocas

cuyo interior adornan ricas telas

e inscriptiones de anales y de leyes.

Una torre que guarda los despojos

de solares y eternas dinastías.

Tiene el poder severos escenarios

e implacables sirvientes silenciosos.

Poder arroja infamia sobre el tibio

y no acepta en su guardia a los neutrales.

Tiene la torre normas que el profano

no comprende y desprecia torpemente.

Poder cierra la boca al arbitrista

y hace que el cuerdo abrevie su discurso.

Es poder una torre sobre un yermo

cuyo exterior el tiempo hizo terrible.



      xxxxxxxxxxxxxxxxxx



   É PODER UMA TORRE SOBRE ROCHAS


                                          Para Luis Alberto de Cuenca


                                         

É poder uma torre sobre rochas

cujo interior adornam ricas telas

e inscrições de anais e de leis.

Uma torre que guarda os despojos

de solares e eternas dinastias.

Tem o poder severos cenários

e implacáveis serventes silenciosos.

Poder arroja infâmia sobre o tíbio

e não aceita na sua guarda os neutrais.

Tem a torre normas que o profano

não compreende e despreza torpemente.

Poder fecha a boca ao alvitreiro

e faz com que o prudente abrevie o seu discurso.

É poder uma torre sobre um ermo

cujo exterior o tempo tornou terrível.      

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

 ANTHONY HECHT



   THE SONG OF THE FLEA


Beware of those that flatter;

Likewise beware of those

That would redress the matter

By publishing their woes.

They would corrupt your nature

For their own purposes

And taint God's every creature

With pestilent disease.


Now look you in the mirror

And swear to your own face

It never dealt in error

With pity or with praise.

Swear that there is no Circe,

And swear me, if you can,

That without aid or mercy

You are but your own man.


If you can swear thus nimbly

Then we can end our wars

And join in the assembly

Of jungle predators,

For honestly to thieve

Bespeaks a brotherwood:

Without a "by your leave"

I live upon your blood.



  xxxxxxxxxxxxxx



   A CANÇÃO DA MOSCA


Cuidado com os que lisonjeiam,

Da mesma forma cuidado com aqueles

Que remediaram o assunto

Publicando os seus infortúnios.

Corromperiam a tua natureza

Para propósitos próprios

E manchariam toda a criatura de Deus

Com doença pestilenta.


Agora olha-te no espelho

E jura na tua própria cara

Que ela nunca caiu em erro,

Com piedade ou com louvor.

Jura que não há Circe,

E jura-me. se puderes,

Que sem ajuda ou compaixão

És, por certo, senhor de ti.


Se assim podes jurar de pronto,

Então podemos terminar as nossas guerras

E unir-nos na assembleia

Dos predadores da selva,

Pois roubar honestamente

Solicita uma irmandade:

Sem um "com licença"

Vivo do teu sangue.


 

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

 LUIS ALBERTO DE CUENCA



    AGREDIDA


Bébase esto. Póngase un vestido.

Siento mucho no haber llegado a tiempo.

Se duchará más tarde. Ahora saldremos.

No se toque la cara. No pregunte

nada. ¿Tiene la llave de su armario?

Gracias. Servirá éste. Es amarillo.

¿Le duelen las heridas? Otro trago.

No hay tiempo que perder ¿Puede andar sola?

Vámonos. Pasará. Se lo aseguro.



        xxxxxxxxxxxxxxx



    AGREDIDA


Beba isto. Ponha um vestido.

Sinto muito não ter chegado a tempo.

Tomará duche mais tarde. Agora sairemos.

Não toque na cara. Não pergunte

nada. Tem a chave do seu armário?

Obrigado. Servirá este. É amarelo.

Doem-lhe as feridas? Outro trago.

Não há tempo a perder. Consegue andar sozinha?

Vamos. Passará. Asseguro-lhe.


terça-feira, 11 de agosto de 2020

 BERTRÁN DE BORN


   Ar ve la coindeta sazos

   que arribaran nostras naus

   e venra-l reis galhartz e pro.

   qu'anc lo reis Richartz no fo taus.

Adoncs veirem aur et argen desprendere,

peirieras far destrpar e dissendere

e-ls enemics enchadenar e prendre!


   Ges no-m platz de nostres baros

   qu'an fachs sagramens, no sai quaus!

   Per so n'estaran vergonhos

  con lo lops qu'al latz es enclaus,

quan nostres reis poira mest nos atendre;

qu'estiers nuls d'els no s'en poira defendre

anz diran tuit: "Me no pot hom mesprendere

de nul mal platch, anz mi vuolh a vos rendre".


   Bela m'es pressade blezos

   cobertz de teintz vermelhs e blaus,

  d'entresenhs e de gofanos

  de diversas colors tretaus,

tendas e traps e rics pavilhos tendre,

lanzas frassar, escutz traucar, e fendre

elmes brunitz, e coips donar e prendre

*******************************


   No-m platz companha de basclos

   ni de las putanas venaus.

   Sac d'esterlis e de moutos

   m'es laitz, quan son vengut de fraus.

E maisnadier eschars no-s deuria om entendre

e ric ome, quan son donar vol vendre.

En domn'escharsa no-s deuris om entendre

que per aver pot pleiar et estendre.


   Bo-m sap l'usatges qu'al leos,

   qu'a re vencuda non es maus,

   mas contr'orguolh es orgolhos.

   E-l reis non a baros aitaus,

anz, quan vezon que sos afars es mendre,

ponha chascus cossi-l puocha mespendre.

E no-us cujetz qu'ieu fassa motz a vendre;

mas per ric bar deu om tot jorn contendre!



               xxxxxxxxxxxxx



   Agora chega o alegre momento

   em que arribarão as nossas naus

   e virá o rei galhardo e nobre,

   como nem sequer foi o rei Ricardo.

Então veremos despender ouro e prata,

afrouxar e soltar catapultas,

derrubar muralhas, arrasar e destruir torres,

prender e acorrentar inimigos.


   Não prezo nada os nossos barões,

   que prestaram juramento e não parece!

   Por tal deviam envergomhar-se

   como lobo preso no laço,

quando o nosso rei cumpre as promessas;

então nenhum se poderá defender

e dirão todos: "Ninguém pode acusar-me

de má votade, mas a vós quero render-me".


   Agrada-me o tumulto os brasões,

   cobertos de tintas vermelhas e azuis,

   de senhas e de estandartes

   pintados de várias cores,

que haja tendas e ricos pavilhões,

quebrar de lanças, romper de escudos e fender

elmos brunidos e dar e receber golpes

*****************************


   Não me agrada a companhia de bascos,

   nem de putas venais.  

   Sacos de esterlinas e de dobrões

   desagradam-me se vêm de fraude.

Deveriam enforcar o soldado mesquinho

e o rico, se quer vender generosidade.

Ninguém deveria entender-se com dona avara,

que por dinheiro é vencida e cai.


   Aprovo o costume do leão,   

   que, com o vencido não é mau,

   mas com o orgulhoso tem orgulho.

   O rei não tem barões semelhantes

e quando vêem que a sua força é menor

pugnam todos por enfrentá-lo.

Não crede que as minhas palavras estão à venda,

mas ao lado do nobre rico é que se deve lutar.


   

domingo, 9 de agosto de 2020

 WELDON KEES



  THE SCENE OF THE CRIME


There should have been some witness there, accusing -

Women with angry mouths and burning eyes

To fill the house with unforgiving cries;

But there was only silence for abuse.


There should have been exposure- more than curtains

Drawn, the stairway coiling to the floor

Where no one walked, the sheeted furniture,

And one thin line of light beneath the door.


Walking the stairs to reach the room, a pool

Of blood swam in his thought, a hideous guide

That led him on and vanished in the hall.

There should have been damnation. But, inside,

Only an old man clawed the bed, and drooled,

Whispering, "Murderer!" before he died.



                 xxxxxxxxxxx



Devia ter havido ali alguma testemunha, acusando -

Mulheres com bocas iradas e olhos incendiários

Para encher a casa com gritos sem piedade;

Mas havia apenas silêncio como afronta.


Devia ter havido escândalo- mais que cortinas

Cerradas, a escadaria enrolando sobre o soalho

Onde ninguém caminhava, a mobília coberta por lençóis.

E uma fina linha de luz debaixo da porta.


Subindo as escadas para alcançar o quarto, um lago

De sangue nadou na sua mente, um guia horroroso

Que o conduziu e desapareceu na entrada.

Devia ter havido condenação. Mas, lá dentro,

Apenas um velho agarrava a cama e babava-se,

Murmurando "Assassino!" antes de morrer.





sexta-feira, 7 de agosto de 2020

 VICTOR BOTAS



¿DE QUÉ MODO decírtelo?

¿Compararé tus ojos a las quietas

estrellas de la noche? ¿O, utilizando

resabiadas metáforas de Oriente,

diré que hay en tus labios imposibles

y blancas margueritas, que tu talle

es una esbelta palma? Mentiría

de una manera estúpida: bien sabes

que eres poquita cosa y, desde luego,

nada del otro mundo. Sin embargo,

cuando no logro verte, algo me pasa

que no puedo aguantarme ni yo mismo.



              xxxxxxxxxxxx



DE QUE FORMA dizer-to?

Comparei os teus olhos às quietas

estrelas da noite? Ou, utilizando

metáforas rançosas do Oriente,

direi que há nos teus lábios impossíveis 

e brancas margaridas, que a tua cintura

é uma palmeira esbelta? Mentiria

de uma maneira estúpida: bem sabes

que és coisa de pouco e, desde logo,

nada do outro mundo. Contudo,

quando não posso ver-te, algo se passa

que nem a mim próprio consigo aguentar.










quinta-feira, 6 de agosto de 2020

J. V. CUNNINGHAM


  MONTANA PASTORAL

I am no shepherd of a child's surmises.
I have seen fear when the coiled serpent rises,

Thirst were the grasses burn in early May
And thistle, mustard, and the wild oat stay.

There is dust in the air. I saw in the heat
Grasshoppers busy in the threshing wheat.

So to this hour. Through the warm dusk I drove
To blizzards siting on the hissing stove.

And found no images of pastoral will,
But fear, thirst, hunger, and this huddled chill.


                    xxxxxxxxxx


  PASTORAL DE MONTANA

Não sou pastor das suspeitas de uma criança.
Vi medo onde a serpente enroscada se levanta,

Sede onde pastagens ardem no início de Maio
E resistem cardo, mostardeira, cevada bravia.

Há poeira no ar. Vi na calma
Gafanhotos atarefados no trigo malhado.

Até esta hora. Conduzi pelo crepúsculo cálido
Até tempestades peneiradas no assobio da estufa,

E não encontrei imagens de intenção pastoril,
Apenas medo, sede, fome e esta criança atrapalhada.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

DICK DAVIS


  THE CITY OF ORANGE TREES

"The city filled with orange trees
Is lost", which, interpreted, meant
All conpiscuous luxuries
Augur ruinous punishment.

This fitted all he knew. The zeal
For conwuest, prayer, decays; the child
Mocks pieties he cannot feel
And children's children are beguiled

By comfort, gardens, literature.
Aesthtics haze them, safe lives
Grow lax and soon they can endure
No one but slaves, musicians, wives...

Till to degeneracy the Lord
Send one who, like their forbearers, spurns
Mere taste as mannered cant. The sword
Falls and the plundered city burns.


        *    *     *


Heir to three generations' learning,
He closed his book, his masterpiece,
Silk rustled as he rose, turning,
Ready to parley now for peace

With one beyond the city gate
Who, barbarous, impatient, vain,
No vows or presents could placate -
The world-conqueror, Tamburlaine.


              xxxxxxxxxxx


   A CIDADE DAS LARANJEIRAS

"A cidade repleta de laranjeiras
Está perdida", o que, bem entendido, significava
Que todas as luxúrias conspícuas
Auguram castigos ruinosos.

Isto adequava-se ao que sabia. O zelo
Por conquista, oração, decai; a criança
Zomba das devoções que não sente
E crianças das crianças são iludidas

Por conforto, jardins, literatura.
A estética aturde-as, vidas seguras
Tornam-se negligentes e em breve só podem
Suportar escravos, músicos, cônjuges...

Até que para a decadência o Senhor 
Envia quem, como os seus antepassados, desdenha
O gosto vulgar como lugar-comum amaneirado. A espada
Cai e a cidade saqueada fica a arder.


              *      *     *

Herdeiro da sabedoria de três gerações,
Fechou o seu livro, a sua obra-prima.
O roçagar da seda quando se levanta, rodando,
Pronto a negociar, agora, a paz.

Com alguém para lá da porta da cidade
Que, bárbaro, impaciente, frívolo,
Nem promessas, nem presentes, podiam apaziguar -
O conquistador do mundo, Tamerlão. 


terça-feira, 4 de agosto de 2020

MIGUEL D'ORS


  EPITAFIO

No le tocaron buenas cartas, pero
no rehuyó la suerte que le cupo;
sin llantos ni protestas, las jugó
todo lo bien que supo.

Unas veces perdió y otras ganó,
hasta aprender que cuando la jornada
llega a su fin, fracasos y triunfos
son una misma nada,

    que perder es ganar si la jugada
fue noble, emocionante y divertida
y que es insensatez pedirle peras
al olmo de esta vida.

                             Por el monte Castrove, 13-IX-2011


                   xxxxxxxx


   EPITÀFIO

Não lhe saíram boas cartas, mas
não recusou a sorte que lhe coube:
sem choros nem protestos, jogou-as
tão bem como soube.

Umas vezes perdeu e outras ganhou,
até aprendeu que quando a jornada
chega ao fim, fracassos e triunfos
são um mesmo nada,

    que perder é ganhar se a jogada
foi nobre, emocionante e divertida
e que é insensatez pedir peras
ao olmo desta vida.
                             
                             Pelo monte Castrove, 13-IX-2011



segunda-feira, 3 de agosto de 2020

W H AUDEN (YORK, 1907-1973)

Da meia-dúzia de antologias de poesia, que publiquei (Assírio&Alvim) a primeira foi Massacre dos Inocentes, de W H AUDEN, em 1994, desplante de que não posso dizer que me arrependa, mas não deixou de ser imprudente.
Por tudo isso e não só resolvi rever a tradução e ir aqui divulgando o resultado - outras eventualmente se seguirão; não prometo incluir todos os poemas, mas também não prometo não incluir outros, se me apetecer.



   MUSÉE DES BEAUX ARTS

About suffering they were never wrong,
The Old Masters: how well they understood
Its human position, how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the ages are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:

They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on their doggy life and the torturer's horse
Scratches his innocent behind on a tree.

In Brueghel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive, delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
Had somewhere to get to and sailed calmly on.


                    xxxxxxxxxxxxxxxx


   MUSÉE DES BEAUX ARTS

Quanto ao sofrimento nunca se enganaram
Os Velhos Mestres: como entenderam
A sua morada humana; como acontece,
Enquanto outros comem ou abrem uma janela ou apenas dão um passeio monótono;
Como, no momento em que velhos aguardam reverente, apaixonadamente,
O nascimento milagroso, haverá crianças
Que nem sequer o desejam, patinando
Num lago, na orla do bosque.

Nunca esqueceram
Que mesmo o martírio mais terrível deve ocorrer
De forma ocasional numa esquina, algum local sujo
Que os cães frequentam na sua azáfama canina, onde o cavalo do torcionário
Coça o traseiro inocente numa árvore.

No Ícaro de Brueghel, por exemplo: tudo volta
Pacificamente as costas ao desastre; o lavrador terá
Ouvido o mergulho, o grito desamparado;
Mas, para ele, não foi um fracasso importante; o sol brilhava,
Como de costume, nas pernas brancas que desapareciam na água
Verde; e o frágil, luxuoso barco que terá visto
Algo espantoso, um rapaz caindo do céu,
Tinha um destino a atingir e para ele placidamente navegou.

domingo, 2 de agosto de 2020

LUCIANO ERBA



LA PIROGA

Si passano le stagioni
a scavare il tronco di un albero
per preparare la piroga
sui cui c’imbarcheremo in autumno.       


       xxxxxxxxxxxxxx


 A PIROGA
Passam as estações
a escavar o tronco de uma árvore
para preparar a piroga
em que embarcaremos no outono.

sábado, 1 de agosto de 2020

BERTRÁN DE BORN



       SIRVENTES

Puois lo gens terminis floritz
s'espandis jauzions e gais,
m'es vengut en cor que m'eslais
de far un novel sirventes
on sapchan li aragones
           qu'ab mal agur
(d'aissi sian ilh tut segur),
sai venc lo reis, don es aunitz,
esser soudadiers logaditz.

Sos bas paratges sobreissitz
sai que fenira coma lais
e tornara lai don si trais:
a Melhau et en Carlades.
Quan quecs n'aura son drech conques,
          an s'en ves Sur!
Mas grieu er qu'en mar no-l debur
l'aura, quar tan es pauc arditz,
flacs e vas e sojornaditz.

Proenza pert don es eissitz,
que so frair Sanso prezan mais;
qu'el non a sonh mas que s'engrais
e beva per Rossilhones,
on fo deseretatz Jaufres;
         qu'a Vilamur
en Tolsa-l tenon per prejur
tuit cilh ab cui s'era plevitz,
quar los a per paor giquitz.

Lo reis cui es Castrasoritz
e te de Toleta-l palais
lau que mostre de sos eslais
sai al filh del barsalones,
quar per drech sos malvatz om es.
         Del rei tafur
pretz mais sa cort e son atur,
no fatz cela don fui traitz
lo jorn qu'el fo per me servitz.

Lo bos reis Garsia Ramitz
cobrera. quan vida-lh sofrais,
Arago, que-l monges l'estrais,
e-l bos reis navars, cui drech es,
cobrara-l ab sos Alaves
        sol s'i atur.
Aitan com aurs val mais d'azur,
vai mielhs e tan es plus complitz
sos pretz que del rei apostitz.

Per cela de cui es maritz,
per la bona reina-m lais,
e des que-m dis so don m'apais.
Berengier de Besaudunes
li retraissera, si-lh plagues;
        mas tot rencur
sos malvatz fachs, que son tafur,
quar per el fo mortz e traitz,
don es sos linhatges aunitz.

Mout trait lait l'emperairitz
com fals reis prejurs e savais,
quan pres a quintals et a fais
l'aver que Manuels trames
e la rauba et tot l'arnes;
       pois ab cor dur,
quan n'ac trach lo vert e-l madur,
el n'enviet per mar marritz
la domna e-ls grecs que ac traitz.

            xxxxxxxxx


   SIRVENTÊS


Pois a gentil estação florida
se expande gozosa e alegre,
veio desejo de esforçar-me
por fazer um novo sirventês
para que saibam os aragoneses,
         que com mau augúrio
(disso estejam todos certos),
veio aqui o rei, por tal enfrentado,
a ser soldado mercenário.

A baixa estirpe arrivista
sei que acabará como um lai
e voltará para donde veio:
a Melhau e a Carlades.
Quando todos recuperarem os seus direitos
         ao Sul se irá!
Mas no mar o amedontrará
o vento, pois é tão pouco corajoso,
débil, frouxo e preguiçoso.

Perde Provença, de onde saiu,
que o seu irmão Sancho mais preza;
ele só cuida de engordar
e beber no Rossilhão,
onde foi deserdado Jaufré;
         e em Vilamur,
em Tolosa, têm-no por perjuro
todos com quem fizera pacto,
que os abandonou com medo.

Ao rei que tem Castrosoritz
eo palácio de Toledo
elogiou, mas mostra o seu esforço
aqui, ao filho do barcelonês
que, por certo, é mau vassalo.
        Do rei taful
prefiro a corte e companhia,
que a daquele que me traiu
no dia em que o servi.

O bom rei Garcia Ramirez,
se a vida lhe chegasse, teria tomado
Aragão que o monge lhe roubou
e o bom rei navarro, que tem o direito,
o recuperaria com seus Alaveses,
        se se empenhasse.
Como mais vale ouro que azur,
vale mais e é mais cumprido
o seu mérito que o do rei impostor.

Por aquela de quem é marido,
pela boa rainha não continuou
e disse-me o que me apaziguou.
Berengier de Besaudunes,
o recordaria, se lhe aprouvesse;
        mas censuro-lhe
as más acções, que são tafuis,
pois por ele foi morto e traído,
a sua linhagem é uma afronta.

Traição feia fez à imperatriz
como falso rei perjuro e malvado,
quando tomou por quintais e enxoval
os bens que Manuel tinha enviado
e os tecidos e todas as armas;
        depois, de coração duro,
quando teve o verde e o maduro,
enviou por mar desconsolados
a dama e os gregos, que atraiçoou.



NOTA : O Sirventês é precedido de uma introdução ("Razo") que detalha o contexto: o poema é dirigido contra o rei de Aragão, que se aliou ao de Inglaterra no assédio ao castelo do autor, quando este o tinha por amigo. A referência, no final, aos gregos, alude à traição perpetrada pelo aragonês do imperador bizantino - roubou o dote que acompanhava a filha deste e devolveu-a à procedência, juntamente com a comitiva.






  FRANK O'HARA PISTACHIO TREE AT CHATEAU NOIR Beaucoup de musique classique et moderne Guillaume and not as one may imagine it sounds no...