sábado, 29 de agosto de 2020

 MIGUEL D'ORS


             INTRUSO

Esta sensación, tan repetida, de tener dentro un intruso: un niño
al que le dan azotes varias vezes por semana
(aquella zapatilla con el triángulo de goma -"Wamba Pirelli" - en la suela)
un niño que recebe pocos besos,
ni abrazos que estrujan con su calor, su olor, su palpitácion de pecho;
al que no llevan al cine, ni al fútbol, ni a la playa,
al que los suyos le mienten cuando pregunta que están haciendo unos
    perritos
y en el colegio queda fuera de las conversaciones de su classe;
un niño al que cada noche dejan a solas con todo el enjambre de sus
    preguntas,
y que es pecado fumar,
y que es pecado verse en el espejo al sair de la ducha,
y bailar agarrado, y decir coño, y un bikini.
le da vergüenza todo,
se resiste a ayudar a Misa por miedo a volcar el Cáliz,
le llegan con retraso las canciones de la moda,
oye los chistes verdes de las esquinas, no los entiende
y los ríe, sin embargo, para que nadie se lo note.
Las tardes de domingo regresa solo al patio del colegio
y en aquel cemento pálido lanza tiros libres y tiros libres
contra una canasta que se bambolea rechinando
o sobre su bicicleta da vueltas en círculo hasta que ya anochece.
Está en mí desde entonces, fastidiando mi atroz adolescencia,
estorbando mis estudios, mi universidad, mis salidas con chicas,
mis versos, mi matrimonio, mi trabajo: miguel d'ors.
Es también yo. Ahora mismo
no sé si es él o si soy yo quien habla.

                                                    Madrugada del 16-XII-2012


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        INTRUSO

Esta sensação, tão repetida, de ter dentro um intruso: uma criança
a que dão palmadas várias vezes por semana
(aquela sapatilha com o triângulo de borracha -"Wamba Pirelli" . na sola),
uma criança que recebe poucos beijos,
ou abraços que esmaguem com o seu calor, o seu cheiro, as suas palpitações;
a quem não levam ao cine, ao futebol, ou à praia,
a quem os seus mentem quando pergunta o que estão fazendo esses cãezinhos
e no colégio fica fora das conversas da sua classe;
uma criança que todas as noites deixaram a só com todo o enxame das suas perguntas,
e que é pecado fumar,
e que é pecado ver-se no espelho, ao sair do duche,
e dançar agarrado, e dizer caraças, e um biquini.
Tudo o envergonha,
resiste a ajudar à Missa por medo a entornar o Cálice,
a quem chegam atrasadas as canções da moda,
ouve as piadas picantes das esquinas, não as entende
e, contudo, ri-se para que ninguém repare.
Nas tardes de domingo regressa sozinho ao pátio do colégio
e naquele cimento pálido faz lançamentos livres e lançamentos livres
contra um cesto que bamboleia guinchando
e em cima da bicicleta dá voltas em círculo até que anoitece.
Está em mim desde então, estragando a a minha atroz adolescência,
estorvando os meus estudos, a minha universidade, as minhas saída com raparigas,
os meus versos, o meu matrimónio, o meu trabalho: miguel d'ors.
É também eu. Agora mesmo
não sei se é ele ou se se sou eu quem fala.

                                                             Madrugada de 16-XII-2012

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