sexta-feira, 30 de outubro de 2020

PABLO GARCÍA CASADO


AMOR

una mujer metida siempre en la cocina
siempre con problemas siempre con la regla
la basura no te olvides de bajar al perro

una enfermedad que se cura con los años
una radio que empieza a perder las emisoras
un tren que realiza siempre el mismo recorrido

entre dos ciudades cada vez más alejadas


       xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


AMOR

uma mulher metida sempre na cozinha
sempre com problemas sempre com o período
o lixo não te esqueças de ir passear o cão

uma enfermidade que se cura com os anos
um rádio que começa a perder as emissoras
um comboio que cumpre sempre o mesmo percurso

entre duas cidades cada vez mais distantes

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

JULIO MARTÍNEZ MESANZA 


            RETIRADA

Vagan grises caballos por la senda
nevada, y un anciano se detiene
y ve pasar jinetes y armas oye.
Continuamente pasan los soldados,
y otra tierra recuerda y otro tiempo.
El corazón del viejo se ensombrece
mientras las muchas sombras enumera,
y otra guerra recuerda y otros hombres.


         xxxxxxxxxxxxxxxxxx


      RETIRADA

Vagam cinzentos cavalos pela senda
nevada, e um ancião detém-se
e vê passar ginetes e armas ouve.
Continuamente passam os soldados,
e outra terra recorda e outro tempo.
O coração do velho ensombra-se
enquanto as muitas sombras enumera
e outra guerra recorda e outros homens.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 ANTHONY HECHT


A VOICE AT A SEANCE

It is rather strange to be speaking, but I know you are there
Wanting to know, as if it where worth knowing.
Nor is it important that I died in combat
In a good cause or an indifferent one.
Such things, it may surprise you, are not regarded.
Something too much of this.

You are bound to be disappointed,
Wanting to know, are there any trees?
It is all different from whwt you suppose,
And the darkness is not darkness exacyly,
But patience, silence, withdrawall, the sad knowledge
That it was almost impossible not to hurt anyone
Wether by action or inaction.
At the beginning o course there was a sense of loss,
Not of one's own life, but of what seemed
The easy, desirable lives one might have led.
Rame or wealth are hard to achieve,
And goodness even harder;
But the cost of all of them is a familiar deformity
Such as everyone suffers from:
An allergy to certain foods, nausea at the sight of blood,
A slight impediment of speech, shame at one's own body,
A fear of heights or claustrophobia.
What you learn has nothing whatever to do with joy,
Nor with sadness, either. You are mostly silent.
You come to a gentle indifference about being thought
Either a fool or someone with valuable secrets.
It may be that the ultimate wisdom
Lies in saying nothing.
I think I may already have said too much


    xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


UMA VOZ NUMA SESSÃO

É bastante estranho estar a falar, mas sei que vós estais aí
Procurando saber, como se fosse valioso saber.
Nem é importante que tenha morrido em combate
Por uma boa causa ou por uma indiferente.
Tais coisas, pode surpreender-vos, não são consideradas.
Por regra, basta disto.

É possível que fiqueis desapontados,
Querendo saber se haverá árvores?
É tudo diferente do que vós supondes
E a escuridão não é escuridão exactamente,
Mas paciência, silêncio, afastamento, o conhecimento triste
Que era quase impossível não magoar alguém
Seja por acção, seja por inacção.
De início, claro, havia uma sensação de perda,
Não da própria vida, mas do que pareciam 
As vidas fáceis, desejáveis, que se podiam ter tido.
Fama ou riqueza são difíceis de alcançar,
E a bondade ainda mais;
Mas o custo de todas elas é uma deformidade familiar,
Como se todos dela sofressem:
Uma alergia a certos alimentos, náuseas à vista de sangue,
Uma ligeira perturbação da fala, vergonha do próprio corpo,
Um medo de alturas ou claustrofobia.
O que se aprende nada tem a ver com alegria,
Nem, também, com tristeza. Está-se quase sempre, calado.
Atinge-se uma indiferença moderada acerca de nos acharem
Um idiota ou alguém com segredos valiosos.
Pode ser que a sensatez final
Consista em nada dizer.
Penso que posso ter já dito demasiado.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

 LUIS ALBERTO DE CUENCA


      

    EL EDITOR FRANCISCO ARELLANO
DISFRAZADO DE HUMPHREY BOGART,
TRANQUILZA AL POETA EN UN MOMENTO
DE ANSIEDAD, RECORDÁDOLE UN PASAJE
             DE PÍNDARO, PÍTICAS VII 96

Sin mujer, sin amigos, sin dinero,
loco por una loca bailarina,
me encontraba yo anoche en esa esquina
que se dobla y conduce al matadero.

Se reflejó una luz en el letrero
de la calle, testigo de mi ruina,
y de un coche surgió una gabardina
y los ojos de un tipo con sombrero.

Se acercaba, venía a hablar conmigo.
Mi aburrido dolor le intresaba.
Con tal de que no fuese un policía...

"Somos el sueño de una sombra, amigo",
me dijo. Y era Bogart, y me amaba;
y era Paco Arellano, y me quería.  


          xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


      O EDITOR FRANCISCO ARELLANO
   DISFARÇADO DE HUMPHREY BOGART,
TRANQUILZA O POETA NUM MOMENTO
DE ANSIEDADE, RECORDANDO-LHE UMA PASSAGEM
               DE PÍNDARO, PÍTICAS VIII 96

Sem mulher, sem amigos, sem dinheiro,
louco por uma louca bailarina,
encontrava-me, ontem à noite, numa esquina
que se dobra e conduz ao matadouro.

Reflectiu-se uma luz no letreiro
da rua, testemunha da minha ruína,
e de um carro surgiu uma gabardina
e os olhos de um tipo com sombreiro.

Acercava-se, vinha falar comigo.
A minha aborrecida dor interessava-o.
Desde que não fosse um policia...

"Somos o sonho de uma sombra, amigo",
disse-me. E era Bogart e amava-me;
e era Paco Arellano e queria-me. 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

 JON JUARISTI


      BÁRBARA

Vuelvo a leer tus cartas de hace un siglo,
de cuando estaba en el cuartel, ¿recuerdas?
o en la trena, mi amor, no exactamente
en la Cárcel de Amor, o en las terribles

províncias que he olvidado. Amarillean
los sobres de hilo, corazón. Los sellos
habrán cobrado algun valor. No en vano
otro es el tiempo de la filatelia.

Me hablas de tu fractura de escafoides,
de tu dolor de muelas, de tu perro,
de lo mal que lo pasas en agosto,

de una excursión a Andorra... Poco a poco,
me has vuelto desabrida la nostalgia:
mi dulce bien, no me quisiste nunca.


     xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


     BÁRBARA

Volto a ler as tuas cartas de há um século,
de quando estava no quartel, recordas?,
ou na prisão, meu amor, não exactamente
no Cárcere de Amor, ou nas terríveis 

províncias que já esqueci. Amarelecem
os sobrescritos de fio, coração. Os selos
terão ganho algum valor. Não em vão
o ouro é o tempo da filatelia.

Falas-me da tua fractura do escafóide,
da tua dor de dentes, do teu cão,
de como passas mal em agosto,

de uma excursão a Andorra... Pouco a pouco
tornaste-me desabrida a nostalgia:
meu doce bem, nunca me quiseste.

domingo, 25 de outubro de 2020

 WELDON KEES



SCREAM AS YOU LEAVE

Restricted journeys and steam-heated dreams,
The mothball moment dropping like an iron
On crowded fringe of ground that hinges heart
And mind, suggesting codas to the start
Of twenty ends. The statues by the poool
Have varicose veins. Damp weather does it.

Consult the local seers as blue x-rays
Deposit profiles of the worms who ate
The rector's aphorism in a single swallow.
It happened on this weathered street, beneath a yellow
Pool of oil, where Christian Scientiste cross fearlessly,
Their souls bound up in packages, like knobs.

And trapped among the toothpicks and the phalic balloons
Where minor Ceasars fell outrageously,
Impromptu unicorns enact ballets,
Applaude by bourgeoisie in negligée.
What are these dying blackbirds doing here?
The weather wrinkles to a shrunken end.


         xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


GRITEM AO SAIR

Viagens restritas e sonhos aquecidos a vapor,
O momento da bola de naftalina caindo como um ferro
Em faixas de sol apinhadas que articulam coração
E mente, sugerindo codas para o início
De vinte fins. As estátuas junto ao lago
Têm veias varicosas. Causadas pela humidade.

Consulte-se os videntes locais, enquanto Raios X azuis
Depositam perfis de minhocas que comeram
O aforismo do reitor num único sorvo.
Aconteceu nesta rua inóspita, junto a um charco
De óleo amarelo, onde Christian Scientists atravessam sem medo,
As suas almas atadas num embrulho, como maçanetas.

E encurralados entre os palitos e os balões fálicos
Onde Césares menores caíram de forma ultrajante,
Unicórnios improvisados actuam em ballets,
Aplaudidos pela burguesia em negligée.
Que fazem aqui estes melros moribundos?
O tempo enruga-se para um final engelhado.

sábado, 24 de outubro de 2020

 VÍCTOR BOTAS



POEMA DE AMOR

Bendita sea la madre que te parió. Benditos
tus ojos, expertos en la busca. Y tus manos
morenas. Y tu pelo de Estigia,
largo como la noche de los viejos. Benditas
tus caderas, regias y jubilosas,
ceñidas de inquietud.
                                   Bendita toda tú.
Porque te vi pasar, y temblé como rama en la tormenta.
Porque te vi reír, y lloré (emocionado) igual que un crío.
Porque gracias a ti me olvidé por completo
de estas tercas, furiosas
almorranas.


   xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


POEMA DE AMOR

Bendita seja a mãe que te pariu. Benditos
os teus olhos, hábeis na procura. E as tuas mãos
morenas. E o teu cabelo de Estígia,
largo como a noite dos velhos. Benditas
as tuas ancas, régias e jubilosas,
cingidas de inquietação.
                                        Bendita sejas toda.
Porque te vi passar e tremi como ramo na tormenta.
Porque te vi rir e chorei (emocionado) como uma criança.
Porque graças a ti me olvidei, por completo,
destas obstinadas, furiosas,
hemorróidas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

 J. V. CUNNINGHAM



TO A FRIEND, on HER EXAMINATION for the DOCTORATE in ENGLISH

After these years of lectures heard,
Of papers read, of hopes deferred,
Of days spent in the dark stacks
In learning the impervious facts
So well you can dispense with them,
Now that the final day has come
When you shall answer name and date
Where fool and scholar judge your fate
What have you gained?
                                       A learned grace
And lines of knowledge in the face,
A spirit weary but composed
By true perceptions well-disposed,
A soft voice and historic phrase
Sounding the speech of Tudor days,
What ignorance could not assail
Or daily novelty amaze,
Knowledge enforced by firm detail.
What revels will these trials entail,
What gentle wine confuse your head
While gossip lingers on the dead
Till all questions wash away,
For you have learned, not what to say,
But how the saying must be said.


    xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


PARA uma AMIGA, no SEU EXAME de DOUTORAMENTO em INGLÊS

Depois destes anos de frequência de aulas,
De artigos lidos, de esperanças adiadas,
De dias gastos nas estantes escuras
A aprender os factos impérvios
Tão bem que pode dispensá-los,
Agora que o dia final chegou
Em que irás declinar nome e data
E néscio e erudito julgarem o teu destino,
O que ganhaste?
                            Uma graça letrada
E linhas de sabedoria na face,
Um espírito inquieto, mas composto
Por percepção verdadeira e benévola,
Uma voz suave e frase histórica
Ecoando a fala dos dias dos Tudor,
O que a ignorância não pode assaltar
Ou novidade quotidiana aturdir,
Conhecimento escorado em detalhe firme.

Que celebrações asseguram tal tribulação,
Que vinho amável te confunde a cabeça,
Enquanto mexericos se detêm nos mortos
Até as perguntas serem arrastadas,
Pois que aprendeste, não o que dizer,
Mas como o dizer deve ser dito.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

 DICK DAVIS


BAROQUE OPERA

House-lights go down, the velvet curtain rise -
Sea-fights, magicians and Cortona skies,

Grand rage. But soon the god from a machine
Back stage will rearrange the wrecked, sad scene

And each persoma hear his proper due -
The reach of evil blocked, the righteous few

(Young, wise, made safe by love) presented their
Just prize - salvation from despair and care.

They are our golden represetation
And share the exigence of makeshift lives -

The rope let down into contingent fact,
The hope never defined and always lacked.


       xxxxxxxxxxxxxxxxxxx


ÓPERA BARROCA

As luzes apagam-se, as cortinas de veludo sobem -
Batalhas marítimas, mágicos e céus de Cortona,

Enorme ira. Mas em breve o deus de uma máquina
Nos bastidores reparará a naufragada, triste cena

E cada personagem ouvirá a sua recompensa -
O alcance do mal bloqueado, os poucos justos

(Jovens, assisados, protegidos pelo amor) presenteados
Com o seu prémio justo - salvação do desespero e de cuidados.

São os nossos representantes dourados
E partilham a exigência de vidas fictícias -

A corda que cai sobre facto contingente,
A esperança jamais definida e sempre em falta. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 MIGUEL D'ORS



             PÉTALO

                           Para mi hermano Javier

¿De qué jardin inglés y de qué hora
de aquel 1931
te recogió la mano de mi padre,
aquuella mano juvenil que acaso
llegaba de tocar momentos antes
lae tierracotas griegas del Museo
Británico - tenía un permiso especial -
o de afanarse en traducir la oda
de Keats sobre la urna griega? ¿De qué serías 
símbolo, qué recuerdo
estabas encargado de guardar
junto a los versos de "A Runnable Stag"
de John Davidson en The Golden Treasury,
sobre los que dejaste, con el tiempo de cómplice,
página 421,
esta marca que casi parece un corázon?

Hoy,23 de Abril de 2012,
después de tantos años sepultado en el libro,
te sorpriendió mi mano. Y, al tocarte,
en tu delicadeza frágik de mariposa
he tocado de un modo misterioso
la mano de aquel chico que entonces no sabía
que seria mi padre; aquella mano
que siete años después empuñaría
un máuser en la frente de Grandesa,
la que fatigaría códices y papiros,
la misma que en 1946,
frente al orballo de Santiago, iba
a acriciar, en bienvenida al mundo,
la diminuta mía: esta que agora, otoñal,
ante ti, transparente y enigmático pétalo,
termina, conmovida, este poema.

                                               24-IV.2012


          xxxxxxxxxxxxxxxxxx


         PÉTALA

                          Para o meu irmão Javier

De que jardim inglês e de que hora
daquele 1931
te colheu a mão de meu pai,
aquela mão juvenil que talvez
acabasse de tocar momentos antes
as terracotas gregas do Museu
Britânico - tinha uma licença especial -
ou de afanar-se a traduzir a ode
de Keats sobre a urna grega? De que serias 
símbolo, que recordação
estevas encarregue de guardar
junto aos versos de "A Runnable Stag"
de John Davidson em The Golden Treasury,
sobre os que deixaste, com o tempo de cúmplice,
página 421,
esta marca que parece um coração?

Hoje, 23 de Abril de 2012,
depois de tantos anos sepultada no livro,
surpreendeu-te a minha mão. E, ao tocar-te,
na tua delicadeza frágil de mariposa,
toquei de um modo misterioso
a mão daquele rapaz que então não sabia
que seria meu pai; aquela mão
que sete anos depois empunharia
uma máuser na frente de Gandesa,
que fatigaria códices e papiros,
a mesma que em 1946,
frente ao orvalho de Santiago, 
a acariciar, em boa vinda ao mundo,
a minha diminuta: esta que, agora, outonal,
ante ti, transparente e enigmática pétala,
termina, comovido, este poema.

                                                    24-IV-2012  

domingo, 18 de outubro de 2020

 W. H. AUDEN


    THE FALL OF ROME

        (for Cyril Connoly)                                  

The piers are pummelled by the waves;
In a lonely field the rain
Lashes an abandoned train;
Outlaws fill the mountain caves.

Fantastic grow the evening gowns;
Agents of the fisc pursue
Abscondig tax-defaulters through
The sewers of provincial towns.

Private rites of magic send
The temple prostitutes to sleep;
All the literati keep
An imaginary friend.

Cerebrotonic Cato may
Extol the Ancient Disciplines,
But the muscle-bound Marines
Mutiny for food and pay.

Ceaser's double-bed is warm
As an unimportant clerk
Writes I DO NOT LIKE MY WORK
On a pink official form.

Unendowed with wealth or pity
Little birds with scarlet legs
Sitting on their speckled eggs,
Eye each flu-infected city.

Altogether elswhere, vast
Herds of reindeer move across
Miles and miles of golden moss
Silently and very fast.

  xxxxxxxxxxxxxxxxxx


     A QUEDA DE ROMA

       (Para Cyril Connoly)

Os cais pelas ondas são batidos;
A chuva em solitário prado
Fustiga o comboio abandonado;
As grutas da serra escondem bandidos.

Fantásticos crescem nocturnos vestidos;
Devedores de impostos fugitivos
Acoitam-se nos esgotos de cidades de província, 
Onde agentes do fisco os perseguem.

Ritos de magia privados
Adormecem as prostitutas do templo;
Conservam todos os literatos
Um amigo imaginário.

Pode o Cerebrotónico Catão
Louvar as Antigas Disciplinas,
Mas os Fuzileiros nas faxinas
Amotinam-se por dinheiro e pão.

Está quente a cama de casal de César,
Enquanto um modesto funcionário
Escreve NÃO GOSTO DO MEU TRABALHO
Num róseo formulário.

De riqueza ou piedade deserdados,
Pássaros de pernas escarlates,
Sentados nos seus ovos pintalgados
Vigiam as cidades engripadas.

Em conjunto, algures, vastas
Manadas de renas atravessam
Quilómetros de musgo dourado
Silenciosamente e muito depressa.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

 LUCIANO ERBA


TERRA E MARE 

Golleta, gentilissimo legno, svelto 
prodigio! se il cuore 
sapesse veleggiare come sai 
tra gli azzurri archipelaghi! 

ma tornerò alla casa sulla rada 
verso le sei, quando la Lenormant 
avanza una poltrona sul terrazzo 
e se sccinge ai lavori di ricamo 
per le mense d’altare. 

Navigazione blu, estivi giorni 
sere dietro una tenda a larghe maglie 
come una rete! bottiglie 
vascelli tra rocchi de conchiglie 
e la lettura di Giordano Bruno 
nel salloto di giunco, nominatim 
De la Causa Principio e Uno.


    xxxxxxxxxxxxxxx


TERRA E MAR 

Galeota, gentilíssimo barco, esbelto 
prodígio! Se o coração 
soubesse velejar como tu 
entre os azuis arquipélagos! 

mas regressarei à casa na enseada 
cerca das seis, quando a Lenormant 
arma uma poltrona no terraço 
e se apresta aos lavores do bordado 
para as mesas do altar. 

Navegação azul, dias estivais, 
tardes atrás de uma cortina de malha grossa
como uma rede! navios 
em garrafas entre rochas de conchas 
e a leitura de Giordano Bruno 
na salinha de junco, nominatim 
De la Causa Principio e Uno!

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

 RAIMBAUT DE VAQUEIRAS

           (...1180-1205...)


STAMPIDA

      Kalenda maia
      ni fuelhs de faia
ni chans d'auzell ni flors di gaia
       non es qe-m plaia,
       pros dona gaia,
tromq'un isnell messagier aia
del vostre bell cors, qi-m retraia
e jaia, e.m traia vas vos,
       donna veraia,
e chaia de plaia-l gelos
       an qe-m n'estraia.

       Ma bell'amia, 
       par Dieu non sia
que ja-l gelos de mon dan ria,
       que carvendria
       sa gelozia
si aitals dos amantz partia;
q'ieu ja joios mais non seria,
ni jois seis vos pro no-m tenria:
tal via faria qu'oms ja
      mais no-m veiria,
cell dia morria, donna
      pros, q'ieu-us perdria.

      Con er perduda
      ni m'er renduda
donna, s'enanz non l'ai aguda?
      Qe drutz ni druda
      non es per cuda;
mas quant amantz en drut si muda,
l'onors es grantz qe-l n'es creguda,
e-l bels semblantz fai tar tal bruda;
qe nuda tenguda no-us ai,
      ni d'ais vencuda;
volguda cresuda vos ai,
      ses autr'ajuda.

      Tart m'esjauzira
      pos ja-m partira,
Bells Cavalhiers, de vos ab ira,
      q'aillors no-s vira
      mon cors ni-m tira
mos deziriers, q'als non dezira;
q'a lauzengiers sai q'abellira,
donna, q'estiers non lut garira:
tals vira, sentira mos danz,
     q'il vos grazira,
qe-us mira, cossira cuidanz
     don cors suspira.

     Tant gent comensa,
      part totas gensa,
Na Beatriz, e pren creissensa
      vostra valensa;
      per ma credensa,
de pretz garnitz vostra tenensa
e de bels ditz, senes failhensa;
de faitz grazitz tenez semensa;
siensa, sufrensa, avetz
     e coinessensa;
valensa ses tensa vistetz
     ab benvolesa.

     Donna grazida,
     qecs lauz'e crida
vostra valor q'es abelida,
     e qi-us oblida
     pauc li val vida,
per q'ie-us azor, donn'eissernida;
car per gensor vos ai chauzida
e per melhor, de prez complida,
blandida, servida genses
    q'Erecs Enida.
Bastida, finida, N'Engles,
    ai l'estampida.


    xxxxxxxxxxxxxx


ESTAMPIDA   

     Calendas de Maio,
     nem folha de faia
nem canto de pássaro, nem flor de gladíolo,
     já não me alegram,
     nobre dona gozosa,
até que receba veloz mensageiro
de vós, bela, que me assegure
novos prazeres com que amor me atraia
e que esteja perto de vós,
    dona vardadeira
e ferido o ciumento caia,
    antes que eu desista.

    Minha bela amiga
    por Deus não aconteça
que o ciumento ria da minha dor,
    pois lhe custaria caro
    o seu ciúme
se separasse os dois amantes;
nunca mais contente estaria,
sem vós não me serviria a alegria;
tomaria tal via que ninguém
    me voltaria a ver;
morrerei no dia, dona
    nobre, em que vos perca.

    Como perderei 
    ou voltará
a dona, se nunca a tive?
    Os amantes
     não existem em pensamento;
quando o namorado se torna amante
a honra é grande, que nele cresce,
o belo semblante provoca bulha;
desnuda não vos tive,
    nem sequer vencida;
acreditei e desejei-vos,
    sem qualquer ajuda. 

    Pouco me alegraria,
    se me afastara,
Belo Cavaleiro, triste de vós,   
     pois não muda
     meu coração, nem tenho
outros desejos, que esse não seja:
aos maledicentes sei o que agradaria,
dona, que outra coisa não lhes trará cura;
se visses, sentiríeis a minha dor,
     grato ficaria,
pois miro e cuido nos tormentos
     que o coração suspira.

    Tão gentil começa
    sobre todas formosa,
Beatriz, e acrescenta
    vosso valor:
    por minha crença
de prendas adornais vosso poder
e belos ditos, sem falsidade;
de feitos notáveis tendes a semente;
ciência, paciência, tendes
    e consciência;
sem discussão vestis valor
    e benevolência. 

    Dona graciosa
    todos louvam e aclamam
o vosso valor, que é formoso
    e a quem vos esquece
    de pouco vale a vida;
por isso vos adoro, dona distinta,
que pela mais gentil vos escolhi
e a melhor por grande mérito
vos cortejei e servi melhor
     que Erecs a Enida.
Inglês, compus e acabei
     a estampida.

   



     


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

 GIUSEPPE GIOACHINO BELLI



ER PECCATO ORIGGINALE 

Arrivato a l'età dde la raggione 
Ggesucristo entrò a sguazzo in ner Giordano, , 
e sse fesce cristiano, fedelone, 
cattolico, apostolico, romano. 

Poi se n'annò ccor croscifisso in mano 
predicanno a 'ggni sorte de perzone 
che cci nnun z'è ssciacquato er coccialone 
verà er paradiso da lontano. 

L'unica fu la Vergine Mmaria 
che sse sarvò ssenz'èsse bbattezzata, 
perché, a cquanto se sa, mmorze giudia. 

E la cosa è bbenissimo aggiustata. 
Nun aveva bbisoggno de lesscia 
chi nasscé ccome un panno de bbucata. 

                                                                 27 Maggio 1833


            xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


O PECADO ORIGINAL 

Quando chegou à idade da razão 
Jesus foi a banhos no Jordão 
e fez-se cristão, devoto,
 católico, apostólico, romano. 

Depois partiu de cruxifixo na mão 
pregando a todo o tipo de gente 
que quem não enxaguasse a mona 
veria o paraíso pelo canudo. 

Apenas a Virgem Maria 
se salvou sem o baptismo 
que, ao que se sabe, morreu judia. 

E a coisa está muito bem gizada. 
Não tem necessidade de lixívia 
quem nasceu já com barrela. 

                                                   27 de Maio 1833



L'INFERNO 

Cristiani indilettissimi, l'inferno 
è una locanna senza letto e cocco, 
ch'er bon Iddio la frabiccò abbeterno 
perchè sse popolassi appoco appoco. 

Cuanti Santi, in inzoggno, la vederno, 
dicheno che ssibbè ppiena de foco 
non c'è un'ombra de lusce in gnisun loco, 
e cce se trema ppiù cche ffussi inverno. 

Sur porton de sta casa de li guai 
sce sta a llettre da cuppola un avviso, 
che ffora disce sempre, e ddrento mai. 

Ggesù mmio bbattezzato e ccirconciso, 
arberghesce li turchi e bbadanai,
 e a nnoi dàcce l'allogio in paradiso. 

                                                         29 Gennaio 1833


       xxxxxxxxxxxxxxxxxxx


O INFERNO 

Cristãos dilectíssimos, o inferno 
é locanda sem cozinheiro nem cama, 
que o bom Deus fabricou ab aeterno 
para receber pouco a pouco a gentama. 

Quantos Santos, em sonhos, o viram, 
dizem que, ainda que de fogo repleto, 
em nenhum local existe sombra 
e nele se treme mais que no inverno. 

Sobre o portão de tal casa, 
um aviso em letras capitais, 
que fora diz sempre, dentro jamais. 

Jesus meu, baptizado e circunciso, 
alberga ali os turcos e judeus, 
a nós aloja-nos no paraíso.

                                                 29 de janeiro de 1833

domingo, 11 de outubro de 2020

 EBN-E YAMIN (SÉC XIII-XIV)


Se alguém te fizer o bem
premeia-o com tudo o que tenha -
deixa quem te magoar ao mundo,
o mundo garantirá a sua recompensa.


     xxxxxxxxxxxxxxxxxxx


Duas fatias de pão - cevada rude
ou trigo fino . serão bastantes;
também duas mudas de roupa
chegarão, novas ou usadas;
satisfação e um canto
a que possa chamar meu,
onde ninguém me diga: "Não
podes estar aqui, vai-te embora!"
Yamin prefere isso -mil vezes-
a qualquer glória,
ao reino do rei Qobad
e ao do esplêndido Khosrow.



HAFEZ (SÉC XIV)


Um sinal negro enfeitava
a sua face; despiu-se e brilhou
incomparável em esplendor
ao da lua; era tão esguio,
que se via o coração, como
a água límpida que sobre
as pedras se derrama.


   xxxxxxxxxxxxxxxx


Todo o amigo prova ser inimigo,
a corrupção roeu-lhes toda a pureza.
dizem que a noite está prenhe de tempos novos,
mas se aqui não há homens, como é possível?

sábado, 10 de outubro de 2020

 FERNANDO ORTIZ ( SEVILHA, 1947-2014 )


      25 DE FEBRERO DE 1810

                  Blanco White, abandona el Puerto de Cádiz, en
                  el "Lord Howard", rumbo a Inglaterra


Blancas de cal las casas que en el alba se alejan.
  Un tibio sol de invierno va atemperando el aire.
Desde el mar los tejados menos altos y nítidos.
Temo la soledad. Y la melancolia
me invade si contemplo el puerto abandonado
y la ciudad hundiéndose bajo aguas azules.

  Si miro al mar veo sólo  mi presente inestable,
precario, tornadizo, al igual que las aguas
que el "Lord Howard" remueve y aparta con la quilla
- como el tiempo pasado la espuma se disuelve 
mientras el barco sigue seguro su camino -.
Mas levanto mis ojos y un viento ajeno y libre
despeina mis cabellos, acaricia mi cara,
templando mi inquietud ante el vasto horizonte.

  Ahora miro adelante. ¿Qué habrá tras esas nubes?
Dejo tierra y afectos. Perdonadme mi odio
y también el amor que sufro por vosotros
aunque nunca consiga desterraros del alma
habréis de serme extraños. Así, al menos, lo quiero.

  No han de volver mis ojos, ni han de volver mis pasos.
Amo la libertad. Y mi amada no es facil.


          xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


    23 DE FEVEREIRO DE 1810

              Blanco White abandona o porto de Cádiz no
              barco "Lord Howard", rumo a Inglaterra

Brancas de cal as casas que na madrugada se afastam.
Um tépido sol de inverno vai temperando o ar.
Desde o mar os telhados menos altos e nítidos.
Temo a solidão. E a melancolia
invade-me se contemplo o porto abandonado
e a cidade afundando-se debaixo de águas azuis.

  Se observo o mar só vejo o meu presente instável,
precário, volúvel, igual às águas
que o "Lord Howard" remove e divide com a sua quilha
- como o tempo passado a espuma dissolve-se 
enquanto o barco segue seguro o seu caminho -.
Mas ergo os olhos e um vento alheio e livre
despenteia-me os cabelos, acaricia a minha cara,
suavizando a minha inquietação ante o vasto horizonte.

  Agora olho em frente. Que haverá por trás dessas nuvens?
Deixo terra e afectos. Perdoai o meu ódio
e também o amor que sofro por vós :
ainda que nunca consiga desterrar-vos da alma
havereis de ser-me estranhos. Assim, pelo menos, quero.

  Não irão voltar os meus olhos, nem irão voltar os meus passos.
Amo a liberdade. E a minha amada não é fácil.






quarta-feira, 7 de outubro de 2020

 D. J. ENRIGHT


THE LAUGHING HYENA, after HOKUSAI 


For him, it seems, everything was molten- Court.ladies flow
                                                   in gentle streams,
Or, gathering lotus, strain sideways from their curving boat,
A donkey prances, or a kite dances in the sky, or soars like
                                                   sacrificial smoke,
All is flux: waters fall and leap, and bridges leap and fall.
Even his Tortoise undulates, and his Spring Hat is lively as a
                                                    pool of fish.
All he ever saw was sea: a sea of marble splinters -
Long bright fingers claw across his pages, fjords and islands
                                                    and shattered trees -

And the Laughing Hyena, cavalier of evil, as volcanic as
                                                    the rest:
Elegant in a flowered gown, a face like a bomb-burst,
Featured with fangs, and built about a rigid laugh,
Ever moving, like a pond's surface where a corpse has sunk.

Between the raised talons of the right hand rests an object -
At rest, like a pale island in a savage sea -
                                                    a child's head,
Immobile, authentic, torn and bloody -
The point of repose in the picture, the point of movement
                                                    in us.

Terrible enough, this demon. Yet it is present and perfect.
Firm as its horns, curling among its thick and hansome hair.
I find it is an honest visitant, even consoling, after all
Those sententious phantoms, choked with rage and
                                                         uncertainty,
Who grimace from contemporary pages. It, at least,
Knows exactly why it laughs.


          xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


A HIENA QUE RI, por HOKUSAI

Para ela, parece, tudo era fluido. Cortesãs navegam
                                             em arroios suaves,
Ou, apanhando lótus, debruçam-se no barco que curva.
Um burro trota, ou um papagaio dança no céu, ou sobe
                                             como fumo sacrificial.
Tudo é fluxo, águas caem e saltam, pontes saltam e caem.
Até a sua Tartaruga ondula, o se Chapéu de Primavera, vívido como
                                              tanque de peixes...
Nunca viu mais que o mar: um mar de estilhaços de mármore -
Dedos longos, luzídios, agarram as sua páginas, fjordes e ilhas
                                             e árvores trucidadas -

E a Hiena Que Ri, paladino do mal, tão vulcânica quanto
                                             o resto:
Elegante no seu manto florido, a cara como uma explosão,
Exibindo presas e erguida sobre um riso rígido,
Sempre mutável, como a superfície de um lago, onde um cadáver se afundou.

Entre as garras erguidas da mão direita repousa um objecto -
Em repouso, como ilha límpida em mar selvagem -
                                           uma cabeça de criança.
Imóvel, autêntica, destroçada e sangrenta -
O ponto de repouso na pintura, o ponto de movimento em nós.

Algo terrível, este demónio. Contudo, presente e perfeito.
Firme como os seus cornos, curvos entre cabelo espesso e esbelto.
Acho-a uma visitante honesta, mesmo consoladora, após todos
Esses fantasmas sentenciosos, sufocados por raiva 
                                           e incerteza,
Que fazem esgares em páginas contemporâneas. Ela, pelo menos,
Sabe exactamente por que ri.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

 MIROSLAV HOLUB


        O PAPEL DE APANHAR MOSCAS

A consciência zumbidora da cozinha;
morte de culpado e inocente,

Sísifos.

Contempla um paraíso terrestre
sem mosquito, melga ou mosca.

Arbeit macht frei.

domingo, 4 de outubro de 2020

 AURORA LUQUE


      EAU DE PARFUM

De la infancia, el olor
del musgo en las acequias, del barro, de las moras
y la extrema violencia de aprenderse.

Dej mar, la última nota
de la última ola desplegada
antes de regresar y convencernos
de que no habeá sirenas.

De la noche, las leves veladuras
de un perfume italiano
todavía de moda.

De tu cuerpo, el aroma
de libro de aventuras
vuelto a leer; pero también de adelfas
desoladas y ardiendo.

Huele a vida quemada.



       xxxxxxxxxxxxxxx


      EAU DE PARFUM

Da infância, o cheiro
de musgo nas acéquias, de barro, de amoras
e a extrema violência de aprender-se.

Do mar, a última nota
da última onda desenrolada
antes de regressar e convencermo-nos
de que não haverá sereias.

Da noite, as leves veladuras
de um perfume italiano
ainda na moda.

Do teu corpo, o aroma
de livros de aventuras
lido de novo, mas também de adelfas
desoladas e ardendo.

Cheira a vida queimada.

sábado, 3 de outubro de 2020

 PABLO GARCÌA CASADO


ANTIGOS INQUILINOS

cuando el salió de la carcél se mudaran a este piso
en este mismo cuarto vivieron las noches que la ley
penitenciaria les había prohibido después llegaron

notificaciones de embargo citaciones judiciales ruedas
de reconocimiento el correo se acumulaba en el buzón
un mes y medio más tarde derribaron la puerta los hallaron

sin vida aquí mismo en el mejor de los mundos


        xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


ANTIGOS INQUILINOS

quando ele saiu da prisão mudaram-se para este andar
neste mesmo quarto viveram as noites que a lei
penitenciária lhes tinha proibido depois chegaram

notificações de embargo citações judiciais rodas
de reconhecimento o correio acumulava-se na caixa
im mês e meio mais tarde derrubaram a porta encontraram-nos

sem vida aqui mesmo no melhor dos mundos

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

 JULIO MARTÍNEZ MESANZA


             200 AD


                      a Fernando González de Canales


Me preguntas qué espero del oriente.
Noticias de mis naves, no. Tampoco
la solución feliz de una contienda.
Nada aguardo aunque envíe mensajeros.
Ni un milagro ni el brillo de un diamante.
Me engaño solamente, y eso basta.


            xxxxxxxxxxxxxxx


        200 AD


                 Para Fernando Gonzáles de Canales


Perguntas-me o que espero do oriente.
Notícias das minhas naves, não. Tão pouco
a solução feliz de uma contenda.
Nada aguardo ainda que envie mensageiros.
Nem um milagre nem o brilho de um diamante.
Engano-me somente, e isso basta.


 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 ANTHONY HECHT


  A DEEP BREATH AT DAWN

Morning has come at last. The rational light
Discovers even the humblest thing that yearns
Foe heaven; from its scaled end shadeless height,
Figures its difficult way among the ferns,
Nests in the trees, and is ambitious to warm
The chilled vein, and to light the spider's thread
With modulations hastening to a storm
Of the full spectrum, rushing from red to red.
I have watched its refinements since the dawn,
When, at the birdcall, all the ghosts were gone.

The wolf, the fig tree, and the woodpecker
Were sacred once to Undetaker Mars;
Honor was done in Rome to that home-wrecker
Whose armor and whose ancient, toughened scars
Made dance the very meat of Venus' heart,
And hoy her ichor, and immense her eyes,
Till his rough ways and her invicible art
Locked and laid low their shining, tangled thighs.
My garden yields his fig tree, even now
Bearing heraldic fruit at evary bough.

Someone I have not seen for six full years
Might pass this garden through, and might paas by
The oleander bush, the bitter pears
Unfinished by the sun, with only an eye
For the sun-speckled shade of the fig tree,
Ans shelter in its gloom, and raise his hand
For tribute and for nourishment (for he
Was once entirely at the god's command)
But that his nature, deing all undone,
Cannot abide the clarity of the sun.

Morning decieved him those six years ago.
Morning swam in the pasture, being all green
And yellow, and the swallow coiled in slow
Passage of dials and spires above the scene
Cluttered with dandelions, near the fence
Where the hens strutted redheaded and wreathed
With dark, imponderable chicken sense,
Hardly two hundred yards from where he breathed,
And where, from their declamatory roosts,
The cocks cried brazenly against all ghosts.

Warmth in the milling air, the warmth of blood;
The dampness of the earth; the forest floor
Of fallen needles, the dried and creviced mud,
Lay matted and caked with sunlight, and the war
Seemed elsewhere; light impeccable, unmixed,
Made accurate the swallow's travelling print
Over the pasture, till he saw it fixed
Perfectly on a little patch of mint.
And he could feel in his body, driven home,
The wild tooth of thr wolf that suckled Rome.

What if he came and stood beside my tree,
A poor, transparent thing with nothing to do,
His chest showing a jagged vacancy
Through which I might admire the distant view?
My house is solid, and the windows house
In their fine membranes the gelatinous light,
But darkness follows, and the dark allows
Obscure hints of a tapping sound at night.
And yet it may be merely that I dream
A woodpecker atacks the attic beam.

It is as well the light keeps him away;
We should have little to say in days like these,
Although once friends. We should have little to say,
But that there will be much planting or fig trees,
And Venus shall be clad in the prim leaf,
And turn a solitary, And her god, forgot,
Cast by that emblem out, shall spend his grief
Upon us. In that day the fruit shall rot
Unharvested. Then shall the sullen god
Perform his mindless fury in our blood.


      xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


  RESPIRAR FUNDO NA ALVORADA

A manhã, por fim, chegou. A luz racional
Descobre até a coisa mais humilde, que anseia
Pelo céu; da sua altura escalar e sem sombras
Traça o seu caminho difícil entre fetos,
Anida nas árvores e tem a ambição de aquecer
A veia gelada e iluminar a teia de aranha,
Com modulações apressando-se para uma tempestade
Do espectro completo, precipitando-se de vermelho para vermelho.
Eu observei os seus refinamentos desde a alvorada,
Quando, à chamada da ave, todos os fantasmas partiram.

O lobo, a figueira e o pica-pau
Foram, em tempos, sagrados para Marte, o cangalheiro.
Honras foram prestadas em Roma e esse destruidor de lares,
Cuja armadura e cicatrizes antigas, endurecidas,
Fizeram dançar a própria carne do coração de Vénus
E aquecer o seu ichor e esbugalhar os seus olhos,
Até os seus modos rudes e a sua arte invencível
Prenderem e derrubarem as suas coxas brilhantes, enredadas.
O meu jardim sustenta a sua figueira, ainda agora
Produzindo frutos heráldicos, em cada galho.

Alguém que não via há seis anos completos
Poderá passar por este jardim e passar pelo
Bosque de loendros, as peras amargas
Inacabadas pelo sol, deitando um olho
À sombra salpicada de sol da figueira,
E abrigar-se na sua obscuridade e erguer a mão
Para tributo e alimento (pois esteve,
Em tempos, inteiramente à ordem do deus)
Já que a sua natureza, sendo informe,
Não pode suportar a claridade do sol.

A manhã ludribriou-o estes seis anos atrás.
A manhã flutuou na pastagem, sendo toda verde
E amarela, e andorinha serpenteou em lenta
Passagem de quadrantes e agulhas sobre a cena
Juncada de dentes de leâo, junto à cerca
Onde as galinhas se empertigavam, de crista vermelha e coroadas
Por um senso galináceo, obscuro, imponderável,
Apenas a duzentas jardas do local onde respirava,
E onde, desde os seus poleiros declamatórios,
Os galos gritavam descaradamente contra todos os fantasmas.

Calor no ar que mói, o calor do sangue;
A humidade da terra; o chão da floresta
De agulhas caídas, a lama seca e gretada,
Emaranhado e oxidado pela luz do sol e a guerra
Parecia ser algures; luz impecável, pura,
Tornava preciso o rasto da viagem da andorinha
Sobre a pastagem, até que o viu perfeitamente
Plasmado numa pequena leira de hortelã.
E podia sentir no corpo, a caminho de casa,
O dente selvagem da loba que amamentou Roma.

E se ele chegasse e ficasse junto à minha árvore,
Uma coisa pobre, transparente, sem nada para fazer,
O seu peito revelando um anfractuoso vácuo
Por onde eu poderia admirar a paisagem longínqua?
A minha casa é sólida e as janelas acolhem
Nas suas finas membranas a luz gelatinosa,
Mas a escuridão segue-se e o escuro permite
Sugestões obscuras de leves batidas na noite.
E, contudo, poderá ser que apenas sonhe
Que um pica-pau ataca a trave do sótão.

Ainda bem que a luz o mantem afastado;
Teríamos pouco a dizer em dias como este,
Embora amigos, em tempos. Teríamos pouco a dizer,
Excepto que iria haver grande plantação de figueiras,
E Vénus estará com a folha formal
E a jogar um solitário. Esse deus, esquecido,
Abandonado por tal insígnia, usará a sua dor
Sobre nós. Nesse dia a fruta apodrecerá
Sem ser colhida. Então o deus soturno
Representará a sua fúria irracional no nosso sangue.





  FRANK O'HARA PISTACHIO TREE AT CHATEAU NOIR Beaucoup de musique classique et moderne Guillaume and not as one may imagine it sounds no...