segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 MIGUEL D'ORS



             PÉTALO

                           Para mi hermano Javier

¿De qué jardin inglés y de qué hora
de aquel 1931
te recogió la mano de mi padre,
aquuella mano juvenil que acaso
llegaba de tocar momentos antes
lae tierracotas griegas del Museo
Británico - tenía un permiso especial -
o de afanarse en traducir la oda
de Keats sobre la urna griega? ¿De qué serías 
símbolo, qué recuerdo
estabas encargado de guardar
junto a los versos de "A Runnable Stag"
de John Davidson en The Golden Treasury,
sobre los que dejaste, con el tiempo de cómplice,
página 421,
esta marca que casi parece un corázon?

Hoy,23 de Abril de 2012,
después de tantos años sepultado en el libro,
te sorpriendió mi mano. Y, al tocarte,
en tu delicadeza frágik de mariposa
he tocado de un modo misterioso
la mano de aquel chico que entonces no sabía
que seria mi padre; aquella mano
que siete años después empuñaría
un máuser en la frente de Grandesa,
la que fatigaría códices y papiros,
la misma que en 1946,
frente al orballo de Santiago, iba
a acriciar, en bienvenida al mundo,
la diminuta mía: esta que agora, otoñal,
ante ti, transparente y enigmático pétalo,
termina, conmovida, este poema.

                                               24-IV.2012


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         PÉTALA

                          Para o meu irmão Javier

De que jardim inglês e de que hora
daquele 1931
te colheu a mão de meu pai,
aquela mão juvenil que talvez
acabasse de tocar momentos antes
as terracotas gregas do Museu
Britânico - tinha uma licença especial -
ou de afanar-se a traduzir a ode
de Keats sobre a urna grega? De que serias 
símbolo, que recordação
estevas encarregue de guardar
junto aos versos de "A Runnable Stag"
de John Davidson em The Golden Treasury,
sobre os que deixaste, com o tempo de cúmplice,
página 421,
esta marca que parece um coração?

Hoje, 23 de Abril de 2012,
depois de tantos anos sepultada no livro,
surpreendeu-te a minha mão. E, ao tocar-te,
na tua delicadeza frágil de mariposa,
toquei de um modo misterioso
a mão daquele rapaz que então não sabia
que seria meu pai; aquela mão
que sete anos depois empunharia
uma máuser na frente de Gandesa,
que fatigaria códices e papiros,
a mesma que em 1946,
frente ao orvalho de Santiago, 
a acariciar, em boa vinda ao mundo,
a minha diminuta: esta que, agora, outonal,
ante ti, transparente e enigmática pétala,
termina, comovido, este poema.

                                                    24-IV-2012  

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