segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 LUIS ALBERTO DE CUENCA



              DEGOLLADA

"¿Ha habido algun problema? ¿ Te ha seguido
alguien?" "Todo ha salido bien." (El tiempo
ya no esra un instrumento de tortura.)
"Somos ricos." (No habia que olvidarlo)
"Voy a ducharme." "Espera, voy contigo."
(La abracé. Recordé que la queria.)
Treinta y cinco millons en billetes
usados. Tu cadáver en el baño.
Dejáme ser feliz, ahora que puedo.


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        DEGOLADA

"Houve algum problema? Alguém 
te seguiu?" "Tudo saiu bem." (O tempo
já não era um instrumento de tortura.)
"Somos ricos." (Não havia que esquecê-lo.)
"Vou tomar duche." "Espera, vou contigo."
(Abracei-a. Recordei que a amava.)
Trinta e cinco milhões em notas
usadas. O teu cadáver na banheira.
Deixa-me ser feliz, agora que posso.

sábado, 26 de setembro de 2020

 JON JUARISTI


            RULETA RUSA

                                       A Germán Yanque

Una tarde inverniza se encorvaba
sobre las falsas ruinas
de aquel rincón del parque del colegio,
detrás del cobertizo de Artes Plásticas.

El hijo del altísimo
jerarca falangista Mendazona
puso el coñac y el arma.

La época agonizaba, con su estilo
demasiado rotundo:
puestas de largo en el Marítimo,
hockey, regatas, tennis,
fiestas de fin de curso con madrinas,
campamentos del Opus,
chóferes de uniforme azul marino,
prestigiosa onomástica (Cristina,
Verónica, Natalia,
Gonzaga, Álvaro, Diego),
títulos pontificios
y partidos de cricket en el green.

Al oírse el disparo
corrimos todos a la desbandada,
corzos desparramados
sobre un tapiz de asunto cinegético.

No fue el azar tan cruel con Ibarreche.
Era el más débil de nosotros. No
habría remontado
los malos tiempos que se avecinaban.


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 ROLETA RUSSA

                              Para Germán Yanque

Uma tarde invernal encurvava-se
sobre as falsas ruínas
daquele canto do pátio do colégio
atrás do alpendre de Artes Plásticas.

O filho do altíssimo
hierarca falangista Mendazona
pousou o conhaque e a arma.

A época agonizava, com o seu estilo
demasiado rotundo:
reuniões de sociedade no Marítimo,
hochey, regatas, tennis,
festas de fim de curso com madrinhas,
acampamentos da Opus,
choferes de uniforme azul marinho,
prestigiosa onomástica (Cristina,
Verónica, Natalia,
Gonzaga, Álvaro, Diego),
títulos pontifícios
e partidas de cricket no green.

Ao ouvir o disparo
corremos todos à debandada,
corços espalhados
sobre um tapete de assunto cinegético.

Não foi o azar tão cruel com Ibarreche.
Era de nós o mais débil. Não
teria ultrapassado
os maus tempos que se avizinhavam.

                           
                             

  

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

 WELDON KEES


THE PARTY

The obscene hostess, mincing in the hall,
Gathers the guests around a crystal ball.
It is on the whole an exciting moment;
Mrs Lefevre stares with her one good aya;
A friendly abdomen rubs agianst one's back;
"Interesting," a portly man is heard to sigh.

A somewhat uncovincing oriental leers
Redundantly; into the globe he peers,
 Mutters a word or two and stands aside.
The glass grows cloudy with sulphorous fumes;
Beads rattle, latecomers giggle near the door.
A scene forms in the glass; silence invades the rooms.

The oriental glances up, conceals surprise
At such immediate success. Our eyes
Stare at the planes that fill the swlling globe,
Smoke-blue; blood, sheltorn faces. Suddenly a drum
Begins its steady beat, pursues us even here:
Death, and death again, and all the wars to come.


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A FESTA

A anfitriã obscena, com requebros à entrada,
Reúne os convidados em torno de uma bola de cristal.
É, no seu conjunto, um momento excitante;
A Srª Lefevre arregala o seu único olho são;
Um abdómen amigável roça as nossas costas;
"Interessante,", ouve-se suspirar um homem corpulento.

Um oriental vagamente inconvincente olha de esguelha,
De forma redundante; espreita o interior do globo,
Murmura uma palavra ou duas e põe-se de lado.
O vidro fica enevoado com fumos sulfurosos;
Colares chocalham, quem chegou tarde com risinhos junto à porta.
Uma cena forma-se no vidro; o silêncio invade as salas.

O oriental espreita, esconde surpresa
Perante sucesso tão imediato. Os nossos olhos
Fixam os planos que preenchem o globo a inchar,
Azul de fumo; sangue, faces retorcidas. De súbito, um tambor
Inicia a sua batida persistente, persegue-nos mesmo aqui:
A morte, e de novo a morte, e todas as guerras por vir.

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

 VICTOR BOTAS


MATRIMONIO ARNOLFINI
(Van Eyck)

¿Qué podrían pensar estos antiguos
señores de nosotros? ¿Qué esas frentes
su asombro al contemplar el terco empeño
de unos tercos días futuros que no quieren
sino alzar vanos templos a deidades
perennemente adversas. (Ya un secreto
Midas yace en cada uno de los rostros
urgentes de este siglo. Ya la rubia
y dulce Libertad reina entre esclavos.
Ya la Felicidad, entre infelices.)


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MATRIMÓNIO ARNOLFINI
(Van Eyck)

Que poderiam pensar estes antigos
senhores de nós? O quê esses semblantes
hieráticos e mortos? Imagino
o seu assombro ao contemplar o empenho obstinado
de uns dias futuros que não querem
mais que erguer vãos templos a divindades
perenemente adversas. (Já um secreto
Midas jaz em cada um dos rostos
urgentes deste século. Já a loura
e doce Liberdade reina entre escravos.
Já a Felicidade, entre os infelizes.)

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

 J. V. CUNNINGHAM


   IN INNOCENCE

In innocence I said,
"Affection is secure,
It is not forced or led."
No longer sure

Of the least certainty
I have erased the mind,
As mendicants who see
Mimic the blind.


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  EM INOCÊNCIA

Em inocência disse,
"O afecto é seguro.
Nada o força ou ordena."
Já nada certo

Da mínima confiança  
Apaguei o pensamento,
Como pedintes que vêm
Imitam os cegos.

terça-feira, 22 de setembro de 2020

 DICK DAVIS



DON GIOVANNI

The unkissed mouth, unsubjugated eyes
Flower in the vacant air...
                                          slashed down they rise

In mocking, gossipy, distracting swarms,
A ghastly hydra of unconquered forms...

He rides forward. Poor knight, poor travesty -
His quest uncertain, his adversary
At once monotonous and protean,
Nis loneliness imense, his armour gone
Except the shield,
                             which bears this sad device 
"I know that something somewhere will suffice".


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DON GIOVANNI

A boca não beijada, olhos não domados
Flores no ar vácuo...
                                 açoitados erguem-se

Em enxames escarninhos, bisbilhoteiros, perplexos,
Uma hidra espectral de formas invencíveis...

Continua  a galopar. Pobre cavaleiro, pobre caricatura -
Incerta a sua demanda, o seu adversário,
À vez monótono e proteico.
A sua solidão imensa, a sua armadura perdida
À excepção do escudo,
                                     que transporta esta divisa triste
"Sei que algo algures irá bastar".


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

 MIGUEL D'ORS



    MARZO

En el aire flotan ya
sospechas de primavera.
Viene la abeja a la figuera,
duda, se queda, se va.

Presiente el jaracandá
un azul por su madera.
Brincan por la carretera
tres urracas - jajjajá -.

Estrenan verdes más tersos
las hojas diminutivas.
Vuelven de otros universos

las golondrinas, cursivas.
Y a d'ors le asaltan los versos
en horas intempestivas.

                          17-XII-2010


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    MARÇO

No ar flutuam já
suspeitas de primavera.
Vem a abelha à figueira,
duvida, para, vai-se.

Pressente o jacarandá
um azul pelo seu lenho.
Brincam pela estrada
três pegas - "iaiaiá" -.

Estreiam verdes mais puros
as folhas diminutivas,
voltam de outros universos

as andorinhas, cursivas.
E a d'ors assaltam-no versos
em horas intempestivas.


domingo, 20 de setembro de 2020

 W. H. AUDEN


    MUNDUS ET INFANS

                            (For Albert and Angelyn Stevens)

 Kicking his mother until she let go of his soul
Has given hiam a healthy appetite: clearly, her rôle
             In the New Order must be
To supply and deliver his raw materials free;
             Should there be any shortage,
She will be held responsible; she also promises
To show him all such atentions as befit his age.
             Having dictated peace,

Wjth one fist clenched behind his head, heel drawn up to thigh
The cocky little ogre dozes off, ready,
            Though, to take on the rest
Of the world at the drop of a hat os the mildest
            Nudge of the impossible.
Resolved, cost what it may, to sieze supreme power and
Sworn to resist tirany to the death with all
             Forces at his command.

A pantheist not a solipsist, he co-operates
With a universe of large and noisy feeling-states
            Without troubling to place
Them anywhere special for, to his eyes, Funnyface
             Or Elephant as yet
Mean nothing. His distinction between Me and Us
Is a matter of taste; his seasons are Dry and Wet,
             He thinks as his mouth does.

Sity is still what onjy the
Greatest of saints become - someone who does not lie:
            He because he cannot
Stop fhe vivid present to think, they by having got
            Past reflection into
A passionate obedience in time. We have our Boy-
Meets-Girl era of mirrors and muddle to work through,
            Without rest, without joy.

Therefore we love him because his judgements are so
Frankly subjective tahat his abuse carries no
            Personal sting. We should
Never dare offer our helplessness as a good
            Bargain, without at least
Promising to overcome a misfortune we blame
History or Banks or Weather for: but this beast
            Dares to exist without shame.

Let him praise our Creator with the top of his voice,
Then, and the motons of his bowels; let us rejoice
            That he lets us hope, for
He may never become a fashionable or
            Important personage:
However bad he may be, he has not yet gone mad;
Whoever we are now, we were no worse at his age,
           So of course we ought to be glad

When he bawls the house down. Has he not a perfect right
To remind us at every moment how we quite
           Rightly expect each other
To go upstairs or for a-walk, is we must cry ovrt
           Spilt milk, such as our wish
That, since apparently we shall never be above
Either or both,we had never learned to distiguish
           Between hunger or love? 


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    MUNDUS ET INFANS

                             (Para Albert e Angelyn Stevens)

Pontapear a mãe até que ela lhe liberte a alma
Deu-lhe um apetite saudável: definitivamente
             O lugar dela na Nova Ordem
É encontrar e fornecer os materiais de que ele precisa;
             Se houver penúria
A culpa é dela; deve, além do mais,
Consagrar-lhe toda a atenção que lhe é devida.
             Tendo proclamado a paz,

Com o punho fechado por trás da cabeça e o calcanhar
Coçando a coxa, o ogrezinho arrogante dormita,
             Pronto, todavia, a arrasar
O resto do mundo se uma folha bulir ou o impossível
             O acotovelar minimamente,
Determinado, a todo o custo, a conquistar o poder supremo
E jurando resistir à tirania até à morte, com todas
             As forças que comanda.

Despreza o solipsismo, panteísta coopera
Com um Universo de sensações grandes e barulhentas,
            Sem preocupação em ordená-las,
Pois aos seus olhos o Palhaço ou o Elefante
            Nada significam ainda.
É questão de gosto a sua destrinça entre Eu e Nós;
As suas estações são seco e molhado;
            Ele pensa com a sua boca.

Só os maiores santos alcançam
A sua iniquidade ruidosa - alguém que não mente;
           Ele, porque não pode 
Parar o vívido presente para pensar, eles porque
           Pela meditação atingiram
Uma obediência apaixonada, a tempo. Nós temos a nossa
Era leviana de espelhos e perturbações para cuidar
           Sem repouso, sem alegria.

Amamo-lo, porque os seus juízos são tão ingenuamente
Subjectivos, que a sua prepotência não supõe
          Malícia. Nunca deveríamos
Arriscar-nos a oferecer o nosso desamparo
           Como bom negócio, sem
Pelo menos prometer suplantar um infortúnio
De que acusamos a História, os Bancos, ou o Tempo: esta 
           Besta, porém, ousa existir sem culpa.

Deixem-no louvar o Criador em voz alta
E também o rumor dos seus intestinos; regozijêmo-nos
           Por ele nos permitir esperanças,
Porque pode nunca vir a ser alguém
           Popular ou importante:
Por mau que venha a ser, ainda não endoideceu;
Como quer que sejamos hoje, nessa idade não éramos piores;
           Assim deveriamos alegrar-nos

Quando o seu grito abana as paredes. Não tem o direito
De nos lembrar, a cada momento, que todos
           Esperávamos que o outro
Suba as escadas ou vá passear, se temos de
           Chorar sobre leite derramado,
Como, pois nunca estaremos acima de nenhum,
O nosso desjo de nunca aprendermos a distinguir
           Entre a fome e o amor? 
            


quinta-feira, 17 de setembro de 2020

 LUCIANO ERBA


    SENZA RISPOSTA 

Ti há portato novembre. Quanti mesi 
dell’anno durerà la dolceamara 
vicenda di due sguardi, di due voci? 
Se io avessi una leggenda tuta scritta 
direi che questo tempo che si sfiora 
ci appartiene da sempre. Ma non sono 
che un uomo tra mille e centomila 
ma non sei 
che una donna portata da novembre 
e un mese donna e un altro ci saccheggia. 
Sei una donna 
che oggi tiene un naufrago impaziente 
dimmi tu 
sei scoglio 
o continente?


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    SEM RESPOSTA 

Trouxe-te novembro. Quantos meses 
do ano durará o doce-amargo 
encontro de dois olhares, de duas vozes? 
Se eu tivesse uma história toda escrita 
diria que este tempo que nos aflora 
sempre foi nosso. Mas sou apenas 
um homem entre milhares e centenas de milhares 
mas tu és 
apenas uma mulher trazida por novembro 
e um mês dá e outro saqueia. 
És uma mulher 
que hoje segura um náufrago impaciente 
diz-me 
és uma rocha 
ou um continente?

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 MIR BERNAT E SIFRE  (...1200...)


Mir Bernat mas vos ai trobat
a Carcassona la ciutat
d'une re-m tenc per issarat
e volh vostre sen m'en aon
en una domn'ai la mitat
e no-m sui ges ben acordat
si-m vals mais d'aval o d'amon.

Sifre be-us tene per arribat
car conselh m'avetz demandat
et eu donar  lo-us ai onrat
car forte n cossir de prion
so sapchatz ben en veritat
que si-m creziatz c'est mercat
per ves penriatz devers lo con.

Mir Bernat ben es enportus
car no-m respondetz ab mots clus
la domna prezatz mai dejus
et ai vos auzitz dire don
ja no-m volha lo rei Jesus
s'eu enans non la prenc dessus
de lai on sos cabelhs se ton.

Sifre lo melhs laissatz e-lh plus
e so que mais ama cascus
segub la natura e lús
que fan l'autre bon drut pel mon
val mais o d'aval no fa-lh mus
e ja trobares no-m n'escus
qu'om genser de mi no-i respon.

Mir Bernat per pauc no-an n'irais
car mi respondetz motz savais
e cela part presatz trop mais
que los drutz e-ls maritz cofon
que mai en val us gens assais
qu'om embratz e manei e bais
boca e olh e cara e fron.

Sifre no-us cugetz qu'eu-m biais
ni-lh melhs per lo sordeior lais
que tot dia abras e bais
fraire cozi e segon
mais d'aisso dic que sui verais
que tota drudaria nais
d'aquel cap d'on plus se rescon.

Mir Bernat ast joc ai partit
e tenc vos tot per escarnit
car eu ab conselh del marit
m'en mostre bel semblan volon
del cap de sus que ai chauzit
e ai vos cel estrem gequit
que no-m pogra far jauzion.

Sifre vos avet falhit
a for de cavalier marrit
greu comensaretz gran ardit
car per paor si gilos gron
avetz cel laissat e gurpit
per que-lh bon drut son esbait
e quascus n'alh cor jauzion.


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Mir Bernat já que vos encontrei
na cidade de Carcassone,
sobre questão que me atormenta
quero que o vosso senso ajude;
de uma dona tenho a metade,
mas não cosigo decidir
se mais vale o baixo ou o alto.

Sifre, dou-te as boas vindas,
e se me pedes conselho
dá-lo-ei bem valioso,
que reflecti profundamente;
sabe bem, que na verdade,
se neste assunto me crês,
devias tomar o lado da cona.

Mir Bernat, que desagradável
não me responderes mais obscuro,
a dona tomais pela parte de baixo
e até vos ouvi dizer por onde.
Que o rei Jesus não me queira,
se não a tomo antes pelo alto,
ali onde corta o cabelo.

Sifre, deixas o melhor e mais importante
e o que todos mais apreciam,
segundo a natureza e o costume,
como fazem outros amantes no mundo;
mais vale o de baixo que a face
- irás perceber, não me desculpo,
que ninguém melhor te responde.

Mir Bernat, por pouco não me encolerizo,
pois respondes com palavras grosseiras;
prezais de mais essa parte
tão fatal a amantes como a marido;
mais vale um gentil ensaio
de abraços, festas, beijos
na boca, olhos e fronte.

Sifre, não julgues que sigo outra via
e deixo o melhor pelo pior,
que todos os dias abraço e beijo
irmãos, primos primeiros e segundos,
mas sobre isto digo que estou certo,
que todo o amor nasce
daquele sítio onde se esconde.

Mir Bernat, propus-te este jogo
e tenho-te por escarnecido,
pois tenho autorização do marido,
para que ele me faça boa cara,
de escolher a parte de cima
e deixo-te o outro lado,
que não poderia fazer-me feliz.

Sifre, tu falhaste
como um mau cavaleiro;
não farás grandes proezas,
se temes os grunhidos do ciumento;
abandonas o lado
que encanta os bons amantes
e a todos alegra o coração.


segunda-feira, 14 de setembro de 2020

GIUSEPPE CIOACHINO BELLI



    ER CAFFETTIERE FILOSOFO 

    L'ommini de sto monno sò ll'istesso 
che vagghi de caffè nner mascinino: 
c'uno primo, uno doppo, e un antro appresso, 
tutti cuanti però vvanno a un distino. 

    Spesso muteno sitio, e ccaccia spesso 
er vago grosso er vago piccinino, 
e ss’incarzeno tutti in zu l'ingresso 
der ferro che li sfraggne in porverino.

    E ll'ommini accusì vivenno ar Monno 
misticati pe mmano de la sorte 
che sse li ggira tutti in tonno in tonno; 

   e mmovennose ognuno, o ppiano, o fforte, 
senza capillo mai caleno a ffonno 
pa ccascà nne la gola de la Morte. 

                                                      22 Gennaio 1833


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    O CAFETEIRO FILÓSOFO 

   Os homens deste mundo são iguais 
a bagos de café dentro do moinho: 
um primeiro, outro depois, aquele segue, 
todos eles vão ao seu destino. 

   Muitos mudam de lugar, e muito bago 
grosso empurra o pequenino, 
atropelam-se todos no ingresso 
no ferro que os tritura em pó fino. 

   E os homens assim vivem no Mundo 
misturados pela mão da sorte, 
que os revolve em cada turno; 

   e cada um mexendo-se, fraco ou forte, 
sem entendê-lo tombam no fundo 
e caem dentro das goelas da Morte. 

                                         22 de Janeiro 1833


    LI MORTI DE ROMA  

   Cuelli morti che ssò dde mezza tacca 
fra ttanta ggente che sse va a ffà fotte, 
vanno de ggiorno, cantanno a la straca, 
verzo la bbùscia che sse l'ha dda iggnotte. 

   Cuell'antri, in cammio, c'hanno la patacca 
de Siggnori e dde fijji de miggnotte, 
sò ppiù cciovili, e ttiengheno la cacca 
de fuggì er zole, e dde viaggià de notte. 

   Ce'è ppoi 'na terza sorte de figura, 
'n'antra spesce de morti, che ccammina 
senza mocolli e ccassa in zepportura. 

   Cuesto semi noantri, Crementina, 
che cottivati a ppesce de frittura, 
sce bbutteno a la mucchia de matina. 

                                                23 Gennaio 1833


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    OS MORTOS DE ROMA 

    Aqueles mortos que são de média talha
 entre tanta gente que se fode, 
vão-se de dia, com cânticos cansados, 
para o buraco que os ignora. 

   Pelo contrário, aqueles que patente 
têm de Senhores e de filhos de puta, 
são mais civis, têm a elegância 
de evitar o sol, viajam de noite. 

   Ainda há uma terceira categoria, 
outra espécie de mortos, que caminha 
sem círio ou ataúde à sepultura. 

  Estes somos nós, ó Clementina, 
que semelhantes a peixes de fritura, 
são atirados para o monte de matina. 

                                                   23 de Janeiro 1833

sábado, 12 de setembro de 2020

 KHOSROW DEHLAVI (SÉC XII-XIV)


Ela ficou comigo a noite passada
         para apoquentar a presa abjecta;
quanto mais eu implorava,
         mais ela urgia demora;
a nossa conversa não tinha acabado
         quando a noite se tornou dia -
não há que culpar a noite,
          tínhamos muito para dizer.
        



ROKN-E-SAYEN (SÈC XIV))


Se a riqueza mundana
significa que dormes no luxo,
ou se a tua almofada
é a terra e a pobreza,
não te agarres a nada
(em breve será passado) -
e não te regozijes
do que não irá durar:
já que almas peregrinas
não têm aqui morada,
que há para glória de dois
dias? E o que temer?




sexta-feira, 11 de setembro de 2020

D. J. ENRIGHT  (Royal Leamington Spa, Inglaterra 1920-2002)



         THE EGYPTIAN CAT

How harsh the change, since those plump halcyon days beneath the chair of Nakht -
Poised in conscious honour above the prostate fish,
No backstair bones, no scraped and sorry skeleton, no death's-head
From a toppled dustbin, but sacred unity of fish and flesh and spirit -
Wiyh his stately fantail, its fiery markings like your own,
As tiger-god found good its tiger-offering...

For your seat is now among beggars, and neither man nor cat is longer honoured.
As you with your lank ribs slink, and he sprawls among his stumps.
Young boys, they say, lay their limbs on tram-lines to enter this hard métier -
But you, maddened among the gross cars, mocked by klaxons,
Lie at last in the gutter, merely and clearly dead...

And so I think of the old days - you, strong and a little malignant,
Bent like a bow, like a rainbow proud in colour,
Tense on your tail's taut spring, at Thebes -
Where Death reigned over pharaohs, and by dark arts
Cast a light and lasting beauty over life itself - you,
Templed beneath the chair, tearing a fresh and virgin fish.


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    O GATO EGÍPCIO

Que cruel a mudança, desde esses dias nédios, tranquilos debaixo da cadeira de Nakht -
Aprumado com honra consciente sobre o peixe abatido,
Nada de espinhas de refugo, nem esqueleto destroçado e penoso, nem cabeça de morte
De um caixote de lixo derrubado, mas unidade sagrada de peixe e carne e espírito -
Com a sua imponente cauda, as marcas ígneas como as dele mesmo,
Como deus-tigre que apreciou as suas oferendas de tigre...

Mas o teu lugar é agora entre mendigos, e nem homem nem gato são ainda honrados,
Enquanto tu, com costelas descarnadas, te esgueiras, e ele se estatela sobre os cotos.
Jovens, dizem, colocam os membros nas linhas de eléctrico para entrar neste duro métier -
Mas tu, enlouquecido entre os grandes carros, escarnecido pelas buzinas,
Jazes, por fim, na sarjeta, simples e nitidamente morto...

E assim penso nos dias de antigamente - tu, robusto e um pouco maligno,
Dobrado como um arco, como um arco-íris orgulhoso da cor,
Tenso na mola retesada da cauda, em Tebas -
Onde a Morte reinava sobre faraós, e por artes negras
Derramava uma beleza leve e duradoura sobre a própria vida - tu,
Entronado debaixo da cadeira, despedaçando um peixe fresco e virgem.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 MIROSLAV HOLUB (Pilsen, Checoslováquia 1923-1998)


As versões dos poemas de  Holub foram realizadas a partir de traduções em inglês, pelo que é omitido o poema original.



        CINDERELA

Cinderela está a escolher ervilhas:
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim.
Sem batota. Sem inverdade.

De algures o som da dança.
Os cavalos de alguém cabriolam.
Alguém cavalga com aprumo.

O chinelo já não está curto,
foram cortados os dedos para o baile.
Esta é a verdade. Não duvidem.

Cinderela está a escolher ervilhas,
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim.
Sem batota. Sem inverdade.

Chegam coches à porta do palácio
e todos fazem vénia perante 
a noiva auto-proclamada.

Não corre sangue. Apenas se ouvem
nitidamente pássaros vermelhos, de locais
distantes, quando aterram, de penas eriçadas.

Cinderela está a escolher ervilhas,
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim.

Sem pequenas nozes ou príncipe encantador
e todos ansiamos pelos braços da mãe,
mas há apenas uma esperança:

Cinderela está a escolher ervilhas:
gentilmente como quem une juntas
com dedos suaves como uma pena,
ou como quem amassa o pão.

E embora possa ser leve como o ar,
não mais que canção na cabeça de alguém,
existe aí um filamento de verdade.

Cinderela está a escolher ervilhas:
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim,
sem batota neste período.

Ela sabe estar por conta própria.
Sem pombos auxiliadores; está sozinha.
E, contudo, as ervilhas serão escolhidas.


terça-feira, 8 de setembro de 2020

 AURORA LUQUE



         INTERIOR

A menudo converso con mis sueños.
Los invito a salirse de la noche
y se sientan, con trajes neblinosos,
junto a mi mesa sucia de papeles.
Y les pregunto sobre su sintaxis
porque se ofenden si hablo de semántica.

Hoy he recuperado de sus manos
un fragmento de ti tan exquisito
como una noche de junio en Gil de Biedma,
un otoño de Keats o aquel sabor a polo de naranja
de las viejas mañanas de domingo-


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      INTERIOR

Amiúde converso com os meus sonhos.
Convido-os a sair da noite
e sentam-se, com trajes nebulosos,
junto â minha mesa suja de papéis.
E interrogo-os sobre a sua sintaxe
porque se ofendem se falo de semântica.

Hoje recuperei das suas mãos
um fragmento de ti tão requintado
como uma noite de junho em Gil de Biedma,
um outono de Keats ou aquele sabor a gelado de laranja
das velhas manhãs de domingo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 PABLO GARCÍA CASADO


PARADERO DESCONOCIDO

vivo aquí desde hace poco más de veinte días
en un barrio donde nadie nos mira con la radio
puesta toda la noche y el frigorífico lleno

de cervzas en el suelo la ropa de una mujer
cajas vacías de condones si todo sigue así mañana
en las noticias pondrán una foto con mis datos

personales


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PARADEIRO DESCONHECIDO

vivo aqui desde há pouco mais de vinte dias
num bairro onde ninguém nos olha com a rádio
ligada toda a noite e o frigorífico cheio

de cervejas no chão a roupa de uma mulher
caixas vazias de preservativos se continua assim amanhã
nas notícias porão uma foto com os meus dados

pessoais

domingo, 6 de setembro de 2020

 JULIO MARTÍNEZ MESANZA


    EVÉMERO DE MESENE

Yo he visto el túmulo de un dios en Creta:
creedme su tamaño era el de un hombre.


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   EVÉMERO DE MESENE

Eu vi o túmulo de um deus em Creta:
creiam-me: o seu tamanho era o de um homem. 

sábado, 5 de setembro de 2020

 ANTHONY HECHT



   LE MASSEUR DE MA SOEUR

                          I
My demoiselle, the cats are in the street,
Making a shrill cantata to their kind,
Accomplishing their furry, vigorous feat,
And I observe you shiver at it. You
Would rather have their little guts preserved
In the sweet excellence  of a string quartet.
But, speaking for myself, I do not mind
This boisterous endeavor; it can do
Miracles for a lady who's unnerved
By the rude leanings of a family pet.

                      II 
What Argus could not see was not worth seeing.
The fishy slime of his one hundred eyes
Shimmered all over his entire being
To lubricate his vision. A Voyeur
Of the first order, he would hardly blench
At thr fine calculations of your dress.
Doubtless the moonlight or the liquor lies
Somewhere beneath this visible  bonheur,
Yet I would freely translate from the French
The labials of such fleet happiness.

                   III
"If youth were all, our plush minority
Would lack no instrument to trick it out;
All cloth would emphasize it; not a bee
Could lecture us in offices of bliss fish nor fowl.
Then all the appetites, arranged in rows,
Would dance cotillions absolute as ice
In high decorum rather than in rout."
He answered her, "Youth wants no emphasis,
But in extravagance of nature shows
A rigor more demanding than precise."

                  IV
"Pride is an illness rising out of pain,"
Said the ensnaffled Fiend who would not wince.
Does the neat corollary then obtain,
Humility comes burgeoning from pleasure?
Ah, masters, such a calculus is foul,
Of no more substance than a wasting cloud.
I cannot frame a logic to convince
Your honors of the urgent lawless measure
Of love, the which is neither fish nor fowl.
The meekest rise to tumble with the proud.

               V
Goliath lies upon his back in Hell.
Out of his nostrils march a race of men,
Each with a little spear of hair; they yell,
"Attack the goat! O let us smite the goat!"
(An early German vision.) They are decked
With horns and beards and trappings of the brute
Capricorn, who remarked their origin.
Love, like a feather in a Roman throat,
Returned their suppers. They could not connect
Sentiment with a craving so acute.

           VI
Those paragraphs most likely to arouse 
Pear-shaped nuances to an ovoid brain,
Upstanding nipples undera sheer blouse,
Wink from the bolg original, and keep
Their wicked parlance to confound the lewd
American, deftly obscured from sin
By the Fig-Leaf Edition of Montaigne.
But "summer nights were nor devised for sleep,"
And who can cipher out, however shrewd,
The Man-in-the-Moon's microcephalic grin?


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   LE MASSEUR DE MA SOEUR


                    I
Minha demoiselle , os gatos estão na rua,
Entoando uma cantata estridente para os seus,
Alcançando a sua proeza felpuda, vigorosa
E observo-te a estremecer por isso. Tu
preferirias ter as suas pequenas tripas conservadas
Na excelência gentil de um quarteto de cordas.
Mas, no que me diz respeito, não me incomoda
Este empenho turbulento; pode fazer
Milagres para a dama que não se enerve
Com as inclinações grosseiras de um animal doméstico.

                  II
O que Argos não conseguia ver não merecia ser visto.
A ramela estranha dos seus cem olhos
Bruxuleava por todo o seu corpo
Para lubrificar a visão. Um voyeur
De primeira ordem, ele pouco evitaria
As elaboradas cautelas do teu vestido.
Sem dúvida o luar ou o licor ficam
Algures debaixo desta bonheur visível,
Ainda assim traduziria livremente do francês
As labiais de tal ligeira felicidade.

                III
"Se a juventude fosse tudo, à nossa minoria elegante
Não faltariam meios para a encenar;
Toda a roupa a enfatizaria; nenhuma abelha
Nos poderia industriar em assuntos de beatitude.
Então, todos os apetites, dispostos em filas,
Dançariam cotilhões absolutos como gelo,
Com grande decoro, que não em tropel."
Ele respondeu-lhe, "a Juventude dispensa ênfase,
Mas na extravagância da natureza mostra
Uma rigidez mais exigente que precisa."

               IV
"Orgulho é uma doença que nasce da dor,"
Disse o Demónio desapossado que não tremia.
Então deduz-se o corolário óbvio,
Que a humildade brota do prazer?
Ah, mestres, tal cálculo é fraudulento,
Sem mais substância que nuvem evanescente.
Não consigo construir uma lógica que convença
Vossas senhorias da medida urgente, ilegal
Do amor, que não é peixe, nem carne.
Os mais humildes erguem-se para tombar com os orgulhosos.

            V
Golias jaz de costas no Inferno.
Das suas narinas sai uma raça de homens,
Todos com uma pequena lança de pelo; gritam,
"Ataquem a cabra! Ó fustiguem a cabra!"
(Uma antiga visão germânica.) Estão providos
Com cornos e barbas e arreios do rude
Capricórnio, que assinalaram a sua origem.
O amor, como pena em garganta romana,
Devolveu-lhes as ceias. Não conseguiam ligar
O sentimento com um desejo tão intenso.

           VI
Esses parágrafos mais susceptíveis de incitar,
Matizes em forma de pera a um cérebro ovóide,
Mamilos erectos sob uma blusa pura,
Cintilam desde o destemido original e conservam
O seu palavreado malévolo para confundir o lascivo
Americano, habilmente oculto do pecado
Pela Edição de Montaigne Adaptada.
Mas "noites de verão não foram concebidas para o sono,"
E quem, mesmo sagaz, consegue decifrar
O esgar microcefálico do Homem da Lua?

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

 LUIS ALBERTO DE CUENCA


    EN PELIGRO

Había sangre en su vestido. Sangre
en el escote y en las piernas. Sangre
en las mejillas. Sangre seca. Oscura.
La desnudé y lavé. Mientras dormía,
fui en busca de cartuchos. No fue fácil
encontrarlos. Por fin aparecieron
entre viejos papeles y revistas.
Cargué el fusil. Había menos niebla.
Dos o tres horas y amanecería.


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   EM PERIGO

Havia sangue no seu vestido. Sangue
no decote e nas pernas. Sangue
na maçãs do rosto. Sangue seco. escuro.
desnudei-a e lavei-a. Enquanto dormia,
fui à procura de cartuchos. Não foi fácil
encontrá-los. Por fim, apareceram
entre papéis velhos e revistas.
Carreguei a espingarda. Havia menos nevoeiro.
Duas ou três horas e amanheceria.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

 JON JUARISTI


  L'ART POÉTIQUE BASQUE

Cruzan el cielo de Aquitania tristes
chorlitos otoñales. Viento frío
bate el vitral y la campana anuncia
la oración de la tarde. El caballero

Arnaldo de Oyenarte, funcionario
de la Corona y Síndico de Soule,
noblesse de robe, por tanto, está leyendo
las Tragiques de Agrippa d'Aubigné.

Cierra de pronto el libro y inclinándose
sobre el pupitre, empuña decidido
el cálamo y emprende la defensa

de nuestra dulce lingua nauarrorum
contra estragos de curas y copleros
que a qualquier cosa llaman poesía.


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  L'ART POÉTIQUE BASQUE

Cruzam o céu de Aquitânia tristes
tarambolas outonais. Vento frio
bate no vitral e o sino anuncia
a oração da tarde. O cavaleiro

Arnaldo de Oyenarte, funcionário
da Coroa e Síndico de Soule,
noblesse de robe, portanto, está lendo
as Tragiques de Agrippa d'Aubigné.

Fecha de imediato o livro e inclinando-se
sobre o púlpito, empunha decidido
o cálamo e empreende a defesa

da nossa lingua nauarrorum
contra estragos de curas e letristas
que a qualquer coisa chamam poesia.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

 WELDON KEES



  FOR H. V. (1901-1927)

I remember the clumsy surgery: the face
Scarred out of recognitio, ruined and not his own.
Wax hands fattened among pink silk and pinker roses.
The minister was in fine form that afternoon.

I remember the ferns, the organ faintly out of tune,
The gray light, the two extended prayers,
Rain falling on stained glass; the pallbearers,
Selected by the family, and none of them his friends.


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  PARA H. V. (1901-1927)

Recordo a cirurgia inábil: a face
Irreconhecível pelas cicatrizes, arruinada e que não era a sua.
Mãos de cera inchadas entre seda rósea e flores ainda mais róseas.
O oficiante estava em boa forma nessa tarde.

Recordo os fetos, o órgão ligeiramente desafinado,
A luz cinzenta, as duas preces prolongadas,
A chuva a cair nos vitrais, os que transportaram o caixão
Escolhidos pela família e nenhum deles seu amigo.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

 VÍCTOR BOTAS


   NIÑOS

Juegan

            La sonrisa insinúase

en los labios

                      Voces

                                  Cuerpos flexibles

como juncos


                     La tarde

entre sus manos

                            cesa

se pone delicada


                            Ignoran

la enorme soledad que llevan dentro



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   CRIANÇAS


Jogam  

           O sorriso insinua-se

nos lábios

                  Vozes

                             Corpos flexíveis

como juncos


                      A tarde

entre as suas mãos

                               cessa

põe-se delicada


                          Ignoram

a enorme solidão que levam dentro


  FRANK O'HARA PISTACHIO TREE AT CHATEAU NOIR Beaucoup de musique classique et moderne Guillaume and not as one may imagine it sounds no...