MIROSLAV HOLUB (Pilsen, Checoslováquia 1923-1998)
As versões dos poemas de Holub foram realizadas a partir de traduções em inglês, pelo que é omitido o poema original.
CINDERELA
Cinderela está a escolher ervilhas:
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim.
Sem batota. Sem inverdade.
De algures o som da dança.
Os cavalos de alguém cabriolam.
Alguém cavalga com aprumo.
O chinelo já não está curto,
foram cortados os dedos para o baile.
Esta é a verdade. Não duvidem.
Cinderela está a escolher ervilhas,
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim.
Sem batota. Sem inverdade.
Chegam coches à porta do palácio
e todos fazem vénia perante
a noiva auto-proclamada.
Não corre sangue. Apenas se ouvem
nitidamente pássaros vermelhos, de locais
distantes, quando aterram, de penas eriçadas.
Cinderela está a escolher ervilhas,
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim.
Sem pequenas nozes ou príncipe encantador
e todos ansiamos pelos braços da mãe,
mas há apenas uma esperança:
Cinderela está a escolher ervilhas:
gentilmente como quem une juntas
com dedos suaves como uma pena,
ou como quem amassa o pão.
E embora possa ser leve como o ar,
não mais que canção na cabeça de alguém,
existe aí um filamento de verdade.
Cinderela está a escolher ervilhas:
podres para aqui, sãs para ali,
sim e não, não e sim,
sem batota neste período.
Ela sabe estar por conta própria.
Sem pombos auxiliadores; está sozinha.
E, contudo, as ervilhas serão escolhidas.
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