AUGUST KLEINZAHLER
FOLLAIN'S PARIS
I can remember first walking to the city
accompanied by rumors buzzing in the hedgerows.
I made my way past big red villas,
a perfect decor for both the criminal and his victim.
Small children played under carts
while babies in the chestnut's shadows
slept and wet through the afternoon.
There is an abundant peace to be found here
in the blue, then gray and mauve eyes
of the voluptuous women cutting bread into an embossed tureen.
The path to La Courtille has been dug up by pickaxes
but the sky hasn't changed,
tinted by smoke rising from café-restaurants
and the apartments of the rich
with their Belle Epoque furniture,
popular once more what this latest crop of indolents
always chattering about foreign travel
and smoking Turkish cigarettes.
As for the foreign smoke,
it raises into the same old blue sky of the Middle Ages
the jongleurs and dream-brokers tried to climb.
Literature and life are warming to each other.
At the Botanical Gardens a stiff breeze
arrives with early evening, shaking
the small signs with Latin names on them
that hang half-hidden amid clusters of plants.
What a beautiful night for a philosophical debate!
A man follows the alleyways
back to his flat with its persistent odor
that somehow has survived all the women perfumed
with heliotrope. He inspects the place
until he comes upon his shaving mirror,
spotted with coagulated drops of blood.
He takes off his sweaty shirt
and dust settles in the tufts of his armpits.
Old images possess him
as he lounges on his bed with its peony-colored coverlet
turned down. Images of Flanders and Artois,
the country girl smiling at the miner
who fusses with his Davy lamp.
Images of the Midi and burning walls.
He hasn't forgotten his copies of Salambô,
Les Ordelletes and Poèmes saturniens
stacked on the shelves.
But for now he is preoccupied
with a hole in his stock, and besides
the books are looking worn.
Later on you may encounter him
walking the pavement of the quai de l'Oise,
watching wrinkles form on the water's surface,
or across the street
moving against a backdrop of brown doors.
He takes a elbow in the ribs
at a busy intersection, and when the north wind
has at him as well
he yearns for spinach and quail fat,
the dark juices of roasts and splendid silverware.
He passes a dilapidated bar with a sign
of a curiously tempered charm
that cost the painter not a little care.
The museum nearby is closed
with its coughs and slow steps,
its canoes, its Aztec mummies and once-poisoned arrows.
While at the Emporium
the feverish shoplifter dips her ringed fingers
into the lingerie.
(with Deborah Treisman)
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O PARIS DE FOLLAIN
Lembro-me de caminhar pela primeira vez para a cidade
acompanhado de rumores zumbindo nas sebes.
Passei por grandes mansões vermelhas.
um cenário perfeito para o criminoso e a sua vítima.
Crianças pequenas brincavam debaixo de carrinhos,
enquanto bebés à sombra dos castanheiros
dormiam e urinavam durante a tarde.
Há uma paz abundante a econtrar-se aqui
nos olhos azuis, logo cinzentos e malva
das mulheres vuluptuosas a cortar pão para terrinas embutidas.
O caminho para La Courtille foi escavado com picaretas,
mas o céu não mudou,
tingido por fumos saídos dos cafés-restaurante
e dos apartamentos dos ricos
com uma mobília Belle Epoque,
popular, de novo, com esta colheita mais recente de indolentes
sempre a palrear sobre viajens ao estrangeiro
e a fumar cigarros turcos.
Quanto ao fumo da fábrica,
sobe para o mesmo céu azul da Idade Média
a que os malabaristas e os mediadores de sonhos tentam trepar.
A liretatura e a vida confortam-se mutuamente.
Nos Jardins Botânicos uma brisa rigída
chega ao fim da tarde, sacudindo
as pequenas placas com nomes em latim,
penduradas meio escondidas entre conjuntos de plantas.
Que bela noite para um debate filosófico!
Um homem segue as veredas
de regresso ao seu apartamento com o odor persistente,
que acidentalmente sobreviveu a todas as mulheres perfumadas
com heliotrópio. Inspecciona o local,
até que chega ao seu espelho de barbear,
manchado por gotas de sangue coaguladas.
Despe a camisa suada
e o pó assenta nos pelos dos sovacos.
Velhas imagens possuem-no
quando se estende na cama com a sua cobertura cor de peónia
puxada para os pés. Imagens de Flandres e de Artois,
a camponesa que sorri para o mineiro
que a inquieta com a sua lâmpada de Davy.
Imagens do Midi e de paredes ardentes.
Não esquecem os seus exemplares de Salambô,
Les Odelletes e Poèmes saturniens,
arrumados nas estantes.
Mas por agora está preocupado
com um buraco na meia e, além disso,
os livros parecem gastos.
Mais tarde poder-se-á encontrá-lo
caminhando no pavimento do quai de l'Oise,
observando as rugas que se formam na superfície da água,
ou do outro lado da rua,
a deslocarem-se contra um fundo de portas castanhas.
Apanha com um cotovelo nas costelas
num cruzamento concorrido e quando o vento norte
também o assalta
anseia por espinafres e gordura de codorniz,
os molhos escuros de assados e esplêndido talher de prata.
Passa por um bar delapidado com uma tabuleta
de um encanto curiosamente cuidad
que custou ao pintor não pouca preocupação.
O museu vizinho está fechado
com as suas tosses e degraus lentos,
as suas canoas, as múmias aztecas e stas antes venenosas.
Entrando no Emporium
a febril ladra de lojas mergulha os dedos com anéis
na lingerie.
(com Deborah Treisman)