MIROSLAV HOLUB
O PASTOR DE NUVENS DE HANS ARP
Nascido por cesariana
(enquanto outros foram atirados ao
mundo com a água do banho), excluído de
antologias que parecem
fornos para bolos de Natal,
com fundos oculares poupados
a lugrube diabetes poética,
imagina um unicórnio nos prados
enxugados por gelo inesperado
para anestesia local,
e observa como igrejas
extravasam para fora das cidades,
uma a seguir à outra,
e vagueiam por campos da Jutlândia,
arrebanhadas como ovelhas,
de cabeças juntas,
como os autocarros saem das cidades
em rebanhos vermelhos
e se enterram como
escaravelhos funerários, zumbidores
em montes de toupeira de inverno,
observa como traficantes fogem das cidades,
como lemingues dirigindo-se a um mar distante,
e repara que tudo o que sobra das cidades
é um muro com desenhos de criança, a lápis,
e uma grande, elevada
parábola de alumínio,
brilhando ao sol,
como espada de faraó,embora
com um sino na ponta,
e subindo para um céu alcochoado
com a seda de sondas cósmicas
e
(enquanto outros fazem adubo
de poesia para cultivar malmequeres
e couve chinesa) ele, inadvertidamente
planta uma linha fina
e terna para Hans Arp,
ele sorri
porque conhece a próxima
desintegração de cidades
e o nascimento de uma nova geometria.