AUGUST KLEINZAHLER
SAN FRANCISCO / NEW YORK
A red band of light stretches across the west,
low over the sea, as we say goodbye to our friend,
Saturday night, in the room he always keeps unlit
and head off to take in the avenues,
actually take them in, letting the gables,
bay windows and facades impress themselves,
the clay of our brows accepting the forms.
Darkness falls over the district's slow life,
miles of pastel stucco canceled
with its arched doorways and second-floor businesses:
herbalists and accountants, jars
of depilatories. Such a strange calm, the days
lengthening and asparagus already
under two dollars a pound.
Is New York fierce?
The wind, I mean. I dream of you in the shadows,
hurt, whimpering. But it's not like that, really,
is it? Lots of taxis and brittle fun.
We pass the shop of used mystery books
with its ferrety costumers and proprietress
behind her desk, a swollen arachnid
surrounded by murder and the dried-out glue
of old paperback bindings.
What is more touching
that a used-book store on Saturday night,
dowdy clientele haunting the aisles:
the girl with bad skin, the man with a tic,
some chronic ass at the counter giving his art speech?
How utterly provincial and doomed we feel
tonight with the streetcar appearing over the rise
and at our backs the moon full in the east,
lighting the slopes of Mount Diablo
and the charred eucalyptus in the Oakland hills.
Did you see it in the East 60's
or bother to look after it downtown?
And where you have found it,
shimmering over Bensonhurst, over Jackson Heights?
It fairly blooms down on us tonight
with the sky so clear,
and through us
as if these were ruins, as if we were ghosts.
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SAN FRANCISCO / NEW YORK
Uma faixa vermelha de luz percorrendo o oeste,
mesmo junto ao mar, quando nos despedimos do nosso amigo,
Sábado à noite, no quarto que mantinha sempre às escuras
e sair para alcançar as avenidas,
na verdade interiorizá-las, permitindo que empenas,
janelas de sacada e fachadas se inscrevessem,
o barro das nossas testas aceitando as formas.
A escuridão desce sobre a vida lenta do bairro,
milhas de estuque pastel canceladas
com pátios arqueados e negócios de segundo andar:
ervanárias e contabilistas, frascos
de depilatórios. Uma calma estranha, os dias
a alongarem-se e espargos já
a menos de dois dólares a libra.
Será New York violenta?
O vento, quero dizer. Imagino-te nas sombras,
ferida, lamuriosa. . Mas, na verdade, não é assim,
pois não? Montes de táxis e diversão frágil.
Passamos o alfarrabista de livros policiais
com os seus clientes esmiuçadores e a proprietária
atrás da secretária, um aracnídeo inchado
rodeado por assassínio e cola seca
de velhas encadernações de capa mole.
Que mais tocante,
que um alfarrabista, num Sábado à noite,
com clientela desleixada assombrando os corredores:
a rapariga com problemas de pele, o homem com um tique,
algum idiota crónico debitando discurso sobre arte, ao balcão?
Quão completamente provincianos e condenados nos sentimos
hoje à noite, com o eléctrico a aparecer na subida
e nas nossas costas a lua cheia a leste,
iluminando os declives de Mount Diablo
e os eucaliptos carbonizados nas colinas de Oakland.
Viste-o no East nos anos 60
ou tentaste procurá-lo no Centro?
E onde o terias encontrado,
tremeluzindo sobre Bensonhurst, sobre Jackson Heights?
Ressoa honestamente em nós, esta noite
com o céu tão límpido
e através de nós,
como se isto fossem ruínas, como se nós fossemos fantasmas.
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