segunda-feira, 21 de março de 2022

MIGUEL D'ORS 

CONVERSACIÓN CON EL OTRO

Lo sabemos los dos: somos muy diferentes
y coincidimos poco en opiniones
y costumbres: tú seco, altivo, formalista;
yo tímido, inseguro, con la lágrima fácil.
Tú miembro diligente 
del Opus Dei; yo pecador, oveja
blanca y negra, y un tanto cimarrona,
del rebaño de Cristo, con muy poco entusiasmo
por los curas. Tú serio; yo proclive a reírme
del Sistema Solar,
de ti, de mí y aun de mi propria risa.
Tú un burgués sin problemas; yo un problema
bancario vitalicio. Tú huraño y solitario;
yo multitudinario de amistad
y solitario. Tú de derechas; yo todo
dificultades para diferenciar el asco
del comunismo y del consumismo.

Pero después, fantasma advenedizo,
criatura del rencor, después de tantos
años de compartir el mismo nombre,
de llevarte a mi lado noche y día
junto a mi Àngel Custodio (vaya dúo),
de verte llegar siempre a todas partes
por delante de mí - y oír el alboroto,
hacer de tripas corazón, y adentro -,
después de tantas tortas
dirigidas a ti que terminaron
en mi cara(1), no es raro
que hayamos acabado comprendiéndonos
y hasta, de alguma forma, ya lo vea,
teniéndonos cariño.
                                         26-III-2003

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1 ¿Recuerdas, por ejemplo, la llegada a Granada,
qué bonita campaña, con carteles,
llamada al orden del decano, etcétera?,
¿y mi larga carrera de poeta inexistente?
¿y aqueelos silogismos bizantinos
con que los editores rechazaban mis libros
creyendo que eran tuyos?


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Sabemo-lo os dois: somos muito diferentes
e coincidimos pouco em opiniões
e costumes - tu seco, altivo, formal;
eu tímido, inseguro, de lágrima fácil.
Tu, membro diligente
da Opus Dei, eu, pecador,
ovelha branca e negra, e um tanto tresmalhada,
do rebanho de Cristo, com muito pouco entusiasmo
pelos curas. Tu, sério; eu, propenso a rir-me 
do Sistema Solar,
de ti, de mim e do meu próprio riso.
Tu, um burguês sem problemas; eu, um problema
bancário vitalício. Tu, arredio e solitário,
eu, de amizades multitudinárias
e solitário. Tu das direitas, eu cheio
de dificuldade para distinguir o asco
do comunismo e do consumismo.

Mas depois, fantasma arrivadiço,
criatura do rancor, depois de tantos 
anos de partilhar o mesmo nome,
de levar-te ao meu lado noite e dia
junto ao meu Anjo Custódio (que duo)
de ver-te chegar sempre a todo o lado
à minha frente - e ouvir o alvoroço,
fazer das tripas coração e adiante -, 
depois de tantas tortas
que te eram dirigidas acabarem 
na minha cara(1)  não é bizarro
que tenhamos acabado por nos compreender
e até, de alguma forma, vá lá,
a ter-nos carinho.

                                              26-III-2003

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(1) Recordas, por exemplo, a chegada a Granada,
que bonita campanha, com cartazes,
chamada à ordem do decano, etcétera?
e a minha longa carreira de poeta inexistente?
e aqueles silogismos bizantinos
com que os editores recusavam os meus livros
crendo que eram teus?

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