sábado, 1 de janeiro de 2022

 VÍCTOR BOTAS


ASTURCÓN
(Epílogo marcial)


Este caballo de pequena alzada
que ciñe, como puede el torpe casco
a un trote acompasado, vino a ti
desde Astúrias. Comprendo
que los hay en Bética más dóciles,
con más escuela, vamos, y capaces
de recorrer la vía
Hercúlea, meneando
las cachas, casi casi
igual que Telezusa (sí, la chica
aquella, gaditana por más señas,
que de sobra podría
levantársela a un muerto
con sus danzas. Pero éste,
éste que vino
a ti desde las brumas
sigilosas del Norte, atravesando
a trancas y barrancas las alturas
de los montes astures, tan huraño,
tan modestito él, tan poca
cosa y, por si no bastara,
cojitranco, contento
se daría en los dientes con un canto,
si acertara a traerte,
para adornar tu sien, no el oro,
no las rituales ínfulas, tampoco
insensatas guirnaldas (a la postre
no se trata, supongo, de inmolar
una cerda preñada 
a la pródiga Ceres), sino algo
(imagina un instante que ahora mismo
emprendes, yo que sé, un largo viaje
a las míticas fuentes
del somnoliento Nilo
con tu amor imposible,
romántico y secreto), sino algo, decía,
muy parecido en todo
a una emoción inquieta y - ¡por qué no! ¡por qué no,
a ver, por qué? - unas gotas
de sonriente coña beatífica.


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ASTURCÓN
(Epílogo marcial)

Este cavalo de pequeno porte
que molda, como pode, o torpe casco
a um trote pausado, chegou-te 
das Astúrias, - Compreendo
que os há na Bética mais dóceis,
com mais escola, e capazes 
de percorrer a via 
Hercúlea, meneando
as ancas, quase quase
como Telezusa (sim, aquela
iga, pelos traços gaditana,
que, de sobra, poderia
fazer empinar a de um morto
com as suas danças). Mas este, 
este que te
chegou desde as brumas
sigilosas do Norte, atravessando 
todos os obstáculos das alturas
dos montes asturianos, tão furtivo,
modestíssimo, tão pouca
coisa e, como se não bastasse,
coxo a olhos vistos, contente
ficaria, entre os dentes, com um canto,
se acertasse em trazer-te,
para adornar as tuas têmporas, não o ouro,
nem as rituais ínfulas, tão pouco
insensatas grinaldas (pr fim
não se trata, suponho, de imolar
uma porca prenhe
à pródiga Ceres) mas algo
(imagina um instante que agora mesmo
empreendes, sei lá, uma longa viagem
às míticas fontes
do sonolento Nilo
com o teu amor impossível,
romântico e secreto) mas algo, dizia,
muito parecido em tudo
a uma emoção inquieta e - por que não? por que não,
vejamos, por quê- umas gotas
de sorridente trapaça beatífica.


Nota do Autor: Não se inquiete o leitor: isto de "epílogo marcial" não implica nenhuma belicosidade; recorda simplesmente, que os primeiros versos, que estão em itálico, tirei-os de um brevíssimo texto de Marco Valerio Marcial, intitulado, claro, "Asturcón".

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