quinta-feira, 30 de setembro de 2021

AURORA LUQUE


CESARIA

Está muerta.
                     Pero qué viva vas por el pasillo
que lleva de mi oído hasta las fosas,
los cubículos hondos
que edificó la noche cuerpo adentro
y que alquiló el deseo,
ese okupa canalla,
Cesaria, nuestro amigo.

La música, la música, esa conmovedora
y antigua ingenería del anhelo.
Si Cesaria le pone la salsa de la mar,
la va espolvoreando con luz de un archipélago
destartalado y cálido ¿puedo yo resistirme? Me gusta mi abandono.
Qué más me da ahogarme 
en el regazo amargo de una morna.
Si a la muerte le da por cantar nanas
es que imita a Cesaria, no lo duden.

Yo brindo por Cesaria.
Murió el año pasado,
                                   pero vive en mis sienes,
allí donde la música conecta
con las fosforescentes
médulas de la vida.       


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CESÁRIA

Está morta.
                   Mas que viva veio pelo corredor
que vai do meu ouvido até às covas,
os cubículos fundos
que edificou a noite corpo adentro
e que alugou o desejo,
esse okupa canalha,
Cesária, nosso amigo.

A música, a música, essa comovedora
e antiga engenharia do anseio.
Se Cesária lhe põe o molho do mar,
vai polvilhando-a com luz de um arquipélago
despedaçado e cálido,
posso eu resistir? Gosto do meu abandono.
Que me importa afogar-me 
no regaço amargo de uma morna.
Se à morte lhe dá para cantar canções de embalar
é que imita Cesária, não duvidem.

Eu brindo a Cesária.
Morreu o ano passado,
                                      mas vive nas minhas têmporas,
ali onde a música conecta
com as fosforescentes
medulas da vida.


1 comentário:

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