MIROSLAV HOLUB
NÓS QUE RIMOS
Fomos expulsos
da sala de aula, da praça,
do salão de jogos,
da Bolsa, do marcado,
do ecrã de televisão e
da moldura dourada
e de qualquer
história,
nós
que rimos.
A cidade inchou de importância
dois andares
e os aparelhos de escuta telefónica
escutaram melhor
(no silêncio)
e o porteiro
montou melhor vigilância
e o amor procurou uma faca
e a faca procurou sangue
(no silêncio)
e os ratos ficaram ainda mais
ratos (que nunca riem)
enquanto nós eramos expulsos
nós
que rimos.
Alguns pterodáctilos
aos círculos no céu de chumbo
e cavalinha e licopódio
cresceram nos canteiros
e um mastodonte elegíaco
observava desde a Câmara
para ver se regressávamos
nós
que riamos.
Não regressávamos.
Caminhámos pela calçada gasta
da rua sem fim,
entre o armazém e as fábricas,
entre a loja de peças e os montes de detritos,
entre as paredes com graffiti
e as casas vazias,
passos, passos, passos,
pelo espaço alongado
entre moitas, entre formigueiros
e
campos de minas
e
alguém tropeçou...e depois nada. Apenas silêncio.
Foi por isso que rimos.
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