quinta-feira, 6 de maio de 2021

 JON JUARISTI


EPÍSTOLA A LOS VASCONES 

                                  Arnaldo de Oyenarte (1592-1675)


                         I

Amigos, romos paisanos, prestadme oídos:
del polvo sepucral me he levantado 
para pediros póstuma indulgencia.

Pues os vi tan menguados de talento,
tan inermes. Dios mío, ante los filos
de la agudeza ajena,
me disteis tanta pena,
que di a mi vez salida al amoroso
impulso que en mi pecho se agitaba
(aunque hablando de dar, ¿qué se me daba
de vuestra mala baba,
si sólo me pagabais con denuestos?
¿Creéis que me embolsaba los impuestos,
los míseros impuestos que os cobraba?),
me disteis tanta pena, en fin, decía,
que, en vuestra lengua aldeana,
que era también la mía
(distingo: era la mía, mas no tanto.
Sabéis que prefería el raro encanto
del francés de Ronsard, o el sermo gravis
de Tácito, Polibio y Tito Livio.
si bien, de cuento en viento, y por alivio
del fatigoso estudio,
en vuestra ruda jerga de pastores,
requería de amores
a mis lindas vecinas
por las pina colinas suletinas).
decía pues que en vuestra dulce parla
(prefiero por ahora no nombrarla),
en el rústico idioma
que preservasteis del letal contagio
de la corrupta Roma,
libre de los errores de Pelagio,
de Lutero, Calvino y Galileo,
que guarda un fresco aroma 
de estiércol y de poma
y del ágil cabrón del Pirineo,
practiqué con vosotros, gente ingrata,
de Bayona a Ciordia,
obras de calidad y de misericordia.


                  II

Aún oigo ante mi puerta
el estruendo del bronco charivari.
Talasteis los frutales de mi huerta.

No estuvo bien aquuelo. Yo sabía
que no ibeis a nombrarme lendacari
en premio de mi excelsa poesía,
pero no suponía
que a tanto alcanzaría vuestra saña,
a tanto, que si a uña
de caballo trotón no gano España
o las suaves planícies de Gascuña,
ese día me dejó
en vuestras negras uñas el pellejo.


                III

Os hablo como amigo y al abrigo
del rigor que podáis usar conmigo
(en mi presente condícion, qué importa).
Pensaba, por mi parte:
"Al fin estes palurdos oyen arte.
Si mi ejemplo cundiera,
al cabo de diez siglos, el eusquera,
hoy bárbaro y enteco,
rivalizar podría con el checo,
y un escaldún cualquiera
- un fraile capuchino o un rebeco -
sería candidato a un premio sueco".
Fue vana mi esperanza,
porque seguís tan brutos como antes,
sin Franco y con Ardanza.
Tres siglos han pasado. Os hago gracía
de los siete restantes.
Nunca serán bastantes
para vencer la fiera contumacia
con que habéis resistido
a todo sabio que en el mundo ha sido.


                  IV

¿Os ofendéis? Ya veo.
Estando así las cosas, no es probable
que vayáis a erigirme un mausoleo.
Será inútil que os hable
de los muchos que os quise y aún os quiero.
Mas, si he sido severo,
aunque nunca del todo negativo,
reconoced que tiengo algún motivo.
Perdonadme, que acso yo os perdone,
y disculpad también que os abandone.
Entre los muros lóbregos de Dite,
esta noche me ofrecen un convite
tres viejos camaradas,
todos ellos poetas a destajo:
John Donne, que aun siendo obispo está aqui abajo
por escribir un par de cochinadas;
Agrippa d'Aubigné, el buen hugonote;
yun tal don Luis de Góngora y Argote,
un punto filipino
condenado a una dieta de tocino
y, por ende, de frente untanto arisca,
que, cuando abre el casino,
se juega las pestañas a la brisca.
Me vuelvo, pues, a mi infernal morada,
pero os dejo mi silva enamorada.


                        V 

Paciencia, que termino,
mas no quiero dejar de dar la lata
sin antes añadir una posdata.

Sé lo que estáis pensando y adivino
vuestro juicio o prejuicio más oculto:
"Seguro que serán de la otra acera.
¡Cómo le gusta echárselas de culto!"
Lo siento. La verdad, qué más quisiera
que encontrar un paisano en la caldera,
aunque fuese tan sólo un guipuzcoano,
y refrescar con él mi pobre esquera,
que lo tengo dejado de la mano.
Pero eso es imposible.
Sin ánimo de zumba,
os voy a revelar algo terrible:
no ha entrado aquí jamás un vasco neto.
Para alguien que ha pasado por la tumba
ya no es ningun secreto
que Dios, en su infinita Providencia,
no quiso que probaseis las manzanas
del Árbol de la Ciencia
)o no teníais ganas).
Lo cierto es que os rodea un halo, un nimbo
de honradez, de inocencia, de pureza.
Tened, hermanos míos, la certeza
de que os espera el Limbo.
Iréis todos al Limbo. De cabeza.


          xxxxxxxxxxxxxxxx


EPÍSTOLA AOS BASCOS

 
                                            Arnaldo de Oyenarte (1592-1675)

                           
                   I

Amigos, conterrâneos obtusos, prestem-me atenção:
do pó sepulcral me levantarei
para pedir-vos póstuma indulgência.

Pois vos vi tão minguados de talento,
tão inermes, Deus meu, ante os fios
da agudeza alheia,
destes-me tanta pena
que, pela minha vez, dei saída ao amoroso
impulso, que no meu peito se agitava
(ainda que falando de dar, que me importava
que gastasses saliva,
se só me pagáveis com injúrias?
Credes que embolsava impostos,
os míseros impostos que vos cobrava?),
destes-me tanta pena, dizia,
que na vossa língua aldeã,
que era também a minha
(distingo, era a minha, mas não tanto,
sabeis que preferia o raro encanto 
do francês de Ronsard, ou o sermo gravis
de Tácito, Políbio e Tito Lívio,
se bem que, quando calhava e para alívio
do fatigante estudo,
no vosso rude calão de pastores,
requeria os amores
das minhas lindas vizinhas
pelas empinadas colinas suletinas),
dizia, pois, que no vosso doce palrear
(prefiro, por agora, não nomeá-lo),
no rústico idioma
que preservastes do letal contágio
da corrupta Roma,
livre dos erros d Pelágio,
de Lutero, Calvino e Galileu,
que conserva um fresco aroma
de esterco e de pomo
e do ágil cabrão do Pirinéu,
pratiquei convosco, gente ingrata,
de Bayona a Ciordia,
obras de qualidade e misericórdia.


                  II

Agora ouço diante da minha porta 
o estrondo do bronco charivari.
Talastes os pomares da minha horta.

Aquilo foi malfeitoria. Já sabia
que não irieis nomear-me Lendakari
como prémio da minha excelsa poesia,
mas não supunha 
que tanto alcançasse a vossa sanha,
e tanto, que se acaso
de cavalo troteador não chego a Espanha
ou às suaves planícies da Gasconha,
nesse dia teria deixado
a pele nas vossas negras unhas.


                III

Falo-vos como amigo e ao abrigo
do rigor que pudesses usar comigo
(na minha presente condição, que importa).
A fé que, então, em vós tive não foi curta.
Pensava, pela minha parte:
"Por fim estes labregos ouvem arte.
Se o meu exemplo rendesse
ao cabo de dez séculos o euskera,
hoje bárbaro e enfermiço,
poderia rivalizar com o checo,
e um euscaldún qualquer
- um padre capuchinho ou um cabreiro -
seria candidato a um prémio sueco".
Foi vã a minha esperança,
porque seguis tão brutos quanto antes,
sem Franco e com Ardanza.
Passaram três séculos. Dou de presente
os restantes sete.
Nunca serão bastantes
para vencer a fera contumácia
com que tendes resistido
a todo o sábio que no mundo tem existido.


               IV

Ofendo-vos? Já vejo.
Estando assim as coisas, não é provável
que acabeis por erigir-me um mausoléu.
Será inútil que vos fale
do muito que vos quis e ainda vos quero.
Porém, se fui severo,
ainda que nunca de todo negativo,
reconhecei que tenho algum motivo.
Perdoai-me, que talvez eu vos perdoe
e desculpai que vos abandone.
Entre os muros melancólicos de Dite,
esta noite endereçam-me um convite
três velhos camaradas,
todos eles poetas prezados:
John Donne, que ainda que sendo bispo está cá em baixo
por ter escrito um par de trapalhadas;
Agrippa d'Aubigné, o bom huguenote,
e um tal de Luis de Góngora y Argote,
um desavergonhado,
condenado a um dieta de toucinho
e, além disso, de um semblante um tanto arisco
que, quando abre o casino,
joga os fundilhos na bisca.
Volto, pois, à minha infernal morada,
mas deixo-vos a minha silva enamorada.


                
                      V

Paciência, que termino,
mas não queria deixar de importunar
sem antes acrescentar um post-scriptum.

Sei o que estais pensando e adivinho
o vosso juízo ou prejuízo mais oculto:
"Seguro que serão do outro bando.
Como lhe agrada armar-se em culto!"
Lamento. A verdade é que muito gostaria
de encontrar um paisano na caldeira,
ainda que fosse apenas um guipuzcoano,
e refrescar com ele o meu pobre eusquera,
que tenho deixado muito de lado.
Mas tal é impossível.
Sem ânimo de chacota,
vou revelar-vos algo terrível:
aqui nunca entrou um basco puro.
Para alguém que passou pela tumba
já não é nenhum segredo
que Deus, na sua infinita Providência,
não quis que provasses as maçãs
da Árvore da Ciência
(ou nem vos apetecia).
O certo é que vos rodeia um halo, um nimbo
de honradez, de inocência, de pureza.
Tende, irmãos meus, a certeza
de que vos espera o limbo.
Ireis todos ao limbo. De cabeça.

                      
 





                   

Sem comentários:

Enviar um comentário

  FRANK O'HARA PISTACHIO TREE AT CHATEAU NOIR Beaucoup de musique classique et moderne Guillaume and not as one may imagine it sounds no...