sábado, 6 de março de 2021

 FERNANDO ORTIZ


ODA AL REGRESO DEL REY DON SEBASTIAN

                        Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra...
                                                                            
                                                                 FERNANDO PESSOA

En el último confín de Occidente
existe una ciudad donde es irreal la vida
o tan real al menos como el museo en el que se conserva
entre berninescos carruajes de embajadores, nuncios, reyes,
príncipes e infantinas,
la negra carroza de pesada madera
de quien fuera dueño del mundo,
un mundo o un imperio donde jamás se puso el sol.

Deambulando por sus calles y plazas
puede que encontréis e cualquier terraza sentado a un caballero
atildado, de redondas lentes,
vestido de negro como el Rey que Dios guarde,
sosteniendo entre sus dedos, fumador empedernido,
un cigarrillo que se consume como sus recuerdos,
como su hastío, como el viento que canta en las almenas
entre las torres de la tarde.

El caballero levanta sin prisa su copa de coñac
y toma um lento sorbo.
La vida hay que tomarla a lentos sorbos
o bien apurada de un trago.
En cualquiera de los dos casos a nadie -ni siquiera a uno mismo-
le importa demasiado el destino de nuestra vida,
lo mismo que no importa demasiado el destino del coñac de una copa
ni el d una copa de coñac.

Alguien, quizá un turista, se detiene a perguntarle la hora
y él contesta con cortesía
en un ceremonioso inglés literario y pulido:
"Sí. Es la hora de los estandartes
para que ondee el azur con las quinas plateadas.
Sebastián, rey de reynos, volvió desde el Océano
entre naves de niebla y albas picas de humo.
Si es que no vino por la carretera de Sintra,
por la carretera de Sintra, al volante de un Chevrolet prestado.


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ODE AO REGRESSO DO REI DOM SEBASTIÃO

                                        Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra...

                                                                      FERNANDO PESSOA

No último confim do Ocidente
existe uma cidade onde é irreal a vida
ou tão real, pelo menos, como o museu no qual se conserva
entre berninescas carruagens de embaixadores, núncios, reis,
príncipes e infantas,
a negra carroça de pesada madeira
de quem foi dono do mundo,
um mundo ou um império onde jamais se punha o sol.

Deambulando pelas suas ruas e praças
talvez se encontre em qualquer esplanada, sentado, um cavalheiro
pulcro, de redondas lentes,
vestido de negro, como o Rei que Deus guarde,
sustentando entre os dedos, fumador empedernido,
um cigarro que se consome como as suas recordações,
como o seu fastio, como o vento que canta nas ameias
entre as torres da tarde.

O cavalheiro levanta sem pressa um cálice de aguardente
e toma um lento sorvo.
A vida há-de ser tomada a lentos sorvos
ou então engolida de um trago.
Em qualquer dos casos a ninguém -nem sequer a si mesmo-
importa demasiado o destino da nossa vida,
assim como não importa demasiado o destino da aguardente de um cálice
nem o de um cálice de aguardente.

Alguém, talvez um turista, detém-se para lhe perguntar as horas
e ele responde com cortesia
num cerimonioso inglês literário e polido:
"Sim. São horas de levantar os estandartes
para que ondeie o azur com as quinas prateadas.
Sebastião, rei de reinos, voltou desde o Oceano
entre naves de névoa e albas lanças de fumo.
Se é que não veio pela estrada de Sintra,
pela estrada de Sintra, ao volante de um Chevrolet emprestado".

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