ALEKSANDAR RISTOVIC
PAISAGEM COM NEVE
O que confere tal destreza à tua mão, matador de porcos?
Aquele que, há um segundo atrás, tinha um olhar desesperado,
agora olha para ti humildemente e até com confiança.
Com a cabeça inclinada para trás, orelhas arrebitadas, a tua beldade
inspecionou o sol da manhã que tem a forma de uma lâmina,
enquanto a apertas entre os joelhos,
não deixando o cigarro cair-te da boca.
O que causa o teu riso súbito, carniceiro,
enquanto permaneces junto àquilo que há pouco vivia,
esfolando a pele como se fosse um vestido caro
e mergulhando as tuas mãos gordurosas no fundo do ventre?
Na verdade, qual é a razão para o teu silêncio
à mesa, com uma toalha branca e um copo de vinho embaciado,
enquanto violinos campestres ressoam pela casa
e as pessoas murmuram entre elas acerca disto e daquilo?
Sentas-te no trenó, enfiado em cobertores bordados,
vestido como um matador de porcos é suposto vestir-se,
e acaricias o fino pescoço da filha de um lavrador,
as suas orelhas e braços roliços,
enquanto à tua volta a neve continua a cair.
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