sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 JON JUARISTI


AYER

                                            A Juan Aranzadi

Odio estos burgos fríos del norte en que demora
su partida el inviermo:
plazas enjalbegadas por la nieve
y un letargo levítico bajo un sol macilento.

Viento estepario sopla en sus cantones.
Desde torres tristísimas ruedan las horas, pero
un solo instante llena la clepsidra
y es vano el vano resbalar del tiempo.

Sus bibliotecas publicas conservan
primeras ediciones de El Criterio.
Retratos de Aparisi, Nocedal, Manterola,
cuelgan en las paredes de sus ayuntamientos.

Tiendas agazapadas en sobrios soportales
venden devocionarios, añalejos,
cordones de San Blas, escapularios,
rosarios aromados al humo del sahumerio.

Y cuando cae la tarde, rebaños de canónigos
dejan las catedrales, y en un hosco silencio
se dispersan por calles angostas. Sacristanes
de caderas nefandas cierran los presbiterios.

No digáis que fue ayer. ¿Quién cantará victoria?
Mirad bajo la piel de nuestros pueblos,
allí donde el pasado se hace carne
y es la sustancia de vivir el tedio.

Mirad más adentro aún: la fibra en que dormitan
alcanforadas almas de curas y barberos
soñando un horizonte de boinas escarlata.
Rumor de fronda llega del fondo de su sueño.


      xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


ONTEM

                                          Para Juan Aranzadi

Odeio estes burgos frios do norte onde demora
a sua partida o inverno:
praças engessadas pela neve
e uma letargia levítica sob o sol macilento.

Vento de estepe sopra nas suas esquinas.
Desde torres tristíssimas rodam as horas, mas
um único instante enche a clepsidra
e é vão o vão resvalar do tempo.

As suas bibliotecas públicas conservam     
primeiras edições de El Criterio.
Retratos de Aparisi, Nocedal, Manterola,
pendurados nas paredes das câmaras municipais.

Lojas dissimuladas em sóbrios alpendres
vendem devocionários, breviários,
cordões de São Braz, escapulários,
rosários aromatizados por fumigação olorosa.

E quando cai a tarde, rebanhos de cónegos
saem das catedrais e num silêncio fosco
dispersam-se pelas ruas estreitas. Sacristãos
de ancas nefandas fecham os presbitérios.

Não digam que foi ontem. Quem cantará vitória?
Olhai debaixo da pele das nossas aldeias,
ali onde o passado se torna carne
e a substância de viver é tédio.

Olhai ainda mais para dentro: a fibra em que dormitam
almas canforadas de curas e barbeiros
sonhando um horizonte de boinas escarlate.
Rumor de frondas chega do fundo do seu sonho.                                          


Sem comentários:

Enviar um comentário

  FRANK O'HARA PISTACHIO TREE AT CHATEAU NOIR Beaucoup de musique classique et moderne Guillaume and not as one may imagine it sounds no...