sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 DICK DAVIS


A LETTER TO OMAR

1

I stood beside the ghastly tomb they built for you
And shudered with vicarious, mute guit for you;
Are concrete columns what they thought you mean?
I wanted wine, a glass turned down, drops split for you.

A sick child reads (is life is not imperilled -
He sucks the candied death-wish of FitzGerald);
I was that child, and your translated words
Were poetry - the muse's gaudy herald.

Was it for you I answered that advertisement
Before I knew what coasting through one's thirties meant?
If so I owe my wife and child to that
Old itch to get at what your Englished verses meant.

Thus in your land I doled out Shakespeare, Milton -
Decided I preferred sheep cheese to stilton
But knew as much of Persia or Iran
As jet-lagged fat cats at the Hilton.

My language-teacher was a patient Persian Jew
(I pray that he survives), a tchno-person who
Thought faith and verse vieux jeux; he thought me weird -
He learnt my lyalties and his aversions grew. 

Love proved the most effective learning lure and not
His coaxing tact: my girl required the score and plot
- Explained in halting, pidgin syllables -
Of our first opera (which was - aptly - Turandot).

When I had said, in crabbled words bare of ornament.
What La Bohème, The Magic Flute, and Norma meant
She married me; my Persian was still bad
But now I knew I knew what "nessun dorma" meant.

We set up home... but I feel more than sure you
Would nod assent to Dr Johnson's poor view
Of tulip streaks (Damn all particulars...)
And I desist - I wouldn't want to bore you.


2.

You left the busy trivia uspoken:
Haunted by vacancy, you saw unbroken
Miles of moonlight - time and the desert edge
The light-walled gardens, man's minute, brief token.

And I revelled in your melancholy
(Like mooching through the rain without a brolly)
It was the passion of your doubt I loved,
Your castigation of the bigot's folly.

Besides, whwt could be more peversely pleasant
To an ascetic, hungry adolescent
Than your insitent carpe diem cry
Of let conjecture go, embrace the present?

And all set out (I thought so then, I think so now)
In stanzas of such finely-wrought, distinct know-how
They were my touchstone of the art (it is
A taste our pretty litterati think low-brow).

Such fierce uncertainty and such precision!
That fateful metre mated with a vision
Of such persuasive doubt... grandeur was your
Decisive statement of our indecision.

Dear poet-scholar, would be alcoholic
(Well is the wine -or is it not- symbolic?)
You would and would not recognize the place -
Succession now is quasi-apostolic,

The palace is a kind of Moslem Deanery,
But government, despite this shift of scenery,
Stays as embattled as it ever was -
As individual, and as sanguinary.

The warring creeds still rage - each knows it's wholly right
And welcomes ways to wage the martyrs' holy fight;
You might not know the names of some new sects
But, as of old, the nation is bled slowly white.


3

Listen: "Death to the Yanks, out with their dollars!"
What revolution cares for poets-scholars?
What price evasive, private doubt beside
The publis certainties of Ayatollahs?

And every faction would find you a traitor:
The country of the Rubayat's creator
Was fired like stubbleas we packed our bags
And sought the province of its mild translator.

East Anglia - where passionate agnostics
Can burn their stictly non-dogmatic joss-sticks,
And take time off from moody poetry
For letters, crosswords, long walks and acrostics;

Where mist and damp make most men non-commited,
Where both sides of most battles seem half-witted,
Where London is a world away and where
Even the gossips felt FitzGerald fitted;

He named his boat The Scandal (no misnomer...)
And fished the coast from Lowestoft round to Cromer,
One eye on his beloved Posh, and one
On you or Virgil, Calderon or Homer;

Then wrote his canny, kind, retiring letters
To literature's aggressive, loud go-getters -
Carlyle and others I forbear to name
Who had the nerve to think themselves his betters;

You were the problems (metrical, semantic)
From which he made an anglicized Romantic -
The perfect correspondent to his pen
(Inward, mid-century, and not too frantic),

As you are mine in this; it makes me really sick
To hear men say they find you crass or merely slick;
Both you and your translator stay my heroes -
Agnostic blessings on you both!
                                                    Sincerely, Dick

November 1982


              xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx


UMA CARTA PARA OMAR 


1

Permaneci ao lado do túmulo medonho que te construíram
E estremeci por ti com culpa indirecta, muda;
Serão colunas de cimento o que acharam que querias dizer?
Eu queria vinho, um copo virado, gotas derramadas para ti.

Uma criança doente lê (a sua vida não está em perigo -
Ela sorve o desejo de morte açucarado de FitzGerald).
Eu era essa criança e as tuas palavras traduzidas
Eram poesia - o extravagante arauto da musa.

Terá sido por ti que eu respondi a esse anúncio
Antes de saber o que significava navegar os meus trinta anos?
Se asiim for devo as minas mulher e filha a essa
Velha ânsia de entendero que os teus versos traduzidos significavam.

Assim na tua terra partilhei Shakespeare, Milton -
Decidi que preferia queijo de ovelha a Stilton
Mas sabia tanto da Pérsia ou do Irão
Como nababos com jet-lag largados no Hilton.

O meu professor da língua foi um judeu persa
(Rezo para que sobreviva), um devoto de tecnologia que
Que considerava fé e poesia vieux jeux: achava-me bizarro.
Aprendeu que as minhas fidelidades e a sua aversão cresciam.

O amor provou ser o mais eficaz engodo de aprendizagem,
Não o seu jeito de persuasão: a minha namorada exigia pauta e enredo
- Explicado em sílabas tentativas de crioulo
Da nossa primeira ópera (que foi - adequadamente - Turandot).

Quando eu dissera em palavras rudes, despidas de ornamento,
O que La Bohème, A Flauta Mágica e Norma significavam
Ela casou comigo; o meu persa ainda era mau
Mas sabia agora que sabia o que "nessun dorma" queria dizer.

Montámos casa... mas estou mais que seguro
Que acenarieis consentimento à pobre opinião do Dr Johnson
Sobre os traços das tulipas (Que se danem os pormenores...)
E desisto - não quereria aborrecer-vos.


2

Deixaste as bagatelas buliçosas impronunciadas:
Acossado pela inanidade, viste ininterruptas
Milhas de luar - o tempo e o deserto deslocam
Os jardins de altos muros, indício humano, minímo, breve.

E se me deleitei na tua melancolia
(Como mendigando à chuva, sem protecção)
Era a paixão da tua dúvida que amava,
A tua punição da insensatez do fanático.

Além disso, que poderia ser mais perversamente atraente
Para um adolescente ascético, esfomeado,
Que o teu clamor insistente de carpe diem,
De abandonar conjecturas, abraçar o presente?

E tudo disposto (pensava-o então, penso-o agora)
Em estrofes de uma sabedoria tão intrincada e distints
Que foram as minhas pedras de toque da arte (é
Um gosto que os nossos amáveis literati acham medíocre).

Tanta incerteza feroz e tanta precisão!
Esse metro imprecindível unido a uma visão
De tão persuasiva dúvida... a grandeza era a tua
Afirmação decisiva da nossa indecisão.

Caro poeta-erudito, alcoólico putativo
(Bem, é ou não o vinho simbólico?)
Irias e não irias reconhecer o local -
A sucessão agora é quase apostólica,

O palácio uma espécie de Decanato Muçulmano,
Mas o governo, apesar desta mudança de cenário,
Permanece tão fortificado como sempre foi -
Tão individual e tão sanguinário.

Os credos combatentes ainda se enfurecem - todos sabem ter razão
E agradecem meios para travar a luta sagrada dos mártires,
Poderás não saber o nome de algumas novas seitas
Mas, como dantes, a nação é dessangrada lentamente.


3

Escuta: "Morte aos Ianques, fora com os seus dólares!" 
Qe revolução ciuda dos seus poetas-eruditos?
Que vale a dúvida evasiva, privada, perante
As certezas públicas dos Ayatollhs?

E todas as sitas te achariam um traidor:
O país do criador dos Rubaiyat
Pegou fogo como restolho, enquanto faziamos as malas
E procurámos a província do seu pacífico tradutor.

East Anglia! - onde agnósticos apaixonados 
Podem queimar os seus estritamente não dogmáticos paus de incenso
E dispensarem poesia soturna
por cartas, palavras cruzadas, caminhadas e acrósticos;

Onde nevoriro e humidade tornam muitos indiferentes,
Onde os dois lados da maioria das batalhas parecem pouco argutos,
Onde Londres está muito longe e onde 
Até as comadres achavam que FitzGerald pertencia;

Crismou o seu navio O Escândalo (o que não é inapropriado...)
E pescou na costa ao longo de Lowestoft até Cromer,
Um olho no seu amado Posh e outro
Em ti ou Virgílio, Calderón ou Homero;

Depois escreveu as suas astutas, gentis, reservadas cartas
Aos empresários agressivos, ruidosos da literatura -
Carlyle e outros que me abstenho de nomear
Que tiveram o desplante de se julgarem superiores;

Tu eras os problemas (métricos, semânticos)
A partir dos quais fez um anglicizado Romântico -
O correspondente perfeito para a sua pena
(Intrvertido, meso-secular e não demasiado frenético);

Como és meu nisto; fico verdadeiramente indisposto
Ao ouvir quem diz que te acha grosseiro ou apenas hábil;
Quer tu, quer o teu tradutor, permanecem meus heróis -
Bênçãos agnósticas para ambos!
                                                     Sinceramente, Dick.

Novembro 1982








Sem comentários:

Enviar um comentário

  FRANK O'HARA PISTACHIO TREE AT CHATEAU NOIR Beaucoup de musique classique et moderne Guillaume and not as one may imagine it sounds no...