RAIMON D'AVINHON
(...1209-1250...)
Sirvens sui avatz et arlotz
e comtarai totz mes mestiers
e portacarn e galiotz
e rofian e baratiers
e pescaires et escudiers
e sai ben de peira murar
pero de cuzir non trupe par
e mouta portei manhtas ves
et ai mais de mil auzels pres
e sus joglars bels avinens
e de set ordes sui crezens.
E fui mazekiers e fis dayz
e corregiers fui lors jamens
e sai far anels nel e gens
e rateiras per penre ratz
e far ausbercs e gonios
e asi far putas e jairos
e semnar blatz e fui boviers
e nais d'un mes mercandeniers
e sai far arcas e vaissels
penches e fus e cascavels
e sai far gabias e naus
cotels et espazas e faus
e sai esser pestres e cocs
e sui bos metges quant es locs.
E sai far selas et escutz
e sui clergues e cavaliers
et escrivas e taverniers
e sai ben penher e far glutz
e sai teisser e far carbo
e sai ben far de gal capo
e sai far teules e capels
e sai far jupas e jupels
e sai far lansas e bordos
e sui espessiers trop bos
e sai batre lan (d) e deniers
e sui fort cortes agulhiers
e sui cambiareis leials
e sui enves las femmas fals.
E serquei aur e pueis m'assis
a cavar argen per três ans
e fis estueiras e tamos
e fui corrieus arditz e grans
e sui far frese t esperos
e budelhiers sui a sazos
e fis caus e fui campaniers
e sui ben esser falconiers
e fui portiers e barrafautz
e gacha per freg e per caut
e bilhaires e berretiers
e fui de seda bos obriers
et engenhs fis si Dieus me gar
e cordas e pairols sai far.
Ancar n'ai avutz de melhors
qu'eu gardei fedas et anelhs
e fui crestaires de porcels
eteis fil de manhtas colors
e toquei azes e saumiers
e fui mai de dos mes porquiers
e fui penchenaire de li
e gardei mais d'un an moli
e fui marescals de cavals
e gardei eguas per las vals
e fui fabres e peilhiciers
balestiers e sabatiers
qui m'en vole creire, bon fols sui
e savis be, quan trupe-ab cui...
xxxxxxxxxxxxxxxx
Sevente sou, miserável e devasso
e contarei todos os meus ofícios
e talhante e pirata
e rufião e traficante
e pescador e escudeiro
e sei erguer muro de pedra,
mas para cozinhar não tanto,
e fui sineiro muitas vezes
e cacei mais de mil pássaros
e sou jogral belo e dotado
e das sete ordens crente.
E fui magarefe e joguei aos dados
e albardeiro, por muito tempo
e sei fazer anéis belos e gentis
e ratoeiras para caçar ratos
e fazer lorigões e armaduras
e sei ser puta e ladrão
e semear trigo e fui boieiro
e mais de um mês mercador
e sei fazer arcas e vasos,
pentes, fusos e guizos
e sei fazer galeras e barcos,
facas, espadas e foices
e sei fazer bolos e cozinhar
e sou bom médico, se necessário.
E sei fazer selas e escudos
e sou clérigo e cavaleiro
e escrivão e taberneiro
e sei pintar e fazer disfarces
e tecer e fazer carvão
e fazer bem, do galo, capão
e fazer panos e chapéus
e fazer saias e calções
e fazer lanças e piques
e sou merceeiro muito bom
e sei bater anel de ferro e moeda
e muito cortês vender agulhas
e sou cambiador leal
e para as mulheres sou falso.
E procurei ouro e depois
fui cavar prata por três anos
e fiz esteiras e peneiras
e fui mensageiro intrépido e louvado
e sei fazer freios e esporas
e por vezes fui tripeiro
e fiz cal e fiz campanas
e sei bem ser falcoeiro
e fui porteiro e espadachim
e sentinela ao frio e ao calor
e carregador e teceleiro
e com a seda bom obreiro
e engenhos fiz, pela graça de Deus,
e cordas e cadeiras sei fazer.
Até tive outros melhores,
guardei ovelhas e carneiros
e fui castrador de porcos
e teci fio de muitas cores
e conduzi asnos e bestas de carga
e menos de dois meses fui porqueiro
e cardador de linho
e tive, mais de um ano, moinho
e ferrei cavalgaduras
e guardei éguas nos vales
e fui ferreiro e peleiro
e balestreiro e sapateiro,
por quem me crer, sou bem louco
e bem sábio, se encontrar com quem...
Sem comentários:
Enviar um comentário