MIROSLAV HOLUB
POLÓNIO
Detrás de toda a tapeçaria
Detrás de toda a tapeçaria
ele cumpre o seu dever
com perseverança.
As paredes são os seus ouvidos,
buracos de fechadura os seus olhos.
Esgueira-se escada acima,
escorre do tecto,
flutua através da porta,
pronto a prestar testemunho,
provar o que está provado,
apunhalar com uma agulha
ou afixar uma ordem.
Os seus poemas rimam sempre,
o seu pincel mergulhado em mel,
a sua música flauta
de marzipão e cana.
Compra.se
ao quilo, sem osso,
um quilo de carne de cera,
um quilo de filosofia de ratos,
um quilo de lacaio
de geleia.
E quando tiver acabado a venda
e as sobras embrulhadas
num obituário de borlas,
uma notícia fúnebre paranóica
e quando o bolor gerador de esporos
da memória
o cobrir por completo,
quando cair
para as estrelas, de rabo para cima,
o continente todo ficará mais leve,
o eixo terrestre endireitará
e na arena retumbante da noite
um passáro irá gorjear de gratidão.
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