sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 MIROSLAV HOLUB


POLÓNIO

Detrás de toda a tapeçaria
ele cumpre o seu dever
com perseverança.
As paredes são os seus ouvidos,
buracos de fechadura os seus olhos.

Esgueira-se escada acima,
escorre do tecto,
flutua através da porta,
pronto a prestar testemunho,
provar o que está provado,
apunhalar com uma agulha
ou afixar uma ordem.

Os seus poemas rimam sempre,
o seu pincel mergulhado em mel,
a sua música flauta
de marzipão e cana.

Compra.se 
ao quilo, sem osso,
um quilo de carne de cera,
um quilo de filosofia de ratos,
um quilo de lacaio
de geleia.

E quando tiver acabado a venda
e as sobras embrulhadas
num obituário de borlas,
uma notícia fúnebre paranóica

e quando o bolor gerador de esporos
da memória
o cobrir por completo,
quando cair
para as estrelas, de rabo para cima,

o continente todo ficará mais leve,
o eixo terrestre endireitará
e na arena retumbante da noite
um passáro irá gorjear de gratidão.

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