quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

 MIROSLAV HOLUB


   A MOSCA

Pousou num tronco de salgueiro
observando
parte da batalha de Crécy,
os gritos,
os arquejos,
os gemidos,
a correria e a confusão.

Durante a décima quarta carga
da cavalaria francesa
acasalou
com uma mosca macho de olhos castanhos
de Vadincourt.

Esfregou as patas
e pousou num cavalo desventrado
meditando
na imortalidade das moscas.

Com alívio aterrou
na língua azul
do duque de Clervaux.

Quando o silêncio desceu
e apenas o murmúrio de podridão
rodeou levemente os corpos

e apenas
poucos braços e pernas
ainda se contorciam debaixo das árvores

começou a depositar os ovos
no único olho
de Johann Uhr,
o Armeiro Real.

E foi assim
que foi comida por um gaivão
que fugia
dos fogos de Estrées.

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