quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

 LUIS ALBERTO DE CUENCA


               ISABEL

Isabel se ha matado. Dejó cartas absurdas
con recomendaciones y sarcasmos estúpidos.
Lo consiguó por fin, y me alegro por ella:
sufría demasiado. En la autopsia el forense
desmenuzó su cuerpo y encontró dentelladas
cerca del corazón y a la altura del pubis.
No hay luz en la buhardilla de Zurbano. El silencio
pasea su victoria sobre las papelinas
ocultas en el libro de Arcimboldo, y la muerte
ha llenado la casa de paz y de goteras;
sigue abierto on tebeo de Conan por la página
en que matan a Bélit, y otro de Gwendoline
con manchas de carmín en las dulces heridas.
Isabel ha dejado de molestar. Sus ojos
ya no arrojan al mar residuos radiactivos.


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    ISABEL

Isabel matou-se. Deixou cartas absurdas
com recomendações e sarcasmos estúpidos.
Por fim, conseguiu-o e alegro-me por ela:
sofria demasiado. Na autópsia o legista
retalhou-lhe o corpo e encontrou dentadas
junto ao coração e na zona do púbis.
Não há luz nas águas-furtadas de Zurbano. O silêncio
passeia a sua vitória sobre as doses
ocultadas no livro de Arcimboldo e a morte
encheu a casa de paz e de goteiras;
continua aberta uma banda desenhada de Conan na página
em que matou Bélit, e outra de Gwendoline
com manchas de carmim nas doces feridas.
Isabel deixou de incomodar. Os seus olhos
já não lançam ao mar resíduos radioactivos.  

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