sábado, 25 de julho de 2020

L UIS ALBERTO DE CUENCA


    CONVERSACIÓN


Cada vez que te hablo, otras palabras
escapan de mi boca, otras palabras.
No son mías. Proceden de otro sítio.
Me muerden en la lengua. Me hacen daño.
Tienen, como las lanzas de los héroes,
doble filo, y los labios se me rompen
a su contacto, y cada vez que surgen
de dentro -o de muy lejos, o de nunca-,
me fluye de la boca un hilo tibio
de sangre que resvala por mi cuerpo.
Cada vez que te hablo, otras palabras
hablan por mí, como si ya no hubiese
nada mío en el mundo, nada mío
en el agotamiento interminable
de amarte y de sentirme desarmado.


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   CONVERSA

Cada vez que falo contigo, outras palavras
escapam da minha boca, outras palavras.
Não são minhas. Procedem de outro sítio.
Mordem-me na língua. Ferem-me.
Têm, como as lanças dos heróis,
fio duplo, e os lábios rompem-se-me
ao seu contacto, e cada vez que surgem
de dentro -ou de muito longe, ou de nunca-,
flui-me da boca um fio tépido
de sangue, que resvala pelo meu corpo.
Cada vez que falo contigo, outras palavras
falam por mim, como se já não houvesse
nada meu no mundo, nada meu
no esgotamento interminável
de amar-te e de sentir-me desarmado.



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