SONETOS
NOTA INTRODUTÓRIA
Giuseppe Gioachino Belli nasceu em Roma, em 1791. Contemporâneo da segunda geração romântica – descobri Belli, através da novela de Anthony Burgess “Abba Abba”, que efabula um encontro fictício, em Roma, de John Keats com Belli.Viveu no estado pontifício quase toda a vida ( em 1798, a família fugiu para o reino das Duas Sicílias, após um primo do seu pai, o general Valentini, ter sido fuzilado por espia pela República jacobina). Trabalhou na Administração do Estado Papal e tem obra escrita em italiano “padrão”, incluindo, além de poesia, uma colecção enciclopédica de anotações e reflexões sobre inúmeros temas, intitulada Zibaldone (Miscelânea).
Contudo, a sua grande obra poética são os sonetos escritos em dialecto romano – 2279, ao todo, produzidos entre o final da década de 1820 e 1849.
Foi deles que tentei traduzir uma amostra. Se o meu domínio de italiano necessita do recurso frequente a dicionário, o dialecto romano, em que os sonetos estão escritos, pôs-me dificuldades, que seriam insuperáveis sem a ajuda das traduções em castelhano (Editorial Hiperión) e inglês (Hogarth Press), além das versões ( de J J Wilson) incluídas, por Burgess, na obra referida.
ER RICORDO
Er giorno che impiccorno Gammardella
io m’ero propio allora acresimato.
Me pare mó, ch’er zantolo a mmercato
me pagò un zartapichio e ‘na sciamella.
Mi padre pijjò ppoi la carretella,
ma pprima vorze gode l’impiccato:
e mme tieneva in arto inarberato
discenno : “Va’ la forca cuant’è bella!”
Tutt’a un tempo ar paziente Mastro Titta
j’apoggio un carcio in culo, e Trata a menne
un schiaffone a la guancia de mandritta.
“Pijja,” me disse, “e aricordete bbene
che sta fine medema sce sta scritta
pr mmill’antri che ssò mmejjo de tene.”
29 settembre 1830
A RECORDAÇÃO
No dia em que enforcaram Gammardella
eu tinha acabado de ser crismado.
Eu e o meu padrinho fomos à feira,
pagou-me uma ventoinha e farturas.
O meu pai alugou uma charrete,
mas antes havia que desfrutar o enforcado:
recomendava-me o espectáculo, dizia “vê como a forca é bela!”
Quando o paciente carrasco
fez saltar o cu do condenado,
chegou as mãos à minha tromba.
“Toma,” disse, “e recorda bem
que este destino está prescrito
para mil outros melhores que tu.”
29 de Setembro 1830
29 de Setembro 1830
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