terça-feira, 27 de dezembro de 2022

 MIGUEL D'ORS


ES LO QUE LLAMAN GLORIA

Desconocidos que te escriben cartas.
En tus versos, confiesan - entre un torpe amasijo
de entusiasmo, inocencia y metáforas ciegas-,
reconocen su vida.

    Muchachos que han quemado unos pedazos
de sus mejores años componiendo,
con la más desapiadada sinceridad, poemas
tuyos (que te parecen tan mediocres
como los tuyos tuyos).

Antologizadores que te ponen,
como ropas extrañas, adjectivos,
etiquetas, propósitos que jamás soñarias.

Amigas de tus hijas que te estudian en Lengua
y que tienen que hacer un comentario
de texto (¿o cementerio?) y te preguntan
sobre las estructuras.

Hispanistas que vienen a enseñarte quién eres.

Y tú siempre dudando -y dudando tus dudas-
si es que ellos no se enteran
de nada, o si tal vez están burlándose
de ti, confabulados
en una broma cósmica (pero este me parece
demasiada crueldad para ser verosímil),
o si acaso -y entonces eres tú
quien no se entera- de tu boca sale
la voz incandescente de algún ángel
-pero esto ya es ponerse demasiado sublime-.

Solo hay dos cosas claras:
que por alguna parte hay un malentendido
y que todo esto embrollo
                                         es lo que llaman Gloria.

                                                          4-XII-1997


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É O QUE SE CHAMA GLÓRIA

Desconhecidos que te escrevem cartas.
Nos teus versos, confessam - entre uma torpe mistura
de entusiasmo, inocência e metáforas cegas -,
reconhecem a sua vida.

    Rapazes que queimaram pedaços
dos seus melhores anos compondo,
com a mais desapiedada sinceridade, poemas
teus (que te parecem tão medíocres 
como os teus teus).

Antologizadores que te põem,
como ropas esquisitas, adjectivos,
etiquetas, propósitos que jamais sonharias.

Amigas das tuas filhas que te estudam na Língua
e têm de fazer um comentário
de texto (ou cemitério?) e te perguntam
sobre as estruturas.

Hispanistas que vêm ensinar-te quem és.

E tu sempre duvidando - e duvidando das dúvidas -
se eles não entendem 
nada ou, se porventura, estão a gozar 
contigo, confabulados
numa piada cósmica (mas tal parece-me
demasiado cruel para ser verosímil),
ou, se por acaso, e então és tu
que não se apercebe -da tua boca sai
a voz incadescente de algum anjo
-mas isto está a pôr-se demasiado sublime-.

Só há duas coisas claras;
que em qualquer parte há um mal-entendido
e que todo este imbróglio
                                          é o que se chama glória.

                                                                        4-XII- 1997

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