quarta-feira, 1 de junho de 2022

WALTER VON DER VOGELWEIDE


Ai! para onde fugiram os meus anos?
Sonhei a minha vida, ou foi verdade? 
O que acreditei que foi, existiu?
Não sei quanto tempo estive adormecido,
agora acordei e desconheço
tudo o que antes conhecia, como a própria mão.
As gentes e as terras onde me criei
parecem-me estranhos, como ilusão.
Aos meus companheiros vejo-os cansados e velhos;
o campo está diferente e o bosque mudado,
apenas a água corre onde corria antes.
Deveria, na verdade, dizer que é grande a desgraça.
Já não me saúda quem antes me conhecia.
O mundo está pejado de hostilidade.
Quando penso em alguns dias felizes,
que passaram por mim como bátega de água!
Cada vez mais, ai!

Ai! como é lamentável a atitude dos jovens!
Os poucos que sinceramente se arrependem,
têm motivo para preocupar-se. Por que agem assim?
Dei a volta ao mundo, ninguém está contente:
bailar, rir, cantar, acabam os cuidados.
Nunca se viu multidão que causasse tanta pena.
Reparem nos penteados das damas;
os cavaleiros usam, orgulhosos, trajes de vilão;
chegam aqui cartas inquietantes de Roma,
que permitem os lamentos e roubam a alegria.
Isso perturba-me o coração (sem cuidado vivíamos),
e tenho de trocar o riso pelo pranto.
Às aves silvestres a nossa tristeza aflige,
qual pode ser o espanto, se desespero?
Que digo, insano, inspirado pela cólera?
Quem segue a alegria aqui, irá perdê-la no céu.
Cada vez mais, ai!

Ai! como nos enganaram com prendas vistosas!
Vejo flutuar amargura em leite de mel.
Por fora o mundo é belo, branco, verde e vermelho
e por dentro a cor é negra, escura como a morte.
Quando, por fim, tenha alcançado consolo,
terá sido por débeis remédios contra grandes calamidades
Pensai bem nisto, cavaleiros, que vos concerne:
levias elmos reluzentes; alguns cotas firmes;
e todos fortes escudos e espadas benzidas.
Quisera Deus que o meu valor fosse vitorioso!
Assim quereria servir ao home necessitado
e não me refiro à terra, nem ao ouro dos senhores,
que eu preferiria louvar coroa eterna,
que o mesnadeiro gostaria de lograr com forte lança.
Quereria fazer expedições pelo mar
e cantar então "Afortunado" e nunca mais "Desgraçado",
nunca mais, Ai!






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