quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

RUSSELL EDSON


THE BLANK BOOK
 
    The book was blank, all the words had fallen out.
   Her husband said, the book is blank.
   His wife said, a funny thing happened yo me in my way to the present moment. I was shaking the book, to get all the typos out, and all of a sudden all all the words and punctuation fell out too. Maybe the whole book was a typo?
   And what did you do with the words? said her husband.
   I made a package and mailed it to a fictitious address, she said.
   But no one lives there. Don't you know, hardly anyone lives in a fictitious address. There's barely enough reality there to provide even a mailing address, he said.
   That's why I sent them there. Words all mixed up can suddenly coalesce into rumours and malicious gossip, she said.
   But don't these blank pages also present a dangerous invitation to rumours and malicious gossip? Who knows what anyone might write  in his absent-mindedness? Who knows what chance might do
with such a a dangerous invitation? he said.
   Perhaps we shall have to send ourselves away to some fictitious address, she said.
   Is it because words keep falling out of our mouths, words that could easily start rumours and malicious gossip ? he said.
   It is because , somehow we keep falling out of ourselves, like detached shadows; shaking as if we could get all the typos out of our lives, she said.
   Well, at least, if this doesn't hurt reality, it does, in fact, give reality a well earned rest.


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O LIVRO EM BRANCO

   O livro estava em branco, toda as palavras tinham caído.
   O marido disse-lhe, o livro está em branco.
   A mulher disse, aconteceu-me uma coisa estranha a caminho do momentonactual. Estava a sacudir o livro, para eliminar todas as gralhas e, de súbito, todas as palavras e a pontuação também caíram.
Talvez todo o livro fosse uma gralha?
   E o que fizeste às palavras? disse o marido.
   Embrulhei-as e mandei-as para um endereço fictício, disse ela.
   Mas ninguém lá vive. Não sabes que é raro alguém viver num endereço fictício. A realidade quase não chega para fornecer um simples endereço postal, disse ele.
   É por isso que as enviei para lá. Palavras todas misturadas podem de repente coalescer em boatos e mexericos maliciosos, disse ela.
   Mas estas páginas em branco não representam também um convite perigoso a boatos e mexericos maliciosos? Quem sabe o que pode alguém distraidamente escrever? Quem sabe o que o acaso pode fazer com um convite tão perigoso? disse ele.
   Talvez tenhamos que nos enviar para um endereço fictício, disse ela.
   Será porque as palavras persistemem sair das nossas bocas, palavras que poderiam facilmente originar boatos e mexericos maliciosos? disse ele.
   É porque, seja como for, nos degradamos, como sombras separadas, tremendo como se conseguíssemos retirar todas as gralhas das nossas vidas, disse ela.
   Bom, pelo menos, se isto não fere a realidade, oferece, de facto, à realidade um repouso bem merecido.
      

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