DURS GRÜNBEIN (Dresden, Alemanha, 1962)
Estas versões de poemas de Durs Grünbein são feitas a partir do inglês - o alemão não consta da lista de línguas que me são acessíveis -, pelo que omito o texto original.
Os livros de onde são retiradas: Ashes for Breakfast, edição bilingue, tradução de Michael Hofmann; Mortal Diamond, tradução de Michael Eskin e Porcelain, tradução de Karen Leeder - estes dois omitem o texto original.
TRILCE, CÉSAR
Havia dias que era tudo o que conseguíamos
dizer, "Pode nunca acontecer" ou
"Algo há-de aparecer...", entediados em
bibliotecas sobre-aquecidas onde, em momentos
antes de ficarem completamente vidrados
os nossos olhares iam à deriva
como anéis de fumo
sob os altos painéis do tecto
de salas de leitura alexandrinas.
A maioria
queria partir (para Nova Iorque
ou outro local): eramos estudantes
com vozes de cana rachada
rodando entusiasticamente
projectos falhados nas nossas cabeças, e alguns
na nossa anarquia melancólica
foram escravizados por novos totens, ídolos
de revoluções acabadas e o
corpo repetidamente acupuncturado da magia.
Se lá estivesse o dia inteiro
(em particular, no inverno)
era bastante barato, só,
entre os curtos intervalos
com as nossas preocupações de posta restante, devedores
de renda, sorvendo o silêncio
dos livros, como gás de nervos
de todas essas bestas suaves (. . .) e, por vezes,
mesmo no clima invariável
de estufa havia uma
surpresa algo vívida
(Trilce, César!)
recordo uma específica
tarde de verão
o crepúsculo rumorejante
estava na sanita a evacuar
quando ouvi respiração
desde outro cubículo e um batimento acelerado
e fiquei alarmado como um enxame
inteiro de varejeiras com o
acto amoroso de dois homens esforçando-se silenciosa
e mutuamente
suando e e alheados como estranhas
criaturas do género centauro numa
fotografia sobre-exposta.
Difícil de esquecer
o alívio com que
de cabelo recentemente penteado,
caras vermelhas e complexões cremosas
eles passaram por mim separadamente e apenas
uma piscadela (uma piscadela
que me atravessou) me assegurou:
tinham travado conhecimento.
Sem comentários:
Enviar um comentário