quarta-feira, 28 de abril de 2021

 W. H. AUDEN


IN MEMORY OF W. B. YEATS
           (d. January 1939)

I

He disappeared in the dead of winter:
The brooks were frozen, the airports almosr deserfed,
And snow disfigured the public statues;
The mercury sank im the mouth of the dying day.
What instruments we have agree
The day of his death was a dark cold day.

Far from his ilness
The wolves ran on through the evergreen forests,
The peasant river was untempted by the fashionable quays;
By mourning tongues
The death of the poet was kept from his poems.

But for him it was his last afternoon as himself,
an afternoon of nurses and rumours;
The provinces of his body revolted,
The squares of his mind were empty,
Silence invaded the suburbs,
The current of his feeling failed; he became his admirers.

How he is scattered among a hundred cities
And wholly given over to unfamiliar affections,
To fins his happiness in another kind of wood
And be punished under a foreign code of conscience.
The words of a dead man
Are modified in the guts of the living.

But in the importance and noise of to-morrow
When the brokers are roaring like beasts in the floor of the Bourse,
And the poor have the sufferings to which they are fairly accostumed,
And each in the cell of himself is almost convinced of his freedom,
A few thousand will think of this day
As one thinks of a day when one did something slightly unusual.
What instruments we have agree
The day of his death was a dark cold day.


II

You were silly like us; your gift survived it all:
The parish of rich women, physical decay,
Yourself. Mad Ireland burst you into poetry..
Now Ireland has her madness and her weather still,
For poetry makes nothing happen: it survives
In the valley of its making where executives
Would never want to tamper, flows on south
From ranches of isolation and the busy griefs,
Raw towns that we believe and die in; it survives,
A way of happening, a mouth.


III

Earth, recieve an honoured guest:
William Yeats is laid to rest.
Let the Irish vessel lie
Emptied of its poetry.

In the nightmare of the dark
All the dogs of Europe bark,
And the living nations wait,
Each sequestered in its hate;

Intellectual disgrace
Stares from every human face,
And themseas of pity lie
Locked and frozen in each eye.

Follow, poet, follow right
To the bottom of the night,
With your unconstraining voice
Still persuade us to rejoice;

With the farming of a verse
Make a vineyard of the curse,
Sing of human unsuccess
In a rapture of distress;

In the deserts of the heart
Let the healing fountain star,
In the prison of his days
Teach the free man how to praise.


                xxxxxxxxxxxxxx


À MEMÓRIA DE W. B. YEATS
      (m. Janeiro 1939)


I

Morreu no rigor do inverno:
Os ribeiros estavam gelados, os aeroportos quase desertos,
A neve desfigurava as estátuas públicas;
O mercúrio afogava-se no estuário do dia agonizante.
Todos os instrumentos que possuímos
Concordam que o dia da sua morte foi escuro e frio.

Longe da sua doença
Os lobos corriam nas florestas verdejantes,
Cais sedutores não tentavam os rios campestres;
A voz das carpideiras
Manteve a morte do poeta afastada dos seus poemas.

Mas, para ele foi a sua última tarde,
Uma tarde de enfermeiros e boatos;
As províncias do seu corpo revoltaram-se,
As praças do seu espírito estavam desertas,
O silêncio invadiu os subúrbios.
A corrente dos seus sentidos estancou; ele tornou-se os seus admiradores.

Agora está espalhado por inúmeras cidades,
Inteiramente oferecido a afectos estranhos,
Para encontrar a sua felicidade noutro bosque 
E ser castigado pela consciência de um código estrangeiro.
As palavras de um morto
Modificam-se nas entranhas dos vivos.

Mas na importância e no barulho de amanhã
Quando, como animais, os corretores berrarem no recinto da Bolsa
E os pobres sofrerem como estão acostumados
E cada um na sua cela se convencer que é livre,
Uns poucos milhares pensarão nesse dia,
Como quem pensa num dia em que fez algo pouco habitual.
Todos os instrumentos que possuímos
Concordam que o dia da sua morte foi escuro e frio.


II

Eras tonto como nós: o teu dom sobreviveu a tudo:
À paróquia de mulheres ricas, à decadência física,
A ti mesmo. Irlanda, a louca, feriu-te para a poesia.
Agora a Irlanda conserva a loucura e o clima,
Pois a poesia não provoca nada: sobrevive
Na planície da sua fábrica, onde gestores
Não quereriam brincar, flui para o sul,
Desde herdades desoladas e dores atarefadas,
Cidades rudes onde acreditamos e morremos; sobrevive,
Uma forma de acontecer, um estuário.


III

Terra, recebe um hóspede ilustre,
A William Yeats permite que repouse.
Que a taça da Irlanda vazia
Fica da sua poesia.

No pesadelo da escuridão
Os cães da Europa ladram
E as nações vivas esperam
No seu ódio encarceradas.

Na face humana estampada
A desgraça intelectual
E oceanos de piedade
Em cada olhar presos e gelados.

Vai poeta, em frente vai
Até ao fundo da noite,
Com a voz que libertaste
Ensina-nos o regozijo.

Com a lavoura de um verso
Da blasfémia faz a vinha,
Canta o humano insucesso
Com um arroubo de mágoa;

Nos desertos do coração
Faz jorrar do bálsamo a fonte,
Na prisão dos seus dias
Ensina o homem livre a louvar.



 

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