segunda-feira, 19 de abril de 2021

 RUSSEL EDSON


A MACHINE

     A man had built a machine.
     ... Which does what? said his father.
     Which goes red with rust when it rains, wouldn't you say so,
father?
     But the machine is something to put a man out of work, said
his father, and work is prayer, so the machine is a damnation.
     But the machine can also be sweethearts, growing cobwebs
between its wheels where little black hands crawl; and soon the
grasses come up between its gears - And its spokes laced with
butterflies...
     I do not like the machine, even if it is friendly, because it
may decide to love my wife and take my bus to work, said the
father.
     No, no, father, it is a flying machine.
     Well, suppose the machine builds a nest on the roof and has
baby machines? Said the father.
     Father, if you would only stare at the machine for a few hours
you would learn to love it, to perhaps devote your very life to it.
     I would not do such a thing, not with your mother
watching, itemizing my betrayals with which to confront me in
bed... Perhaps I would soften towards this humble iron work, for
even now I feel moved to assure it that there is a God, yes even 
for you, dear patient machine. But your mother is watching. Even
my mother is watching. All the women of the household are
watching from the windows, waiting to see what I shall do.
     But father, look at the dew on its wheels, does it not make 
you think of tears?
     Would you break my heart whilst the women watch, half
hoping that I shall weaken? for they are hungry for the victim
that would be a kindness for me to deliver.
     Then bow to the machine, father, be kind to the women as
you are kind to the machine.
     Oh no, dear child, I could not bow to a machine; I am, after 
all, human. Let others open new doors of history...


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UMA MÁQUINA

     Um homem construiu uma máquina.
     ... Que faz o quê? disse o seu pai.
     Que fica vermelha com a ferrugem, se chover, não te parece,
pai?
     Mas uma máquina é o que rouba trabalho a um homem,
disse o pai, e o trabalho é oração, logo a máquina é um pecado.
     Mas a máquina também pode ser amorosa, cultivando teias 
de aranha entre as rodas, onde rastejam pequenas patas negras; e
logo as ervas aparecem entre as engrenagens - E os seus raios
adornados com borboletas...
     Não gosto da máquina, mesmo se é amável, pois pode ainda
decidir amar a minha mulher e apanhar o meu transporte para o
trabalho, disse o pai.
     Não, não, pai, é uma máquina voadora.
     Bom, supõe que a máquina faz ninho no telhado e tem filhos
máquinas? disse o pai.
     Pai, se quisesses olhar para a máquina apenas umas horas irias
aprender a amá-la, talvez até dedicar-lhe a própria vida.
     Eu não faria tal coisa, pelo menos com a tua mãe a ver, 
catalogando as minhas infidelidades para me confrontar com elas
na cama... Talvez eu conseguisse simpatizar com esta humilde obra
de ferro, pois que já me sinto motivado a assegurar-lhe que existe
um Deus, sim, até para ti, querida máquina paciente. Mas a tua 
mãe vigia. Até a minha mãe vigia. Todas as mulheres da casa
observam pelas janelas, esperando para ver o que farei.
     Mas, pai, observa o orvalho nas suas rodas, não te lembra
lágrimas?
     Irás destroçar o meu coração, enquanto as mulheres vigiam,
quase esperando que eu ceda? pois elas anseiam pela vítima que
me seria amável entregar.
     Então curva-te perante a máquina, pai, sê gentil com as 
mulheres, como és gentil com a máquina.
     Oh não, querido filho, não conseguiria curvar-me perante
uma máquina; no fundo, sou humano. Deixa que outros abram
novas portas da história...

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