D. J. ENRIGHT
THE NOODLE-VENDOR'S FLUTE
In a real city, from a real house,
At midnight by the ticking clocks,
In winter by the crackling roads:.
Hearing the noodle-vendor's flute,
Two single fragile falling notes...
But what can this small sing-song say,
Under the noise of war?
The flute itself a counterfeit
(Siberian wind can freeze the lips),
Merely a rubber ball and metal horn
(Hard to ride a cycle, watch for manholes
And late drunks, and play a flute together).
Just squeeze between gloved fingers,
And the note of mild hope sounds:
Release, the indrawn sigh of mild despair...
A poignant signal, like the cooee
Of some diffident soul locked out,
Less than appropriate to cooling macaroni.
Two wooden boxes slung across the wheel,
A rider in his middle age, trundling
This gross contraption on a dismal road,
Red eyes and nose and breathless rubber horn.
Yet still the pathos of that double tune
Defies its provenance, and can warm
The bitter night.
Sleepless, we turn and sleep.
Or sickness dwindles to some local limb.
Bought love for one long moment gives itself.
Or there a witch assures a frightened child
She bears no personal grudge.
And I, like other listeners,
See my stupid sadness as a common thing.
And being common,
Therefore something rare indeed.
The puffing vendor, surer than a trumpet,
Tells us we are not alone.
Each night that same midnight tune
Squeezed from a bogus flute,
Under the noise of war, after war's noise,
It mourns the fallen, every night,
It celebrates survival -
In real cities, real houses, real time.
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A FLAUTA DO VENDEDOR DE FITAS
Numa cidade real, desde uma casa real,
À meia-noite pelo tiquetaque dos relógios,
No inverno pelas estradas crepitantes:
Ouvindo a flauta do vendedor de fitas,
Ouvindo a flauta do vendedor de fitas,
Duas únicas, frágeis, notas descendentes...
Mas que pode esta mínima cantilena dizer,
Debaixo do ruído da guerra?
A própria flauta é uma contrafação
(O vento siberiano pode gelar os lábio),
Apenas um bolbo de borracha e corneta de metal
È difícil guiar uma bicicleta, ter cuidado com buracos
E bêbedos tardios e, ao mesmo tempo, tocar uma flauta).
Basta apertar entre dedos enluvados
E a nota de ligeira esperança soa:
Liberta o suspiro aspirativo de ligeiro desespero...
Um sinal pungente, como o gemido
De alguma tímida alma desesperada,
Quase desapropriada para macarrão que arrefece.
Duas caixas de madeira suspensas sobre a roda,
Um ciclista de meia idade fazendo rodar
Esta rude geringonça numa estrada sombria,
De olhos e nariz vermelhos e buzina de borracha sem fôlego.
Ainda assim o patético dessa dupla melodia
Desafia a sua proveniência e consegue aquecer
A noite amarga.
Insones, viramo-nos e adormecemos.
Ou a maleita encurta para um membro próximo.
Amor venal por um longo momento oferece-se.
Ou então uma bruxa assegura uma criança assustada
Que não tem rancor pessoal.
E eu, como outros ouvintes,
Entendo a minha tristeza estúpida como coisa vulgar.
E sendo vulgar,
Desde logo seguramente invulgar.
O vendedor ofegante, mais rigoroso que uma trompa,
Diz-nos que não estamos sós.
Todas as noites essa frágil melodia da meia-noite
Espremida de uma flauta falsa,
Debaixo do ruído da guerra, depois do ruído da guerra,
Chora os caídos, todas as noites,
Celebra a sobrevivência -
Em cidades reais, casas reais, tempo real.
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