MARCABRÚ
(...1130- 1149...)
Dirai vos senes doptansa
d’aquets vers la comezansa
li mot fan de ver semblansa
escoutatz!
qui ves proeza balansa
semblansa fai de malvatz.
Jovens falh e franh e briza
et amors es d’aital guiza
de totz cessals a ces priza
escoutatz!
chascus en pren sa deviza
ja pos no-n sera cuitatz.
Amor vai com la beluja
que coa-lh foc en la suja
art lo fust e la festuja
ecoutatz!
e non sap vas qual part fuja
cel qui del foce s gastatz.
Dirai vos d’amor com sinha
de sai garda de lai guinha
sai baiza de lai rechinha
escoutatz!
plus sera drecha que linha
quant eu serai sos privatz.
Amors soli’esser drecha
mas er’es torta e brecha
et a colhida tal decha
escoutataz!
lai on non pot mordre lecha
plus aspramens no fai chatz,
Greu sera mais amors vera
por del mel triet la cera
ans sap si pelar la pera
escoutatz!
doussa-us er com chans de lera
si sol la coa-lh troncatz.
Ab diables pren barata
qui fals’amor acoata
no-il cal qu’autra verga-lh bata
escoutatz!
que tot nesci del plus savi
non fassa si-lh ten al latz.
Amors a uzatge d’ega
que tot jorn vol qu’om la sega
e ditz que non-lh dará trega
escoutatz!
mas poia de leg’en lega
sia dejens o disnatz.
Cujatz vos qu’eu non conosca
d’amor s’es orba o losca?
sos digz aplan’et entosca
escoutatz!
plus suau ponh qu’una mosca
mas plus greu n’es com sanatz.
Qui per sen de femna renha
dregz es que mals li-n avenha
si com la letra-ns ensenha
escoutatz!
malaventura-us en venha
si tutz no vos en gardatz!
Marcabrus filhs Marcabruna
fo engenratz en tal luna
qu’el sap d’amor com degruna
escoutatz!
doussa-us er com chans de lera
si sol coa-lh troncatz.
Dir-vos-ei sem dúvida
o começo deste poema,
as palavras querem ter semelhança,
escutai!
quem da proeza duvida
semelhança tem de malvado.
A juventude falha e quebra e parte-se
e o amor é de tal guisa
que o censo tirou ao censitário
escutai!
todos têm a sua parte
e nenhum estará quite.
O amor é como faúlha
que, ao dormitar sob a fuligem,
queima a madeira e a palha
escutai!
não sabe para onde fugir
aquele que o fogo acossa.
Dir-vos-ei do amor como acena,
para aqui espreita, além suspeita,
aqui beija, acolá resmunga
escutai!
será mais direito que linha
se me tiver como criado.
O amor costumava ser direito,
mas hoje é torto e embotado
e acostumou-se a tal dita
escutai!
onde não pode morder
lambe mais asperamente que gato.
Nunca mais será amor verdadeiro,
desde que do mel tirou a cera,
antes sabe descascar a pera
escutai!
seria doce como canto de lira,
se a cauda lhe cortassem.
Trafica com o diabo
quem falso amor aceita,
nem precisa que outra verga lhe bata
escutai!
que torna néscio o mais sábio,
se o tem entre os seus laços.
O amor é como égua,
que quer sempre que a sigam
e diz que não dará trégua
escutai!
arrasta-vos légua após légua,
seja em jejum ou jantado.
Cuidais que eu não saiba
se o amor é cego ou vesgo?
os seus ditos aplaina e afina
escutai!
pica mais suavemente que mosca,
mas mais difícil é a cura.
Quem se rege pelo senso de mulheres
é justo que mal lhe venha,
tal como ensina a escritura
escutai!
só terá má ventura
quem disso não se precate.
Marcabru, filho de Marcabruna,
foi engendrado sob tal lua,
que sabe como amor se debulha
escutai!
ele nunca amou nenhuma
e de nenhuma foi amado.
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